Audiência do caso Amarildo é retomada nesta quarta-feira
No mês passado, das 19 testemunhas de acusação convocadas para depor, apenas três foram ouvidas no caso do desaparecimento do auxiliar de pedreiro Amarildo de Souza
Será retomada a partir das 13h desta quarta-feira, na 35ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, a audiência de instrução e julgamento do caso envolvendo a tortura e desaparecimento do auxiliar de pedreiro Amarildo de Souza, em julho do ano passado, na favela da Rocinha.
Vinte e cinco policiais que atuavam na Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da maior comunidade do País, incluindo o comandante da unidade na ocasião, o major Edson Santos, voltarão a sentar no banco do réus para responder pelas acusações de tortura, ocultação de cadáver, fraude processual, omissão imprópria e formação de quadrilha. Somadas, as penas podem chegar a 33 anos de reclusão, dependendo do envolvimento de cada um no caso.
A primeira testemunha a ser ouvida no julgamento, iniciado no mês passado, foi o delegado titular da Delegacia de Homicídios, Rivaldo Barbosa, que comandou a investigação. Segundo ele, a princípio o inquérito apontava que Amarildo foi morto por um traficante, mas depois o caso mudou de figura. "A ação dos policiais foi manobra ardilosa para imputar a terceiros a tortura contra Amarildo", afirmou Rivaldo.
O delegado disse ainda que os depoimentos eram incongruentes, pois todos tinham a mesma versão. Segundo ele, a polícia percebeu que o major Edson Santos, comandante da UPP na época, pressionava os PMs a fazer isso.
A Polícia Civil, segundo Rivaldo, precisou recorrer à Corregedoria da Polícia Militar para colher os depoimentos dos PMs, já que o major demorava muito a liberar os policiais para ir a delegacia. Segundo ele, era perceptível o medo que os policiais tinham de falar e a polícia descobriu que Amarildo havia sido torturado através de conversas informais.
A segunda testemunha de acusação a ser ouvida na ocasião foi a delegada assistente da Delegacia de Homicídios, Ellen Souto, que sustentou a versão de que os policiais da UPP da Rocinha envolvidos no caso compraram fraldas, deram dinheiro e chegaram até a prometer casas para que os moradores da comunidade sustentassem a versão de que Amarildo teria sido morto por traficantes que atuam na favela.
Por fim, também foi ouvido o policial civil Rafael Rangel, que deu detalhes técnicos acerca do trabalho de perícia realizado pela corporação na investigação do sumiço de Amarildo. Está prevista também o depoimento da viúva do auxiliar de pedreiro, Elizabeth Gomes da Silva - que na primeira audiência ficou frente a frente com os policiais pela primeira vez desde o desaparecimento do marido.
O ajudante de pedreiro desapareceu após ser levado por policiais militares para a sede da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) entre os dias 13 e 14 de julho. O caso ganhou bastante repercussão, pois coincidiu com o período de eclosão das manifestações de rua em todo o País e, em especial, no Rio de Janeiro.
De acordo com a denúncia apresentada pelo Ministério Público (MP), o tenente Luiz Medeiros, o sargento Reinaldo Gonçalves e os soldados Anderson Maia e Douglas Roberto Vital teriam torturado Amarildo depois de ele ter sido levado para a base da UPP.
Ainda de acordo com o MP, outros policiais militares são suspeitos de participar ativamente da ação, vigiando do lado de fora da base ou sendo omissos por não terem impedido os atos de tortura contra Amarildo.
Antes de entrar na sala do julgamento, Beth, que foi ao Tribunal acompanhada do filho Anderson, disse que já não tem mais esperança de encontrar o marido vivo, mas que gostaria ao menos que os policiais revelassem onde está o corpo para poder enterrar o marido. "A gente fica nessa esperança", afirmou.
O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) preferiu não divulgar o nome da juíza responsável pelo caso. Serão ouvidas ainda outras 20 testemunhas de defesa. Não há previsão para o fim do julgamento.