O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ-RS) recebeu um documento do ouvidor da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, deputado Marlon Santos (PDT), no qual ele denuncia que o juiz Fernando Vieira dos Santos, de Três Passos, seria amigo pessoal do médico Leandro Boldrini, acusado de matar seu filho, Bernardo.
Santos foi responsável por manter a guarda da criança com Leandro depois de o garoto procurar a Justiça e pedir para morar com outra família. No documento, enviado à corregedoria do TJ e ao Ministério Público, o deputado afirma que descobriu, ao conversar com moradores em Três Passos, que o magistrado e o médico são amigos e que a conduta do juiz foi diferente em outros casos similares.
“A oitiva in loco de diversos cidadãos do Município de Três Passos, alguns sob o manto do anonimato - dada a temeridade que a figura de um magistrado representa em comunidades do interior – revelou a existência de relação próxima de amizade entre o magistrado Fernando Vieira dos Santos e o médico Leandro Boldrini, proximidade essa que seria hábil a macular sua percepção e análise acerca dos fatos envolvendo o menor Bernardo Boldrini”, diz o documento.
O texto afirma ainda que o menino procurou o juiz pessoalmente durante expediente no fórum, o que não foi relatado ao Juizado da Infância e Juventude. Apesar do apelo da criança, o magistrado optou por manter o garoto com o pai, e não com a avó materna, Jussara Marlene Uglione, que disputava a guarda.
O deputado diz ainda que o magistrado afirma que manteve a guarda com o pai, entre outros motivos, porque o jovem não narrou agressões físicas por parte do médico. Contudo, afirma o documento, o juiz não costuma agir dessa forma. “Em conversa com agentes da rede de proteção à Infância e Juventude de Três Passos e região, bem como de jurisdicionados, verificou-se que tal não é o procedimento comumente adotado pelo magistrado em questão, que pauta sua atuação pela atuação preventiva, afastando os menores do lar para, posteriormente, trabalhar o restabelecimento dos vínculos.”
O Terra não conseguiu contato com o juiz. Segundo o Tribunal de Justiça do Estado, o magistrado não está se pronunciando sobre o caso.
O caso
Bernardo Uglione Boldrini, 11 anos, desapareceu no dia 4 de abril, em Três Passos (RS), depois de – segundo a versão da família - dizer ao pai que passaria o fim de semana na casa de um amigo. O corpo do garoto foi encontrado no dia 14 de abril, em Frederico Westphalen (RS), dentro de um saco plástico e enterrado às margens do rio Mico.
Na mesma noite, o pai, o médico Leandro Boldrini, a madrasta Graciele Ugulini, e a assistente social Edelvânia Wirganovicz foram presos pela suspeita de envolvimento no crime. Segundo a Polícia Civil, o menino foi dopado antes de ser morto, possivelmente com uma injeção letal. Os três se encontram temporariamente presos.
Corpo do menino Bernardo Uglione Boldrini, 11 anos, que estava desaparecido desde o dia 4 de abril, foi encontrado na noite de segunda-feira em Frederico Westphalen (RS)
Foto: Facebook / Reprodução
Na mesma noite em que corpo foi encontrado, o pai e a madrasta do menino foram presos por suspeita de envolvimento na morte
Foto: Facebook / Reprodução
Assistente social Edelvânia Wirganovicz está presa e confessou ter participado do assassinato de Bernardo Uglione Boldrini, 11 anos
Foto: Facebook / Reprodução
Bernardo morava com o pai, a madrasta e a meia-irmã de 1 ano em Três Passos (RS)
Foto: Facebook / Reprodução
A avó materna, que acusa pai e madrasta, com o menino Bernardo
Foto: Facebook / Reprodução
Certidão de óbito de Bernardo Uglione Boldrini, 11 anos, diz que ele morreu no dia em que desapareceu, 4 de abril
Foto: Jader Benvegnú / Futura Press
Depois do velório em Três Passos (RS), cidade onde Bernardo morava com o pai e a madrasta, o corpo do menino seguiu para Santa Maria (RS), onde familiares e amigos se despedem na capela 3 do Hospital de Caridade
Foto: Jader Benvegnú / Futura Press
Brinquedos, fotografias, cartazes e flores foram colocados no entorno do caixão de Bernardo
Foto: Jader Benvegnú / Futura Press
Amigos fizeram uma faixa em homenagem ao menino: "nosso anjo"
Foto: Jader Benvegnú / Futura Press
Velório de Bernardo foi marcado por muita emoção em Santa Maria (RS)
Foto: Jader Benvegnú / Futura Press
Avó materna Jussara Uglione (C), 73 anos, chega para o velório de Bernardo Uglione Boldrini, 11 anos, na capela 3 do Hospital de Caridade de Santa Maria (RS)
Foto: Jader Benvegnú / Futura Press
Corpo do menino Bernardo Uglione Boldrini, 11 anos, foi enterrado na manhã desta quarta-feira no Cemitério Municipal de Santa Maria (RS) junto ao túmulo da mãe, morta em 2010
Foto: Jader Benvegnú / Futura Press
Avó materna de Bernardo, Jussara Marlene Uglione, 73 anos, acompanhou o enterro do neto
Foto: Jader Benvegnú / Futura Press
Dezenas de pessoas acompanharam o enterro do menino Bernardo Uglione Boldrini
Foto: Jader Benvegnú / Futura Press
Bernardo foi enterrado junto ao túmulo da mãe, morta em 2010
Foto: Jader Benvegnú / Futura Press
Amigos e familiares acompanharam o enterro do menino Bernardo Uglione Boldrini na manhã desta quarta-feira
Foto: Jader Benvegnú / Futura Press
Avó materna Jussara Uglione (C), 73 anos, deixa o Cemitério Municipal de Santa Maria (RS) após o enterro do neto Bernardo
Foto: Jader Benvegnú / Futura Press
Comunidade de Três Passos (RS) fez nesta terça-feira uma nova passeata pedindo Justiça no caso da morte do menino Bernardo Uglione Boldrini
Foto: Felipe Franke / Terra
Alzira Pretto (direita) era vizinha de Bernardo e defendeu a permanência dos suspeitos na cadeia: "se a Justiça soltar, a gente vai fazer justiça com as próprias mãos", ameaçou
Foto: Felipe Franke / Terra
Passeata reuniu pais, vizinhos, conhecidos e colegas do menino Bernardo
Foto: Felipe Franke / Terra
Caminhada começou na praça Remeu Geraldino Mertz, passou pelo Fórum e terminou em frente à casa onde o menino morava
Foto: Felipe Franke / Terra
Uma das testemunhas disse que é muito difícil cavar onde o corpo foi encontrado
Foto: Felipe Franke / Terra
É uma terra dura, com muitas raízes de árvore. É muito difícil de cavar, disse um policial militar aposentado que denunciou à Polícia Civil a presença do carro do irmão da assistente social Edelvânia Wirganovicz próximo ao local
Foto: Felipe Franke / Terra
Dois dias depois do crime, o militar encontrou Edelvânia no local. Questionada, sobre o que fazia ali, ela disse que parou para molhar os pés em um rio próximo junto com uma sobrinha que estava com ela
Foto: Felipe Franke / Terra
Menino Bernardo foi enterrado em uma cova no interior de Frederico Westphalen
Foto: Felipe Franke / Terra
Local recebeu flores e uma cruz foi colocada
Foto: Felipe Franke / Terra
Cova onde o corpo do menino Bernardo foi enterrado tem cerca de um metro de profundidade
Foto: Felipe Franke / Terra
Militar disse que duvida que uma mulher, mesmo com equipamento adequado, tivesse força muscular suficiente para cavar um buraco no local
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Homenagens foram colocadas no local onde corpo de Bernardo foi enterrado
Foto: Felipe Franke / Terra
Em coletiva, delegada explica indiciamento do pai e da madrasta de Bernardo
Foto: Felipe Franke / Terra
Inquérito da Polícia Civil indiciou pai, madrasta e amiga pela morte de Bernardo Uglione Boldrini, 11 anos,
Foto: Polícia Civil / Divulgação
Através da grade e dos cartazes, amigas olham a casa onde Bernardo vivia
Foto: Felipe Schroeder Franke / Terra
Passeata pediu justiça à véspera de um mês da descoberta do corpo do menino, encontrado no dia 14 de abril
Foto: Felipe Schroeder Franke / Terra
Imagem da Polícia Civil durante apresentação das conclusões e deliberações do inquérito