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Polícia

Braço-direito de Bolsonaro se escalou para reaver joias de Michelle retidas na Receita

O tenente-coronel do Exército Mauro Cid foi o primeiro a ser escalado para resgatar pessoalmente as joias

8 mar 2023 - 15h46
(atualizado às 15h59)
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Joias de três milhões de euros doadas a Michelle Bolsonaro que foram apreendidas pela Receita Federal pela tentativa de entrada ilegal no País.
Joias de três milhões de euros doadas a Michelle Bolsonaro que foram apreendidas pela Receita Federal pela tentativa de entrada ilegal no País.
Foto: DIV e Wilton Junior/Estadão / Estadão

Ajudante de ordens e “faz-tudo” do ex-presidente Jair Bolsonaro, o tenente-coronel do Exército Mauro Cid foi o primeiro a ser escalado para resgatar pessoalmente joias e relógio de diamantes que foram trazidas ilegalmente para o País. Um ofício obtido pelo Estadão revela que Cid escalou ele mesmo para a missão. O documento enviado à Receita informando que um auxiliar do presidente iria pegar as joias era assinado pelo próprio Cid. O coronel era o oficial mais próximo de Bolsonaro e acompanhava o presidente o tempo todo. Ele é filho de um amigo do ex-presidente. 

O ofício, datado em 28 de dezembro de 2022, é endereçado ao secretário especial da Receita Federal, Julio Cesar Vieira Gomes. “Autorizo que os bens sejam retirados pelo representante: Mauro Cesar Barbosa Cid”, diz o ofício da Ajudância de Ordens do Presidente da República.

Auxiliares do coronel Cid afirmaram, contudo, se tratar de um erro e que não havia previsão do militar viajar para São Paulo. Em seu lugar, foi designado para a missão o primeiro-sargento da Marinha Jairo Moreira da Silva. Ele voou em uma aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) no dia seguinte, mas não teve sucesso.

Conforme o Estadão revelou, ogoverno de Jair Bolsonaro tentou trazer ilegalmente para o País um conjunto de joias, colar, brincos, anel e relógio de pulso da marca Chopard, além da miniatura de um cavalo ornamental, avaliados em € 3 milhões, o equivalente a R$ 16,5 milhões. Os itens estão retidos até hoje no Aeroporto de Guarulhos. Segundo o ofício da Ajudância de Ordens, os bens foram ofertados a Bolsonaro pela Arábia Saudita durante a cerimônia de lançamento da Iniciativa Oriente Médio Verde, entre 20 e 26 de outubro de 2021.

No total, o governo Bolsonaro fez oito tentativas para reaver as joias. Ele usou três ministérios – Minas e Energia, Economia e Relações Exteriores –, além de militares. Registro do Portal da Transparência revela que a demanda partiu do próprio presidente da República.

O então ministro de Minas e Energia almirante Bento Albuquerque e o seu assessor, Marcos André Soeiro, desembarcaram em Guarulhos com as joias no dia 26 de outubro de 2021. O auxiliar optou pela saída “nada a declarar” para deixar a área do aeroporto sem registrar a posse dos diamantes, o que, na prática, infringe a legislação brasileira. A manobra, contudo, foi frustrada. Albuquerque tinha a opção de declarar os objetos e explicar que se tratava de um presente de um governo para outro, mas o ministro não aceitou. Se assim o fizesse, os itens passariam a ser do acervo público, não mais de Bolsonaro.

Segundo pacote

Estadão revelou ontem que Bolsonaro, por outro lado, recebeu pessoalmente um segundo estojo de joias, também das mãos da comitiva do ex-ministro Bento Albuquerque. Esse pacote era composto por relógio, abotoaduras, caneta, anel e um masbaha (uma espécie de rosário islâmico) rose gold, todos da marca suíça Chopard, avaliados, no mínimo, em R$ 400 mil. Esses itens estão no acervo privado do ex-presidente da República, segundo confirmou auxiliar de Bolsonaro.

Acórdão do Tribunal de Contas da União (TCU) explica que os presidentes só podem ficar com presentes de “caráter personalíssimo”. É o caso de roupas e perfumes.

De acordo com documentos obtidos pela reportagem, o segundo pacote de joias foi entregue no Palácio do Planalto por volta das 16 horas do dia 29 de novembro de 2022. O formulário confirma que o pacote de joias foi visualizado pelo próprio Bolsonaro. Os itens não foram declarados na Receita Federal, o que é crime alfandegário.

Esse formulário mostra que Bolsonaro mentiu ao afirmar que está “sendo crucificado no Brasil por um presente que não pedi e nem recebi.”

Refúgio. Um mês depois desses episódios, em 30 de dezembro do ano passado, Bolsonaro viaja aos Estados Unidos, onde decidiu se refugiar após perder as eleições para o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Estadão
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