Carandiru: júri é formado por 6 homens e uma mulher
Com atraso, começa a última etapa do júri pelas 111 mortes ocorridas em 1992, durante o Massacre do Carandiru
Com quase cinco horas de atraso, começou na tarde desta segunda-feira o julgamento de 15 policiais militares (PMs) acusados de participação na morte de oito detentos - e na tentativa de outros dois homicídios, no episódio que ficou conhecido como Massacre do Carandiru, em outubro de 1992. O júri é composto por seis homens e uma mulher.
A primeira e única testemunha de acusação a ser ouvida nesta segunda-feira é o perito Osvaldo Negrini Neto, responsável pela análise do Pavilhão 9 após a morte dos 111 detentos. Depois dele, serão ouvidas três testemunhas de defesa: o ex-secretário de Segurança Pública Pedro Franco de Campos, o agente penitenciário Francisco Carlos Leme e o desembargador Fernando Torres Garcia. Eles estiveram no local antes da invasão da Polícia Militar.
O fórum criminal da Barra Funda, na zona oeste da capital paulista, local do julgamento, amanheceu na manhã desta segunda-feira com uma cena forte. Um "corpo" coberto, ensanguentado, com uma cruz no peito. Sob a cobertura podia-se observar uma farda da PM e os tradicionais coturnos da corporação. Trata-se de um protesto da Associação de Cabos e Soldados da Polícia Militar do Estado de São Paulo, que pede a absolvição de 15 policiais militares envolvidos no Massacre do Carandiru.
Julgamento
A partir desta segunda-feira, 15 policiais militares (PMs) acusados de participação na morte de oito detentos - e na tentativa de outros dois homicídios - serão julgados no Fórum Criminal da Barra Funda, depois de mais de 21 anos do ocorrido. Nas três primeiras etapas do julgamento, os PMs que atuaram em três andares do prédio foram condenados a penas entre 96 e 624 anos de prisão.
Relembre o caso
Em 2 de outubro de 1992, uma briga entre presos da Casa de Detenção de São Paulo - o Carandiru - deu início a um tumulto no Pavilhão 9, que culminou com a invasão da Polícia Militar e a morte de 111 detentos. Os policiais são acusados de disparar contra presos que estariam desarmados. A perícia constatou que vários deles receberam tiros pelas costas e na cabeça.
Entre as versões para o início da briga está a disputa por um varal ou pelo controle de drogas no presídio por dois grupos rivais. Ex-funcionários da Casa de Detenção afirmam que a situação ficou incontrolável e por isso a presença da PM se tornou imprescindível.
A defesa afirma que os policiais militares foram hostilizados e que os presos estavam armados. Já os detentos garantem que atiraram todas as armas brancas pela janela das celas assim que perceberam a invasão. Do total de mortos, 102 presos foram baleados e outros nove morreram em decorrência de ferimentos provocados por armas brancas. De acordo com o relatório da Polícia Militar, 22 policiais ficaram feridos.