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Caso Bruno

Bruno nega ser mandante, mas afirma que 'aceitou' que Eliza fosse morta

Em depoimento, jogador diz que denúncias de Eliza na imprensa causaram incômodos a pessoas que dependiam dele

6 mar 2013 - 17h31
(atualizado às 19h07)
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<p>O goleiro Bruno Fernandes é interrogado no terceiro dia de seu julgamento pela morte de Eliza Samudio</p>
O goleiro Bruno Fernandes é interrogado no terceiro dia de seu julgamento pela morte de Eliza Samudio
Foto: Renata Caldeira / TJMG / Divulgação

Em depoimento que já dura cerca de quatro horas, o goleiro Bruno Fernandes de Souza negou que tenha encomendado a morte de sua ex-amante Eliza Samudio, em 2010. Na primeira parte de sua fala, ao responder os questionamentos da juíza Marixa Fabiane, Bruno creditou o crime a seu ex-braço direito Luiz Henrique Romão, o Macarrão. Apesar de dizer que não ordenou que Macarrão matasse a modelo, o goleiro afirmou que aceitou quando o amigo o informou de que ela seria assassinada.

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"Excelência, como mandante dos fatos, não é verdade. Mas, de certa forma, eu me sinto culpado", afirmou Bruno, no início de seu depoimento. "Eu não sabia que ela seria executada. Eu não mandei, mas aceitei", disse.

O goleiro iniciou sua fala relembrando a relação que teve com Eliza. Segundo o jogador, após engravidar, a jovem o procurou por diversas vezes para que ele reconhecesse a paternidade do bebê. Após o nascimento de Bruninho, Eliza procurou a imprensa e denunciou Bruno, o que, segundo o jogador, causou desconforto. "Isso sempre colocou em manchetes minha imagem. Aquilo estava atrapalhando a negociação que eu tinha para ir para um time fora do Brasil. Isso incomodou todos ao meu redor (empresários, amigos, familiares)", afirmou o goleiro.

Paralelamente a isso, segundo Bruno, crescia a importância de Macarrão em sua vida. "Eu ficava por conta somente de jogar futebol. O Macarrão cuidava de tudo, eu só jogava bola. O Macarrão era como irmão, tínhamos amizade", disse. Diante das constantes brigas com Eliza, o goleiro decidiu se afastar da modelo e tratar as pendências judiciais apenas por meio de advogados e interlocutores. "A partir do momento que eu deixei de conversar com a Eliza, o Macarrão assumiu o papel. Ele fez isso pra mim. O Macarrão passou a conviver mais com ela do que eu", disse.

O jogador relatou ainda que Macarrão passou a controlar a rotina na residência em que moravam, no Recreio dos Bandeirantes, no Rio de Janeiro. "Dentro da minha casa, no Recreio dos Bandeirantes, eu quase não tinha tempo de usar minhas coisas. Eu sempre ficava em hotel. Eu reparei com tempo que a Ingrid (então noiva do jogador) estava triste, ela não falava nada. Até que um dia ela explicou que o Luiz Henrique começou a comandar demais, e ela perdeu a liberdade dentro de casa", disse Bruno. "O Macarrão se sentiu o próprio Bruno. Aquele Bruno que morreu dentro da penitenciária Nelson Hungria", completou.

Morte de Eliza

Na noite em que Eliza foi morta, Bruno relata que Macarrão e o primo do jogador, Jorge, deveriam levar a modelo para casa, após entregar a ela dinheiro. "Acho que ela iria de avião, mas não deixou claro. Por volta de umas 23h, retornaram Luiz Henrique, Jorge e o Bruninho. Nesta hora eu estava na cozinha, onde fazíamos festa. Eles desceram do carro e o Jorge estava muito assustado. O Macarrão também estava, mas estava mais tranquilo. Perguntei por que a criança estava com eles, chorando. Eu perguntei onde a Eliza estava. 'Pelo amor de Deus, o que vocês fizeram com ela?'. O Macarrão disse: 'eu resolvi o problema que tanto te atormentava'", relatou o jogador.

O jogador afirma que, naquele momento, pegou o filho no colo e o passou para Dayanne, e foi conversar com a dupla. "O Jorge falou que o Macarrão ajudou a matar a Eliza. Neste momento eu fiquei desesperado e disse ao Macarrão: 'O que você fez? Isso não tinha necessidade'", afirmou Bruno. Segundo o goleiro, Jorge contou a ele que Eliza foi esquartejada e teve partes de seu corpo jogadas aos cachorros. Macarrão, porém, negava a história.

"O Macarrão afirmou que o tormento tinha acabado, que resolveu tudo. O Macarrão disse que ela estava atrapalhando demais, excelência. Naquele momento eu senti medo. Eu perguntei ao Macarrão 'pra que isso?'. Ele respondeu que o Jorge estava louco, que isso não tinha acontecido. O Macarrão não confirmou a história", disse.

"O Jorge me contou que o Macarrão foi até o (estádio) Mineirão, conversou com uma pessoa, não soube explicar quem era. Ele me contou que eles foram para um casa, na região de Vespasiano, e entregou a Eliza para o Neném. Lá o rapaz perguntou para ela se usava drogas, cheirou a mão dela e pediu para amarrar as mãos dela. Depois, deu uma gravata nela e o Macarrão ainda chutou as pernas de Eliza", afirmou Bruno. Questionado se Neném seria o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, conhecido como Bola, Bruno inicialmente não confirmou. "O Jorge só falou o nome de Neném. Não falou em apelido de Bola", afirmou. Depois, porém, afirmou que quando Macarrão revelou que havia contratado um homem de apelido Neném, se referia a Bola. O goleiro disse ainda que tem medo do ex-policial civil.

Acusação cobra confissão

Assistente da acusação, o advogado José Arteiro disse na tarde desta quarta-feira que o goleiro Bruno Fernandes vem mentindo "sistematicamente" em seu depoimento. Para Arteiro, a defesa do ex-jogador do Flamengo utiliza uma estratégia "burra" ao atribuir o crime a Macarrão.

"Eles têm que fazer o Bruno confessar. É a única saída para que ele pegue uma condenação menor. O Bruno não entendeu que ele já está condenado", afirmou, durante breve intervalo do julgamento, que está na fase do depoimento do goleiro.

Bruno chorou em alguns momentos de seu interrogatório, e procura ficar de cabeça baixa a maior parte do tempo, numa postura bastante humilde. Na visão de Arteiro, tudo não passa de encenação. "Isso tudo é pura dramaturgia. O Bruno segue sendo o mesmo arrogante de sempre. Ele acha que a palavra dele é a de Deus. Não é. Não há sujeito mais mentiroso do que o Bruno", comentou.

Segundo o advogado Cidnei Karpinski, que também atua como assistente da acusação, as atitudes de Bruno determinarão uma condenação com pena pesada. "São muitas mentiras no depoimento. Ele busca o tempo todo negar qualquer autoria. Só responde que não sabia e que não mandou fazer nada. Com isso ele assinou a própria sentença condenatória, no grau máximo", afirmou.

O caso Bruno

Eliza Samudio desapareceu no dia 4 de junho de 2010 após ter saído do Rio de Janeiro para ir a Minas Gerais a convite de Bruno. Vinte dias depois a polícia recebeu denúncias anônimas de que Eliza havia sido espancada por Bruno e dois amigos dele até a morte no sítio de propriedade do jogador, localizado em Esmeraldas, na Grande Belo Horizonte. O filho de Eliza, então com quatro meses, teria sido levado pela mulher de Bruno, Dayanne Rodrigues. O menino foi achado posteriormente na casa de uma adolescente no bairro Liberdade, em Ribeirão das Neves.

Conheça as acusações e penas máximas possíveis contra os réus

Réu Acusações Pena máxima
Bruno Homicídio triplamente qualificado, sequestro e cárcere privado de Eliza Samudio 41 anos
Dayanne Sequestro e cárcere privado do filho de Eliza Samudio 5 anos
 

Enquanto a polícia fazia buscas ao corpo de Eliza, um motorista de ônibus denunciou o primo do goleiro como participante do crime. Apreendido, jovem de 17 anos relatou à polícia que a ex-amante de Bruno foi mantida em cativeiro e executada pelo ex-policial civil Marcos Aparecido dos Santos, conhecido como Bola, que a estrangulou e esquartejou seu corpo. Ainda segundo o relato, o ex-policial jogou os restos mortais para seus cães. 

"Macarrão deixou tudo no colo do Bruno", diz delegado:

No dia seguinte, a mulher de Bruno foi presa. Após serem considerados foragidos, o goleiro e seu amigo Luiz Henrique Romão, o Macarrão, acusado de participar do crime, se entregaram à polícia. Pouco depois, Flávio Caetano de Araújo, Wemerson Marques de Souza, o Coxinha Elenilson Vitor da Silva e Sérgio Rosa Sales, outro primo de Bruno, também foram presos por envolvimento no crime. 

No dia 30 de julho, a Polícia de Minas Gerais indiciou todos pelo sequestro e morte de Eliza, sendo que Bruno foi apontado como mandante e executor do crime. No início de dezembro, Bruno e Macarrão foram condenados pelo sequestro e agressão a Eliza, em outubro de 2009, pela Justiça do Rio. O goleiro pegou quatro anos e seis meses de prisão. 

Em 17 de dezembro, a Justiça mineira decidiu que Bruno, Macarrão, Sérgio Rosa Sales e Bola seriam levados a júri popular por homicídio triplamente qualificado, sendo que o último responderá também por ocultação de cadáver. Dayanne, Fernanda, Elenilson e Wemerson responderiam por sequestro e cárcere privado. 

No dia 19 de novembro de 2012, foi dado início ao julgamento de Bruno, Bola, Macarrão, Dayanne e Fernanda. Dois dias depois, após mudanças na defesa do goleiro, o tribunal decidiu desmembrar o processo.  O júri condenou Macarrão, a 15 anos de prisão, e Fernanda Gomes de Castro, a cinco anos. O julgamento de Bruno e de Dayane Rodrigues do Carmo, ex-mulher do goleiro e acusada de ser cúmplice no crime, foi remarcado para 4 de março de 2013. O ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, que é acusado como autor do homicídio, teve o júri marcado para abril de 2013. 

Fonte: Especial para Terra
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