Bitcoins, fintechs e igrejas: saiba as estratégias do PCC para lavar dinheiro
Maior organização criminosa do País tem diversificado as estratégias para ocultar lucros provenientes do tráfico internacional de drogas
O Primeiro Comando da Capital (PCC), considerada a maior organização criminosa do País, tem diversificado suas estratégias de lavagem de dinheiro para ocultar os lucros provenientes do tráfico internacional de drogas e evitar a fiscalização policial. As táticas incluem o uso de igrejas de fachada e a criação de contas em bancos digitais. Estima-se que a facção obtenha um lucro anual de US$ 1 bilhão (aproximadamente R$ 5 bilhões), expandindo suas operações para além das fronteiras nacionais, conforme informações do jornal O Estado de S. Paulo.
De acordo com autoridades policiais, o aumento do tráfico de cocaína tem gerado uma crescente demanda não apenas para o PCC, mas também para outras organizações criminosas, de aprimorar suas técnicas de lavagem de dinheiro e evitar a detecção por parte dos investigadores, buscando aliviar a pressão decorrente das estratégias já conhecidas.
“Seguir o caminho do dinheiro”, afirmam promotores e delegados, tem se tornado algo cada vez mais complexo. “Antes, o PCC mandava 100 kg, 200 kg, 300 kg, para outros países, muitas vezes em uma bolsa em um container. Hoje são de 4 a 5 toneladas por mês.Mas estima-se que o tráfico ligado a nomes do PCC é muito maior", disse o promotor de Justiça Lincoln Gakiya, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP).
Segundo o promotor, o aumento significativo do tráfico nos últimos anos levou alguns dos principais líderes do grupo criminoso, como Marco Willians Herbas Camacho, conhecido como Marcola, e Gilberto Aparecido dos Santos, o Fuminho, a diversificarem suas atividades, passando a ter empreendimentos próprios no tráfico de drogas. Atualmente, a venda de cocaína para a Europa é considerada a principal fonte de lucro.
O promotor acrescentou que essa intensificação das atividades também resultou em uma maior demanda por parte do PCC em expandir suas técnicas de lavagem de dinheiro. Não por acaso, esse tema tem sido um dos principais focos das denúncias mais recentes apresentadas no contexto da Operação Sharks, conduzida pelo Ministério Público de São Paulo, e também tem sido objeto de investigações em outros estados.
Fintechs, criptomoedas
As estratégias vão desde aplicar o rendimento ilícito em criptoativos até usar igrejas para lavar dinheiro. “Há situações também, que ainda estamos investigando, de criminosos ligados ao PCC criarem suas próprias fintechs, os bancos digitais. São pelo menos duas ou três instituições, que estão sob investigação, ligadas a criminosos até famosos do PCC”, disse Gakiya.
Por se tratar de uma investigação em andamento, o promotor afirmou não ser possível determinar se as fintechs envolvidas já existiam anteriormente ou se foram criadas especificamente com o propósito de lavagem de dinheiro.
Em uma fase da Operação Sharks em 2023, foram detidos dois operadores que tinham envolvimento direto com dois dos principais líderes do PCC, Marcos Roberto de Almeida, conhecido como Tuta, e Odair Mazzi, o Dezinho – ele está detido desde julho do ano anterior, enquanto Tuta permanece foragido.
De acordo com as investigações, os operadores utilizavam criptomoedas e contas em bancos digitais para dificultar o rastreamento do dinheiro. A dispersão e a descentralização das transações, juntamente com a fragilidade do sistema de monitoramento, tornam o trabalho dos investigadores mais desafiador.
“As facções estão usando Pix, contas falsas e inclusive fintechs para coletar dinheiro do tráfico. É muito fácil criar e descartar uma conta, então se aproveitam disso. Pegam CPF e dados pessoais de quem não têm envolvimento com o crime, são (réus) primários, e criam contas, especialmente nas fintechs, e passam a movimentar valores”, disse Augusto de Lima, promotor do Ministério Público do Rio Grande do Norte.
Igrejas
Em 2023, o Ministério Público do Rio Grande do Norte deflagrou uma etapa da Operação Plata, com o objetivo de desmantelar um esquema liderado por nomes associados ao PCC. A investigação apontava o uso de sete igrejas como fachada para atividades de lavagem de dinheiro em vários estados do País, incluindo o Rio Grande do Norte, a Paraíba e São Paulo.
“As igrejas não foram criadas para esse fim, mas eram usadas para fazer o que chamamos de mescla: uma mistura de recursos lícitos – dízimos e doações dos fiéis – e também recursos ilícitos”, disse Lima, um dos responsáveis por oferecer a denúncia à Justiça.