Nova fase da Lava Jato apura propina disfarçada de doação
A Polícia Federal saiu às ruas na manhã desta quarta-feira para cumprir seis mandados de prisão e diversas ordens de busca e apreensão em 15 cidades como parte de uma nova fase da operação Lava Jato, desta vez em investigação de pagamento de propinas travestidas de doações eleitorais por um grupo empresarial que teria agido em parceria com a Odebrecht, informou a PF.
Como de praxe, a PF não revelou de imediato o nome do grupo empresarial investigado na operação, mas indicou tratar-se do Grupo Petrópolis. Segundo comunicado da polícia, o nome da operação, Rock City, é a tradução para inglês de cidade de pedra, "significado em português das palavras gregas que remetem ao grupo investigado".
Investigações da PF e do Ministério Público Federal apontaram para o pagamento de propinas travestidas de doações de campanha eleitoral realizada por empresas do grupo investigado, que também teria auxiliado a Odebrecht a pagar valores ilícitos de forma oculta, através da troca de reais no Brasil por dólares em contas no exterior, segundo a polícia.
"A suspeita é que offshores relacionadas ao Grupo Odebrecht realizavam --no exterior-- transferências de valores para offshores do grupo investigado, o qual disponibilizava dinheiro em espécie no Brasil para realização de doações eleitorais", afirmou a PF em comunicado.
"O esquema desenvolvido com o grupo investigado é uma das engrenagens do aparato montado pela Odebrecht para movimentar valores ilícitos destinados sobretudo para pagar propina a funcionários públicos da Petrobras e da administração pública brasileira e estrangeira", acrescentou.
De acordo com a PF, um executivo da Odebrecht disse em delação premiada que o grupo investigado na nova fase da Lava Jato foi utilizado para realizar doações de campanha de outubro de 2008 a junho de 2014, o que resultou em dívida de 120 milhões de reais não contabilizada pela Odebrecht com o grupo. Em contrapartida, a Odebrecht investia em negócios do grupo investigado.
A investigação também visa apurar suspeita de lavagem de dinheiro por parte de um dos executivos do grupo investigado que regularizou em 2017, mediante declaração falsa no programa de repatriação fiscal, mais de 1,3 bilhão de reais que estavam no exterior, acrescentou a PF.
"Há indícios de que essa regularização tenha sido irregular, em razão da suspeita de que os valores seriam provenientes da prática de caixa dois na empresa, com origem em um sofisticado esquema de sonegação tributária que contava com a burla de medidores de produção de cerveja, a qual era então vendida diretamente a pequenos comerciantes em espécie, sendo os valores então entregues a couriers da Odebrecht", afirmou.
Procurado, o Grupo Petrópolis não respondeu de imediato a um pedido de comentário sobre a nova fase da operação Lava Jato.
A Odebrecht também não respondeu de imediato a um pedido de posicionamento. A empresa afirma que "tem colaborado de forma eficaz com as autoridade", sempre que citada em investigações realizadas com base em delações de seus executivos e ex-executivos.
Além dos seis mandados de prisão, a Justiça Federal do Paraná também emitiu 33 mandados de busca e apreensão a serem cumpridos nos municípios de Boituva, Fernandópolis, Itu, Vinhedo, Piracicaba, Jacareí, Porto Feliz, Santa Fé do Sul, Santana do Parnaíba e São Paulo, todos em SP; Cuiabá; Cassilândia (MS); Petrópolis e Duque de Caxias (RJ); e Belo Horizonte.
Também foi determinada ordem judicial de bloqueio de ativos financeiros dos investigados.