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Polícia

Bairro que homenageia filho de Sarney no MA sofre com esgoto e violência

Vila Sarney Filho, na periferia da Grande São Luís, foi cenário do ataque a ônibus que matou uma menina de seis anos no começo do mês

15 jan 2014 - 11h38
(atualizado às 11h56)
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Bairro que homenageia filho do senador e ex-presidente José Sarney não tem saneamento e tem asfalto precário
Bairro que homenageia filho do senador e ex-presidente José Sarney não tem saneamento e tem asfalto precário
Foto: Janaina Garcia / Terra

O bairro leva o nome da família mais tradicional do Maranhão. Desde o dia 3 de janeiro, no entanto, os moradores da Vila Sarney Filho, em São José de Ribamar, na Grande São Luís, viram a região ganhar destaque no noticiário nacional pela onda de violência comandada por facções criminosas infiltradas no Complexo Penitenciário de Pedrinhas, na capital maranhense.

Em entrevista ao Terra, no entanto, pessoas que moram há décadas em Sarney Filho disseram que a rotina de violência no bairro não é recente – ainda que mudanças de hábitos nos últimos dias, sim, tenham sido percebidas por elas.

No dia 3, uma sexta-feira, era perto de 19h30 quando criminosos atearam fogo em um ônibus que passava pela Rua Oito, uma das principais do bairro. Atingida em 95% do corpo, a pequena Ana Clara de Sousa, 6 anos, não resistiu e morreu dias depois. O bisavô Dasico Rodrigues, 80, não resistiu ao impacto da morte da menina e também morreu, vítima de um ataque cardíaco. A irmã Lorrane, de um ano e sete meses, e a mãe, Juliane Carvalho Santos, 22, estão internadas.

“A gente tem um sentimento de revolta, mas, no fundo, no fundo, fica mesmo é apreensivo de estar aqui, porque o medo da violência é muito grande”, disse a desempregada Andréa Jeane Castro, 34, tia de Lorrane, que deve ter alta de um hospital em São Luís nesta quarta-feira. "Pensei muito na minha filha quando isso aconteceu", relatou, ela que é mãe de uma menina um mês mais nova que Lorrane.

A aposentada Maria da Assunção, 62 anos, diz que, se pudesse, mudava da Vila Sarney Filho em função da falta de segurança
A aposentada Maria da Assunção, 62 anos, diz que, se pudesse, mudava da Vila Sarney Filho em função da falta de segurança
Foto: Janaina Garcia / Terra

"Se eu pudesse, mudaria daqui"

Para a pensionista Maria da Assunção, 62, o ataque ao ônibus realçou a sensação de insegurança pela qual o bairro já vinha passando.

“Se eu pudesse, mudaria daqui. Fiquei com medo desde que atacaram aquele ônibus a ponto de não usar mais o transporte – antes ia ver meu filho, que mora fora do bairro, não vou mais”, relatou dona Maria. “Essa vila ficou uma coisa horrível, filha. Estou aqui há 32 anos e nunca me senti tão apavorada como agora. Piorou demais, não temos segurança, nada”, desabafou.

O casal José de Castro Sampaio, 63, garçom, e Maria Raimunda Lopes Sampaio, 63, dona de casa, disseram que o bairro viveu momentos de terror no dia em que criminosos atearam fogo no ônibus.

“Fiquei escondida aqui em casa, tremendo. Até de sentar na porta, aqui, na frente do portão, a gente tem medo: fica um pouquinho e, quando vê que os vizinhos estão entrando, entra também. Aquela mãe (da menina Ana Clara, Juliane) teve muita coragem e força”, definiu a dona de casa. “Já eu não posso parar de andar de ônibus, apesar do receio que ficou. Não tenho carro, é o único jeito de eu ir para o trabalho”, completou o marido.

O casal José de Castro Sampaio, 63 anos, e Maria Raimunda Sampaio, 63, diz que ataque a ônibus mudou rotina dos vizinhos
O casal José de Castro Sampaio, 63 anos, e Maria Raimunda Sampaio, 63, diz que ataque a ônibus mudou rotina dos vizinhos
Foto: Janaina Garcia / Terra

Bairro homenageia deputado e não tem rede de esgoto

A falta de segurança relatada pelos moradores à reportagem tem outras marcas no bairro: nas lojas de uma, duas ou três portas, é difícil encontrar algum estabelecimento desprovido de grades de aço usados como reforço da proteção.

Se por um lado homenageia o deputado federal e filho do senador e ex-presidente da República José Sarney, por outro, a Vila Sarney Filho não oferece um panorama dos mais agradáveis aos sentidos: além das queixas pela violência, andar pelas ruas requer estômago firme diante do forte cheiro de esgoto que emana das fossas – o bairro não tem saneamento básico, se queixaram os entrevistados -, além de atenção os diversos buracos abertos no asfalto ralo e com mato viçoso.

Violência no Maranhão

O Estado do Maranhão enfrenta uma crise dentro e fora do sistema carcerário que tem como principal foco o Complexo Penitenciário de Pedrinhas. Segundo o Conselho Nacional de Justiça, 59 detentos foram mortos no presídio somente em 2013, o que revelou uma falta de controle no local.

No dia 3 de janeiro, uma onda de ataques a ônibus em São Luís mobilizou a Polícia Militar nas ruas da capital maranhense e dentro do presídio, já que as investigações apontam que as ordens dos atentados partiram de Pedrinhas.

Nos ataques do dia 3, quatro ônibus foram incendiados e cinco pessoas ficaram feridas, incluindo a menina Ana Clara Santos Sousa, 6 anos, que morreu no hospital alguns dias depois, com 95% do corpo queimado.

A questão dos problemas no sistema prisional maranhense ganhou mais destaque no dia 7 de janeiro, quando o jornal Folha de S. Paulo divulgou um vídeo gravado em dezembro, onde presos celebram as mortes de rivais dentro do complexos. Após essas imagem de presos decapitados serem divulgadas, o governo Roseana Sarney passou a ser pressionado pela Organização das Nações Unidas, pela Anistia Internacional, pelo CNJ e até pela Presidência da República.

No dia 10 de janeiro, a presidente Dilma Rousseff divulgou pelo Twitter que “acompanha com atenção” a questão de segurança no Maranhão. O Governo Federal passou a oferecer vagas em presídios federais, ao mesmo tempo em que a Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) visitou o complexo de Pedrinhas.

No dia 14 de janeiro, um grupo de advogados militantes na defesa dos direitos humanos protocolou na Assembleia Legislativa do Maranhão um pedido de impeachment contra a governadora Roseana Sarney. Segundo o grupo, composto por nove advogados de São Paulo e três do Maranhão, a governadora incorreu em crime de responsabilidade porque não teria tomado providências capazes de impedir a onda de violência que deixou mortos e feridos dentro e fora do Complexo Penitenciário de Pedrinhas, desde o início do ano.

Fonte: Terra
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