Acusado de matar juíza diz que foi oferecido como 'tábua de salvação'
Acusado de ser o mentor do assassinato da juíza Patrícia Acioli, morta em 11 de agosto de 2011, o tenente-coronel da Polícia Militar do Rio de Janeiro Claudio Luiz Silva Oliveira disse que um policial o acusou de ordenar o homicídio porque acreditou que, fazendo isto, se salvaria.
Ele negou ter ameaçado policiais condenados pela morte da magistrada, em interrogatório durante julgamento no 3º Tribunal do Júri de Niterói na noite desta quinta-feira. Para o tenente-coronel, Jefferson Miranda o acusou de ordenar a morte da juíza pois foi dito a ele que só se ele incluísse o comandante do 7º Batalhão no crime é que teria direito de receber o benefício da delação premiada. "Ofereceram isso a ele como tábua de salvação. E ele abraçou. Ele preferiu se salvar", disse o réu.
O tenente-coronel disse também que não sabia de propinas que seriam cobradas por policiais do 7º Batalhão da PM (São Gonçalo), que ele comandava quando Patrícia foi morta. Oliveira negou, ainda, que recebesse propinas e que tenha sido favorável à ideia de matar um policial civil, sugerida pelo policial militar Daniel Benitez Lopes, que seria o seu braço direito no batalhão.
A magistrada Patrícia Acioli atuava em vários processos em que policiais do 7º Batalhão da PM eram acusados de extorsões e execuções, “diqfarçando” mortes de civis registrando elas como autos de resistência (em que pessoas morrem em confronto com a polícia). Policiais subordinados ao tenente-coronel Claudio Oliveira foram inclusive presos por ordem de Patrícia.
Durante o processo, Jefferson de Araújo Miranda, um dos PMs condenados pelo assassinato da juíza, explicou, durante depmimento pelo qual recebeu o benefício da delação premiada, que ouviu de outro PM condenado, Daniel dos Santos Benitez Lopes, a maneira como o tenente-coronel Claudio Luiz Silva Oliveira teria tratado da morte da magistrada. Lopes teria sugerido a morte de um inspetor da Polícia Civil ao tenente-coronel Claudio Oliveira, que teria concordado com a ideia dizendo “covardia se paga com covardia”. Em seguida, Lopes teria questionado ao tenente-coronel: "essa ordem se estende à Patrícia?". E, segundo o delegado, o tenente-coronel Claudio Oliveira afirmou a Lopes: "Aí você estaria me fazendo um favor". Jefferson Miranda afirmou à polícia que, como Lopes não conseguiu contratar milicianos para matar a juíza, ele combinou com policiais do 7º Batalhão que eles próprios cometeriam o assassinato.
Durante o processo, Jefferson Miranda também disse que dias após ele e vários policiais do 7º Batalhão terem sido presos, o tenente-coronel Claudio Oliveira os visitou na cadeia. Na ocasião, o tenente-coronel Claudio Oliveira teria dito que ia ajuda-los a conseguir um advogado e que eles estavam presos não pela morte de Patrícia, mas por autos de resistência suspeitos.
Mais tarde, Jefferson Miranda voltou atrás em seu depoimento e nesta quinta-feira reafirmou que foi pressionado a confessar e delatar os colegas policiais. No entanto, o policial civil Fernando Resende disse nesta quinta-feira que Jefferson Miranda contou a ele que voltou atrás no seu depoimento por ordem do tenente-coronel Claudio Oliveira e por que a delação premiada não ia resolver os seus problemas, já que ele já respondia por muitos autos de resistência suspeitos. Fernando Resende afirmou que ouviu a declaração de Jefferson quando fazia a escolta dele, para audiências em que o PM era réu.
Claudio Oliveira disse que nunca nenhuma testemunha ouviu ele falar sobre a ideia de matar um policial civil. "As testemunhas são de 'ouvi dizer'", afirmou Oliveira.
Questionado sobre ameaças a outros policiais da sua unidade, o tenente-coronel Claudio Oliveira disse que sequer sabia onde os policiais do 7º Batalhão moravam. E afirmou que puniu vários policiais por irregularidades. “Não tinha conhecimento de propinas, não compactuava com isso. Eu puni vários policiais do 7º Batalhão em razão de desvios de conduta", afirmou.
O tenente-coronel disse que o relacionamento que tinha com Patrícia Acioli “sempre buscou os limites do profissionalismo”. “Quando ela tinha algum problema, ela me ligava e eu da mesma forma”, disse.
Ele negou ter oferecido ajuda jurídica a policiais de seu batalhão presos por autos de resistência irregulares. “Não estou podendo pagar nem o meu advogado, quanto mais o dos outros”, afirmou Oliveira.
O julgamento do tenente-coronel Claudio Oliveira começou às 9h15 desta quinta-feira. Foram ouvidas seis testemunhas de acusação e três de defesa. Depois do interrogatório do réu, promotor e advogado de defesa devem fazer suas considerações e, após isso, os jurado se reunião para decidir sobre o caso. A expectativa é que o resultado seja divulgado na madrugada de sexta.