Caso Bernardo: descoberta fecha um mês na espera de justiça
No matagal da região da Linha São Francisco, perto de um dos braços do rio Mico, o buraco cavado entre raízes para ocultar o cadáver do menino Bernardo, ainda estava aberto neste início de semana. Na borda da cova, cruz e flores recentes indicavam o sentimento que tomou conta das cidades de Três Passos e Frederico Westphalen em meio à vontade generalizada de justiça.
Bernardo Uglione Boldrini desapareceu no dia 4 de abril, depois de supostamente ir à casa de um amigo. O pai, o médico Leandro Boldrini, deu pela falta do menino ao não conseguir falar com ele um dia depois. No dia 14, há exato um mês, após confissões e depoimentos, os policiais chegaram ao local escolhido ao rio Mico, onde encontraram o cadáver.
Nestes 30 dias, as investigações avançaram ao ritmo da ânsia de justiça. Nessa terça-feira, dia da entrega do inquérito policial, uma passeata rumou em Três Passos até o fórum e depois à casa de Bernardo, onde cartazes com mensagens de paz, amor e justiça compõem a paisagem.
“Essa gente não pode ficar solta. A gente quer justiça. Se a Justiça soltar, a gente vai fazer justiça com as próprias mãos”, disse Alzira Pretto, 64 anos, vizinha de Bernardo. Ela era uma das cerca de 50 pessoas que vagou pela passeata que começou quieta, serena, para acabar entre lágrimas, abraços e orações à frente do antigo lar onde sentia falta de carinho.
“É muito difícil”, contou entre lágrimas Fátima, cujo filho Henrique era amigo de Bernardo e o recebia em sua casa. “Era um menino muito feliz, que tinha sonhos”, disse, enquanto acompanhava o filho, também chorando, após o fim da passeata.
“Ainda é muito forte essa tristeza, me perco nas palavras”, contou Magnos Souza, administrador da página Desaparecido Bernardo Boldrini. Ele não conhecia o menino, mas começou a se envolver a partir da primeira manifestação, no dia 8 de abril. “Fica sempre a incerteza da Justiça, mas a gente acredita.”
O aniversário de um mês da descoberta do corpo de Bernardo ocorre em meio a avanços do processo. A Polícia Civil pediu no inquérito à Justiça o indiciamento por homicídio qualificado de Leandro, o pai; Graciele Ugoline, a madrasta; e Edelvânia Wirganovicz, amiga de Graciele. Poucas horas antes desta quarta-feira, a Justiça aceitou o pedido de prisão preventiva do trio.
A expectativa é que o Ministério Público se manifeste até sexta-feira sobre a oferta ou não de denúncia sobre o caso. A promotora Dinamárcia Maciel de Oliveira, no entanto, já se manifestou a favor da denúncia.
Mas afora todo processo que somente agora começa a correr na Justiça, a própria fase investigação policial ainda tem dúvidas a serem esclarecidas. Uma das principais é a questão do envolvimento do irmão de Edelvânia, Evandro Wirganovicz. Detido por ter sido visto perto da cena do crime, sua defesa tem firme convicção de sua inocência, baseada até agora em suposições.
Do mesmo modo, a maior dúvida ainda não plenamente sanada no inquérito policial recai sobre a participação de Leandro no crime. A delegada Caroline Bamberg Machado e sua equipe concluíram pela tese de que o pai não apenas sabia do crime, como foi um de seus mentores e executores.
O inquérito policial está ancorado no entendimento de que, no conjunto de posturas, atitudes e reações, Leandro não agiu como um pai reagiria no caso do desaparecimento do filho. Isso, aliado à cumplicidade dele e Graciele e em pequenas contradições sobre o curso dos eventos, compôs o quadro de sua responsabilidade – quadro todavia visto como frágil e leviano por sua defesa.
Os próximos dias serão de expectativa pela manifestação do Ministério Público no caso. A defesa de Evandro, por sua vez, pretende provar, através de reconstituição, que uma mulher seria capaz de abrir o buraco no qual Bernardo foi posto. Um dos argumentos para sua prisão temporária é o entendimento de que a força de um homem teria sido necessária para a abertura da cova.
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