O advogado Frederico Franco Orzil, que defende Wemerson Marques, o Coxinha, e Elenilson Vitor da Silva, amigos do goleiro Bruno Fernandes e acusados de ajudar a esconder o filho de Eliza Samudio, Bruninho, quando o caso veio à tona, disse acreditar na absolvição dos clientes no júri popular previsto para acontecer dia 28 de agosto deste ano, às 9h, no Fórum de Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte. Nesta terça-feira, 4 de junho, completam-se três anos que a ex-amante de Bruno foi sequestrada em um hotel do Rio de Janeiro e trazida para Minas Gerais, onde foi morta, segundo o processo judicial.
Coxinha e Vítor aguardam o julgamento em liberdade. Eles são os dois últimos denunciados pelo Ministério Público a sentar no banco dos réus. Antes deles já foram condenados Bruno (22 anos e três meses de prisão); Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão (15 anos); o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola (22 anos de cadeia); e outra ex-amante do goleiro, Fernanda Gomes Castro (cinco anos em regime aberto). A ex-mulher de Bruno, Dayanne Rodrigues, foi absolvida.
Orzil não quis dar detalhes da estratégia que utilizará para livrar Coxinha e Vítor da cadeia, mas disse entender que a elucidação do crime nos júris anteriores poderá ajudar aos clientes. "Eles estão tranquilos e conscientes de que não tiveram participação", resumiu.
Novos personagens
A expectativa até o julgamento é quanto à denúncia que possivelmente será oferecida pelo Ministério Público contra o policial civil aposentado José Lauriano de Assis, o Zezé. No final do ano passado, o promotor de Justiça Henry Wagner Vasconcelos Castro solicitou à Polícia Civil uma nova investigação para apurar a participação dele na trama. Para Castro, Zezé participou ativamente do sequestro de Eliza e seu filho, Bruninho, assim como da morte da modelo.
A investigação corre sob sigilo. Procurado, o promotor não quis dar declarações para não prejudicar as investigações. Além de Zezé, outro policial também é investigado. Gilson Costa, ex-integrante do Grupo de Resposta Especial da Polícia Civil, o extinto GRE, foi citado em gravações telefônicas no processo.
O delegado Edson Moreira, que também é vereador de Belo Horizonte, disse ao Terra que "o cerco está se fechando" em torno de Zezé. Apesar de não mais estar à frente do Departamento de Homicídios de Belo Horizonte, por ter sido eleito vereador, Moreira disse acompanhar as apurações. "O outro (Gilson Costa) está fora. Agora, a hora do Zezé vai chegar", afirmou.
4 de março - Júri do goleiro Bruno atraiu a atenção da mídia e de manifestantes como o empresário André Luiz, famoso por acompanhar grandes julgamentos no País
Foto: Ney Rubens / Especial para Terra
4 de março - Mulher pinta o corpo de vermelho durante protesto pela morte de Eliza, em frente ao Fórum de Contagem (MG)
Foto: Cirilo Junior / Terra
4 de março - Como respondia ao processo em liberdade, Dayanne Rodrigues, ex-mulher de Bruno, chegou ao Fórum de Contagem pela porta da frente, provocando tumulto no primeiro dia do julgamento
Foto: Ney Rubens / Especial para Terra
4 de março - O primeiro dia do julgamento teve a definição dos jurados - cinco mulheres e dois homens
Foto: Renata Caldeira/TJ-MG / Divulgação
4 de março - Durante boa parte do primeiro dia do julgamento, Bruno segurou uam bíblia em suas mãos. Em determinado momento, o goleiro chorou e recebeu das mãos de um dos advogados um lenço para enxugar as lágrimas
Foto: Ney Rubens / Especial para Terra
4 de março - Satisfeito com o primeiro dia do julgamento, o advogado de Bruno, Lúcio Adolfo, excluiu qualquer possibilidade de acordo entre defesa e acusação. "Eu sou contra. O José Arteiro (advogado da família de Eliza e assistente da acusação) veio tentar um acordo, mas eu disse não"
Foto: Marcelo Albert/TJ-MG / Divulgação
5 de março - O vereador Edson Moreira (PTN), delegado que chefiou as investigações sobre o desaparecimento e morte de Eliza Samudio, chega ao Fórum de Contagem para o segundo dia do julgamento de Bruno. Segundo Moreira, Bruno tinha medo de entregar o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, "porque o Bola vai ter que contar onde está o corpo e aí acabou"
Foto: Ney Rubens / Especial para Terra
5 de março - Bruno e Dayanne demonstram cansaço no segundo dia de julgamento
Foto: Renata Caldeira/TJ-MG / Divulgação
5 de março - Bruno recebe o abraço da prima, Célia Aparecida, após o depoimento dela em defesa dos réus
Foto: Renata Caldeira/TJ-MG / Divulgação
5 de março - A ré Dayanne Rodrigues é interrogada no segundo dia do julgamento pelo promotor Henry Wagner
Foto: Renata Caldeira/TJ-MG / Divulgação
5 de março - Ao ser interrogada, Dayanne contou que encontrou Eliza no sítio de Bruno e conversou com a modelo. Ela negou os crimes pelos quais era acusada - sequestro e cárcere privado de Bruno Samudio, filho de Eliza e Bruno e disse que o atleta pediu para ela e as filhas saírem da propriedade para a proteção da família
Foto: Renata Caldeira/TJ-MG / Divulgação
6 de março - A mãe de Eliza Samudio, Sônia de Fátima Moura, chega ao Fórum de Contagem para o terceiro dia do julgamento. "Tenho esperança de que ele fale, sim, que ele diga toda a verdade", falou na entrada, a respeito do aguardado depoimento de Bruno
Foto: Ney Rubens / Especial para Terra
6 de março - Bruno chora durante interrogatório. "Excelência, como mandante dos fatos, não é verdade. Mas, de certa forma, eu me sinto culpado", afirmou Bruno, no início de seu depoimento. "Eu não sabia que ela seria executada. Eu não mandei, mas aceitei", disse
Foto: Renata Caldeira/TJ-MG / Divulgação
6 de março - Bruno dá detalhes da noite em que Eliza foi morta: "Acho que ela iria de avião, mas não deixou claro. Por volta de umas 23h, retornaram Luiz Henrique, Jorge e o Bruninho. Nesta hora eu estava na cozinha, onde fazíamos festa. Eles desceram do carro e o Jorge estava muito assustado. O Macarrão também estava, mas estava mais tranquilo. Perguntei por que a criança estava com eles, chorando. Eu perguntei onde a Eliza estava. 'Pelo amor de Deus, o que vocês fizeram com ela?'. O Macarrão disse: 'eu resolvi o problema que tanto te atormentava'"
Foto: Renata Caldeira/TJ-MG / Divulgação
6 de março - No interrogatório, Bruno afirmou que a morte de Eliza foi planejada por Macarrão, mas que se sentia culpado por não ter impedido. "O Macarrão afirmou que o tormento tinha acabado, que resolveu tudo. O Macarrão disse que ela estava atrapalhando demais, excelência. Naquele momento eu senti medo. Eu perguntei ao Macarrão 'pra que isso?'"
Foto: Renata Caldeira/TJ-MG / Divulgação
6 de março - "O Jorge me contou que eles encontraram com um homem (Bola) próximo ao Mineirão. Depois, eles foram para Vespasiano, e lá um homem perguntou se a Eliza usava drogas. Ele deu uma gravata nela. Depois, esquartejou e jogou pedaços para os cachorros". Foi a primeira vez que Bruno citou Bola no processo
Foto: Renata Caldeira/TJ-MG / Divulgação
6 de março - Advogado Ércio Quaresma, que defende Bola, foi autorizado a fazer questionamentos a Bruno. Porém, como o jogador se negou a respondê-los e foi autorizado a deixar o plenário, Quaresma fez perguntas diante de uma cadeira vazia
Foto: Renata Caldeira/TJ-MG / Divulgação
7 de março - No quarto dia do julgamento, Dayanne Rodrigues presta novo depoimento
Foto: Renata Caldeira/TJ-MG / Divulgação
7 de março - Bruno também presta novo depoimento. "Vi a repercussão na imprensa considerando que ele não tinha confessado. Falei com ele, que a juíza precisava de elementos completos. Perguntei se ele tinha ciência da morte iminente da Eliza, e ele me respondeu que sim. Orientei para que ele prestasse mais esclarecimentos", afirmou o advogado Lúcio Adolfo
Foto: Renata Caldeira/TJ-MG / Divulgação
7 de março - Nas considerações finais, promotor Henry Wagner pede a condenação pela pena máxima de Bruno e a absolvição de Dayanne. Segundo o promotor, Dayanne foi constrangida por Bruno e obrigada a cuidar do filho de Eliza
Foto: Renata Caldeira/TJ-MG / Divulgação
7 de março - Apresentando extratos de ligações telefônicas de Bruno, promotor expôs a movimentação de Bola e Macarrão na noite do crime
Foto: Renata Caldeira/TJ-MG / Divulgação
7 de março - Pouco antes de conhecer seu destino, Bruno demonstrou bastante nervosismo no Fórum de Contagem
Foto: Marcelo Albert/TJ-MG / Divulgação
8 de março - A juíza Marixa Fabiane Rodrigues lê a sentença de Bruno: 22 anos e três meses de prisão. Dezessete anos e seis meses devem ser cumpridos em regime fechado. Porém, ele poderá pedir o relaxamento da pena após cumprir 2/5 desse total, que equivalem a sete anos - como o ex-goleiro já permaneceu em cárcere por dois anos e oito meses, ele pode ficar preso até 2017. Dayanne é absolvida
Foto: Marcelo Albert/TJ-MG / Divulgação
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O caso Bruno
Eliza Samudio desapareceu no dia 4 de junho de 2010 após ter saído do Rio de Janeiro para ir a Minas Gerais a convite de Bruno. Vinte dias depois a polícia recebeu denúncias anônimas de que Eliza havia sido espancada por Bruno e dois amigos dele até a morte no sítio de propriedade do jogador, localizado em Esmeraldas, na Grande Belo Horizonte. O filho de Eliza, então com quatro meses, teria sido levado pela mulher de Bruno, Dayanne Rodrigues. O menino foi achado posteriormente na casa de uma adolescente no bairro Liberdade, em Ribeirão das Neves.
No dia seguinte, a mulher de Bruno foi presa. Após serem considerados foragidos, o goleiro e seu amigo Luiz Henrique Romão, o Macarrão, acusado de participar do crime, se entregaram à polícia. Pouco depois, Flávio Caetano de Araújo, Wemerson Marques de Souza, o Coxinha Elenilson Vitor da Silva e Sérgio Rosa Sales, outro primo de Bruno, também foram presos por envolvimento no crime. Enquanto a polícia fazia buscas ao corpo de Eliza, um motorista de ônibus denunciou o primo do goleiro como participante do crime. Apreendido, jovem de 17 anos relatou à polícia que a ex-amante de Bruno foi mantida em cativeiro e executada pelo ex-policial civil Marcos Aparecido dos Santos, conhecido como Bola, que a estrangulou e esquartejou seu corpo. Ainda segundo o relato, o ex-policial jogou os restos mortais para seus cães.
No dia 30 de julho, a Polícia de Minas Gerais indiciou todos pelo sequestro e morte de Eliza, sendo que Bruno foi apontado como mandante e executor do crime. No início de dezembro, Bruno e Macarrão foram condenados pelo sequestro e agressão a Eliza, em outubro de 2009, pela Justiça do Rio. O goleiro pegou quatro anos e seis meses de prisão.
Em 17 de dezembro, a Justiça mineira decidiu que Bruno, Macarrão, Sérgio Rosa Sales e Bola seriam levados a júri popular por homicídio triplamente qualificado, sendo que o último responderá também por ocultação de cadáver. Dayanne, Fernanda, Elenilson e Wemerson responderiam por sequestro e cárcere privado.
No dia 19 de novembro de 2012, foi dado início ao julgamento de Bruno, Bola, Macarrão, Dayanne e Fernanda. Dois dias depois, após mudanças na defesa do goleiro, o tribunal decidiu desmembrar o processo. O júri condenou Macarrão, a 15 anos de prisão, e Fernanda Gomes de Castro, a cinco anos. No dia 8 de março de 2013, Bruno foi condenado a 22 anos e três meses de prisão, dos quais 17 anos e seis meses terão de ser cumpridos em regime fechado. Dayanne Rodrigues do Carmo, ex-mulher do goleiro e acusada de ser cúmplice no crime, foi absolvida. O ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, que é acusado como autor do homicídio, teve o júri marcado para abril de 2013.