Cadu teria matado Glauco após ouvir “mensagem divina”
Assassino confesso do cartunista era membro da Igreja Céu de Maria, cujos cultos eram realizados na casa de Glauco
Carlos Eduardo Sundfeld Nunes, o Cadu, afirmou à polícia, em 2010, que matou o cartunista Glauco Villas Boas e seu filho, Raoni, depois de ouvir uma “mensagem divina”. O depoimento foi divulgado no Fantástico, da TV Globo, neste domingo. “Eu tinha ele (Glauco) como uma pessoa boa até o dia que eu falei: ‘esse cara é covarde de não fazer a nova anunciação na Terra’", afirmou.
De acordo com Cadu, a anunciação seria a volta de Jesus Cristo. “O corpo que vai receber o Cristo é o corpo do meu irmão. Não ia me desgraçar por algo que eu não tivesse uma certeza mais que absoluta, entendeu?”. De acordo com o Fantástico, os vídeos foram gravados quatro e sete dias após a morte de Glauco. “Ou eu sou um profeta ou eu sou um louco. É um ou outro. Não tem meio termo”, completou.
Cadu era membro da Igreja Céu de Maria, pertencente ao Santo Daime, cujos cultos eram realizados na casa de Glauco. Ele afirmou que o alucinógeno mudou a vida dele. “Eu comecei a tomar daime, comecei a acreditar em Deus. Já vi uma cruz linda no céu. Gigante assim, brilhante”.
Crime e loucura: veja casos de assassinos que alegaram insanidade
O assassino confesso do cartunista também disse à polícia que nunca mais pegaria em uma arma e que gostaria de se tratar para não oferecer perigo a outras pessoas. “Eu pequei. Eu não podia ter matado o cara. Não podia ter pegado essa arma nunca, cara. Eu pequei, eu errei. Eu estava muito nervoso. Eu estava fora de mim. Eu recebi uma lição disso aqui pra sempre, entendeu? Cara, não burla os 10 mandamentos”, contou.
“Eu quero que a minha pessoa não ofereça perigo para as outras. De repente, um tratamento, eu consigo ter reabilitação. Nunca mais quero pegar numa arma de fogo, senhor. Nunca mais quero passar isso na minha vida”, completou.
Cadu ainda confessou que fumava “muita maconha, mais maconha do que você pode imaginar” e afirmou que nunca mais seria preso. “Eu nunca mais vou ser preso. Nunca mais eu vou estar aqui, tendo que prestar depoimento, dando dor de cabeça para o delegado, dando dor de cabeça para minha família”. Contudo, a promessa durou 4 anos e seis meses.
Na segunda-feira da semana passada, Cadu foi preso acusado de atirar em um homem de 45 anos, que está internado em estado grave, e assassinar um jovem de 21 anos após roubar seu veículo. Cadu tentou reagir à prisão e chegou a trocar tiros com a polícia.
Quando fugia correndo, Cadu foi surpreendido por uma viatura da Polícia Militar (PM). Segundo a polícia, ele estava com o rosto sangrando e se rendeu sem resistência. Com ele, foi encontrado um revólver calibre 38 – o mesmo utilizado para matar o jovem.
Crime e condenação
Glauco e Raoni foram mortos na casa da família, em Osasco (SP), no dia 12 de março de 2010. Cadu, que era membro da Igreja Céu de Maria - cujos cultos eram realizados na casa de Glauco - foi preso dois dias depois, no Paraná, quando tentava fugir para o Paraguai.
Em 2011, a Justiça considerou que Cadu não tinha consciência de suas atitudes e determinou que ele permanecesse internado, acatando um parecer do Ministério Público que dizia que o réu sofria de esquizofrenia paranoide. O estudante ficou em um complexo médico penal no Paraná até outubro de 2012, quando foi transferido para Goiânia, onde foi internado em clínicas vinculadas ao Programa de Atenção ao Louco Infrator (Paili).
No ano passado, a juíza Telma Aparecida Alves, da 4ª Vara de Execuções Penais de Goiânia (GO), determinou que Cadu fosse solto depois que uma junta médica da Justiça de Goiás dar parecer favorável a sua liberação.