Corregedoria da PM já investigava policiais que escoltavam delator do PCC, revela secretário
Segundo Guilherme Derrite, chefe da SSP de São Paulo, agentes terão que se explicar sobre o serviço 'extra corporação'
O secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, revelou, nesta segunda-feira, 11, que a corregedoria da Polícia Militar paulista já investigava os policiais que faziam a escolta do delator do PCC Antonio Vinicius Lopes Gritzbach, morto a tiros no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos.
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Em entrevista coletiva na sede da Secretaria de Segurança Pública (SSP) paulista, Derrite anunciou a criação de uma força-tarefa, composta por autoridades da Polícia Civil e Militar, em colaboração com o Ministério Público e a Polícia Federal, para elucidar e dar rápida resposta ao crime da última sexta-feira, 8.
À imprensa, o secretário reiterou que os celulares do policiais que faziam a escolta de Gritzbach no dia do crime foram apreendidos e serão analisados pela perícia. Segundo Derrite, os agentes terão que se explicar sobre o serviço 'extra corporação'.
"O simples fato de realizarem um serviço extra-corporação já configura uma transgressão disciplinar que não é permitida. Além disso, estavam fazendo isso para um indivíduo criminoso, não era um empresário, era um criminoso condenado em alguns processos, que já foi preso, então não há que se falar apenas em transgressão, mas no eventual cometimento de um crime militar por parte desses policiais", afirmou.
O secretário apontou que foi instaurado um inquérito policial militar para investigar não somente os agentes que faziam a escolta de Gritzbach, como também de outros policiais que eventualmente estejam 'envolvidos com indivíduos da facção criminosa PCC'. O processo corre em segredo de Justiça.
Delator era alvo de extorsão por policiais civis
Outro elemento que chamou a atenção das autoridades é o de que, no dia 31 de outubro, Gritzbach foi ouvido pela Corregedoria da Polícia Civil, após o Ministério Público compartilhar com as forças de segurança, trechos de sua delação em que denunciava policiais civis por extorsão.
"Não obtivemos, ainda, acesso à delação que ele fez com o Ministério Público, mas extratos dela, em que ele falava nomes de policiais civis que eventualmente teriam participado de algum tipo de extorsão contra ele, foram enviados à corregedoria. O primeiro a ser ouvido foi o próprio Vinícius", citou Derrite.
O secretário aprovou o depoimento do delator, uma vez que, como ele denunciava integrantes de organização criminosa e era acusado de duplo homicídio contra membros do PCC, as autoridades receavam que ele pudesse ser alvo de atentado, como o que aconteceu na sexta-feira.
"Quando o MP partilhou trechos dessa delatoria, a primeira ação foi ouvir o Vinícius para que ele pudesse, no inquérito da Polícia Civil, apontar os nomes e quais práticas delituosas, eventuais desvios de condutora, esses policiais poderiam ter cometido", destacou.
Criação de força-tarefa
Nesta segunda, Guilherme Derrite assinou a Resolução SSP 64/2024, dando ordem à criação de uma força-tarefa, composta por diversos agentes de segurança pública a nível estadual e federal, com o objetivo de 'cooperar diretamente com o MP e atuar para dar uma resposta rápida sobre o crime'.
O chefe da pasta informou que o grupo atuará sob coordenação do secretário executivo de Segurança Pública, Osvaldo Nico Gonçalves. Além de Gonçalves, participarão as seguintes autoridades no colegiado:
- Caetano Paulo Filho, delegado de Polícia, Diretor do DIPOL;
- Ivalda Oliveira Aleixo, delegada de Polícia, Diretora do DHPP;
- Pedro Luís de Souza Lopes, coronel da PM, Chefe do Centro de Inteligência da Polícia Militar;
- Fábio Sérgio do Amaral, coronel PM, Corregedor da Polícia Militar;
- Karin Kawakami de Vicente, perita Criminal de Classe Especial.
O decreto prevê que o grupo deverá responder pelo “compartilhamento de informações necessárias ao cumprimento de suas atribuições e, caso necessário, colaborando de forma complementar com autoridades federais, sem prejuízo da condução principal das investigações pelo Estado”.
A força-tarefa também fica incumbida de “informar periodicamente o secretário da Segurança Pública sobre a evolução dos trabalhos, com relatórios apresentados semanalmente e sempre que o avanço das investigações demandar atualização imediata”.
"O objetivo é, de fato, identificar, qualificar e prender esses criminosos que cometeram esse assassinato contra esse indivíduo, que foi investigado em outros inquéritos e era réu em um duplo homicídio", informou Derrite à imprensa.
Como foi a execução do empresário
O empresário Antonio Vinicius Lopes Gritzbach foi morto na área de desembarque do Terminal 2 do Aeroporto de Guarulhos. Ele era delator de uma investigação sobre lavagem de dinheiro do Primeiro Comando da Capital (PCC). Entre os bandidos, dizia-se que havia um prêmio de R$ 3 milhões pela cabeça do delator.
O ataque ocorreu por volta das 16h, e os atiradores estavam com o carro estacionado, à espera da vítima. Uma dupla de criminosos realizou pelo menos 27 disparos, conforme a perícia. Gritzbach foi atingido por dez tiros de fuzil, que transfixaram seu corpo.
O delator voltava de viagem com a namorada quando foi atacado a tiros. As imagens das câmeras de segurança do Aeroporto Internacional de Guarulhos mostram Gritzbach levando uma mala de rodinhas quando é surpreendido pelos atiradores. Ele tenta fugir, é atingido pelos disparos e cai perto da faixa de pedestres. É possível ver outras pessoas correndo por causa do tiroteio.
*Com informações de Estadão Conteúdo.