Badan Palhares rebate 3ª perícia e reitera que Suzana matou PC
Perito disse não ter nenhuma dúvida de que namorada de PC Farias matou o empresário e depois cometeu suicídio
Ponto alto do terceiro dia do julgamento do caso PC Farias, o perito Badan Palhares prestou depoimento por cerca de três horas e meia na noite desta quarta-feira na 8ª Vara Criminal de Maceió (AL). Responsável pelo relatório que apontou que o empresário Paulo César Farias foi assassinado pela namorada, Suzana Marcolino, e que ela cometeu suicídio posteriormente, Palhares fez uma longa apresentação das provas que levaram sua equipe a esta conclusão e rebateu os argumentos apresentados pela perícia posterior, encomendada pelo Ministério Público, que contestava o seu trabalho.
"A cena do crime comprova ser homicídio seguido de suicídio", afirmou o médico-legista. Palhares integrou uma equipe de 11 peritos da Unicamp que realizou, a pedido da Polícia Federal (PF), estudos complementares à perícia inicial feita pelos investigadores alagoanos. Após os laudos apontarem para a ocorrência de um crime passional, o Ministério Público solicitou a realização de uma terceira perícia, apontando supostos erros na coleta de provas. Na época, Palhares foi acusado de ter recebido US$ 400 mil do irmão de PC, Augusto Farias, para forjar as provas de forma a encobrir um possível crime político. Posteriormente, porém, o inquérito contra o perito foi arquivado por falta de provas.
Segundo Palhares, apesar de não contarem com todos os equipamentos indicados, os peritos alagoanos responsáveis pelos primeiros exames da cena do crime fizeram um trabalho "extremamente confiável". Os peritos da Unicamp verificaram que PC Farias foi atingido por um projétil na região da axila, que ficou alojado dentro do corpo, e que teria sido disparado à distância. Já Suzana foi atingida à queima-roupa no peito, por um projétil que atravessou o seu corpo e a parede do quarto, rebatendo em uma cadeira localizada no cômodo vizinho. "Na marca da parede comprovou-se que ficaram restos de sangue e tecidos de Suzana, prova irrefutável de que aquele projétil tinha atravessado seu corpo", afirmou.
O perito afirmou ainda que a posição em que foram encontrados os corpos das vítimas indica que PC dormia quando foi morto, e que Suzana agonizou após disparar contra o próprio peito. Ainda segundo o perito, não há qualquer indicativo de luta corporal no quarto. "O lençol sobre a cama não tem nenhum sinal de ter ocorrido qualquer tipo de briga ou violência que pudesse mostrar ele em desalinho. Está perfeitamente colocado sobre o colchão", disse Palhares.
Além disso, exames feitos posteriormente apontaram a presença de 150 mililitros de urina na bexiga de PC Farias, o que indicaria, segundo Palhares, que ele foi morto cerca de três horas após a última vez que foi ao banheiro. A bexiga de Suzana, porém, estava vazia. Conforme o perito, isso se explica pelo fato de ela ter feito uma série de ligações na madrugada do dia 23 de junho de 1996, nas horas anteriores à morte do casal, feitas de dentro do banheiro, entre 3h56 e 4h58. Os telefonemas eram dirigidos ao dentista Fernando Coleone, com quem ela havia tido um relacionamento em São Paulo. O dentista não atendeu às chamadas, mas Suzana deixou recados em sua caixa de mensagens. Em uma delas, é possível ouvir a voz de um homem e uma batida na porta, o que, segundo Palhares, seria PC Farias chamando Suzana para dormir. Na última mensagem, Suzana faz declarações de amor e indica, na opinião do perito, uma predisposição ao suicídio.
"Sou eu novamente. Eu queria dizer que foi tão pouco tempo, um dia só, um momento que eu lhe conheci... mas eu amo você, eu nunca vou esquecer você. Espero um dia encontrar você, nem que seja na eternidade, em algum lugar deste mundo ou do outro", afirma Suzana na gravação apresentada por Palhares.
Perito rebate críticas
Um dos principais pontos da perícia coordenada por Palhares contestada pelo Ministério Público diz respeito à posição em que a arma do crime foi encontrada, afastada do corpo de Suzana. Em seu depoimento, Palhares negou que esse deslocamento, aliado à ausência de sangue na arma, indicasse que ela tivesse sido "plantada" no local por uma terceira pessoa.
Durante sua apresentação, Palhares afirmou que estudos feitos em computação 3D apontaram que a arma foi projetada 36 centímetros para frente e 4,1 centímetros para o lado do local do disparo contra o peito de Suzana. Esse deslocamento, segundo o perito, é explicado pelo fato de Suzana estar sentada na cama no momento do disparo, tendo rolado à direita posteriormente e a arma, deslizado por seu corpo. "Fica evidente que o deslocamento da arma foi mínimo", disse.
Segundo a perícia coordenada por Palhares, Suzana apontou a arma contra o próprio peito e acionou o gatilho com o polegar direito, usando a mão esquerda para ajudar a empurrá-lo. Sobre a ausência de sangue na arma, mesmo tendo sido disparada à queima-roupa, o perito explicou que "do disparo até o refluxo de sangue há uma temporalidade". "A caixa torácica é constituída por uma pressão negativa. Toda vez que há a perfuração, o ar tenta entrar para compensar essa pressão negativa. Antes de sangrar, é preciso entrar ar", afirmou. Assim, de acordo com o perito, quando o sangue começou a sair pela perfuração, a arma já se encontrava a pelo menos 20 centímetros de distância.
Também pesou na conclusão pelo crime passional o fato de os peritos terem encontrado vestígios de pólvora nas mãos de Suzana. Palhares minimizou a impossibilidade de identificação de impressões digitais no revólver. "A arma apresentava fragmentos de impressões digitais, mas não eram suficientes para que se pudesse fazer o real levantamento de quem houvera manuseado aquela arma. Ela já tinha sido manuseada 'N' vezes, a superposição de impressões também dificulta o trabalho do perito", justificou.
Outro ponto contestado pelo MP é a ausência da altura de Suzana no relatório da perícia da Unicamp. Segundo peritos, um erro na medição poderia alterar significativamente a trajetória dos disparos, invalidando a hipótese de suicídio. Palhares admitiu que a não inclusão desta informação na perícia foi um "lapso" de sua equipe, mas garantiu que essa informação foi levada em conta nos trabalhos. "Antes da exumação, já tínhamos a informação pelos médicos legistas alagoanos de que ela tinha 1,67 metro. Porém, é importante frisar, o importante é determinar a altura dela sentada", afirmou.
A terceira perícia simulou os disparos com uma "dublê" de Suzana, que tinha a mesma altura da namorada de PC Farias, e apontou inconsistência na trajetória do disparo apontado por Palhares. "Nunca podemos comparar uma pessoa a outra em absolutamente nada, principalmente no que diz respeito à altura", rebateu o médico-legista, ressaltando que uma pessoa mais alta que a outra de pé, pode ser mais baixa quando sentada, em razão de diferenças de tamanho do tórax e das pernas.
O caso
Os policiais militares Adeildo Costa dos Santos, Reinaldo Correia de Lima Filho, Josemar Faustino dos Santos e José Geraldo da Silva trabalhavam como seguranças de PC Farias e são acusados de homicídio qualificado por omissão. Paulo César Farias e Suzana Marcolino foram assassinados na madrugada do dia 23 de junho de 1996, em uma casa de praia em Guaxuma. À época, o empresário respondia a vários processos e estava em liberdade condicional. Ele era acusado dos crimes de sonegação de impostos, falsidade ideológica e enriquecimento ilícito. A morte de PC Farias chegou a ser investigada como queima de arquivo, já que a polícia suspeitou que o ex-tesoureiro poderia revelar nomes de outras pessoas que teriam participação nos mesmos ilícitos.
Entretanto, a primeira versão do caso, que foi apresentada pelo delegado Cícero Torres e pelo legista Badan Palhares, apontou para crime passional. Suzana teria assassinado o namorado e, na sequência, tirado a própria vida. A versão foi contestada pelo médico George Sanguinetti, que descartou tal possibilidade e, mais tarde, novamente questionada por uma equipe de peritos convocados para atuar no caso. Os profissionais forneceram à polícia um contralaudo que comprovaria a impossibilidade, de acordo com a posição dos projéteis, da tese de homicídio seguido de suicídio.