Caso Marielle Franco: quem são os dois presos e o que falta saber sobre os assassinatos
O policial militar reformado Ronnie Lessa e o ex-policial militar Elcio Vieira de Queiroz foram denunciados pelo ataque que causou a morte da vereadora e de seu motorista; viúva de Marielle cobrou a identificação dos mandantes do atentado.
A Polícia Civil do Rio de Janeiro e o Ministério Público do Estado anunciaram nesta terça-feira (12) a prisão de dois suspeitos pelo assassinato da vereadora carioca Marielle Franco (PSOL) e do motorista dela, Anderson Gomes, em março de 2018.
Em nota à imprensa, os órgãos afirmam que o policial militar reformado Ronnie Lessa, de 48 anos, e o ex-policial militar Elcio Vieira de Queiroz, de 46, foram denunciados pelos crimes de homicídio qualificado e tentativa de homicídio de Fernanda Chaves, assessora de Marielle, que sobreviveu ao ataque.
Segundo os investigadores, Lessa efetuou os disparos contra Marielle e Anderson, enquanto Queiroz dirigiu o veículo de modelo Cobalt usado durante o ataque.
Lessa foi preso em sua casa, no condomínio Vivendas da Barra, na Barra da Tijuca, mesmo local onde o presidente Jair Bolsonaro (PSL) tem casa. O presidente não foi mencionado pelos investigadores.
Queiroz foi expulso da PM-RJ após se tornar réu na Operação Guilhotina, realizada pela Polícia Federal, em 2011, e voltada contra policiais fluminenses acusados de corrupção e de manter laços com traficantes.
A prisão da dupla teve grande repercussão nas redes sociais - o termo #MarielleFranco entrou na lista dos trending topics globais no Twitter.
Muitos, porém, cobravam a identificação dos mandantes do ataque - e não apenas dos executores -, além da elucidação dos motivos do crime.
Os pedidos pela responsabilização dos mandantes foram endossados pela arquiteta Mônica Benício, viúva de Marielle.
"Parabéns às promotoras, e a todos os envolvidos. Espero poder ter acesso aos detalhes para que sinta segurança nesse resultado. Mas ainda falta a resposta mais urgente e necessária de todas: QUEM MANDOU MATAR Marielle? Espero não ter que aguardar mais um ano para saber", ela escreveu no Twitter.
Em nota, a ONG Anistia Internacional pediu que um grupo independente de especialistas possa acompanhar as investigações. "A organização reitera que ainda há muitas perguntas não respondidas e que as investigações devem continuar até que os autores e os mandantes do assassinato sejam levados à Justiça", diz a ONG.
Outra ONG, a Human Rights Watch, afirmou que a detenção dos suspeitos, "se confirmadas as evidências sobre seu envolvimento, é um passo muito importante na eludicação deste grave crime que chocou o Brasil e o mundo".
"Para além disso, permanece o desafio fundamental de que os investigadores da polícia e o Ministério Público avancem no inquérito que visa identificar os mandantes do assassinato. A sociedade precisa saber não só quem apertou o gatilho, mas quem mandou matar e o porquê", diz a organização.
Ataque planejado
"A empreitada criminosa (contra Marielle e Anderson) foi meticulosamente planejada durante os três meses que antecederam o atentado", diz a nota do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco/MPRJ).
A operação foi batizada de Lume - uma referência ao Buraco do Lume, onde Marielle atuava num projeto chamado Lume Feminista.
"É inconteste que Marielle Francisco da Silva [nome de batismo da vereadora] foi sumariamente executada em razão da atuação política na defesa das causas que defendia", diz a denúncia, que classificou o atentado como um "golpe ao Estado Democrático de Direito".
Além das prisões, a operação realiza mandados de busca e apreensão nos endereços dos denunciados para apreender documentos, telefones celulares, notebooks, computadores, armas, acessórios, munições e outros objetos.
Os promotores do Gaeco/MPRJ concederão uma entrevista coletiva sobre a operação na tarde desta terça-feira. Desde o fim da manhã, o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), e policiais civis envolvidos na investigação também estão dando detalhes da operação a jornalistas.
Além dos pedidos de prisão, o Ministério Público pediu a suspensão da remuneração e do porte de arma de fogo de Lessa, além da indenização por danos morais aos parentes das vítimas e do pagamento de uma pensão ao filho de Anderson até que ele complete 24 anos.