Criminoso que agia no Discord catalogava vítimas: "Backup das 'estupráveis'"
Abusadores usam plataforma para atrair menores de idade, que são violentadas, chantageadas e expostas
Um criminoso que utilizava o Discord, aplicativo popular entre adolescentes, catalogava as vítimas em uma pasta de arquivos denominada “backup das vagabundas estupráveis”. Recentemente, a plataforma foi alvo de investigações por ser usada por homens para atrair menores de idade, que são violentadas, chantageadas e expostas pelos abusadores.
Segundo reportagem exibida no Fantástico, da TV Globo, no domingo, 25, um dos bandidos tinha vários aparelhos para armazenar dados; em um deles, autoridades encontraram uma pasta com os arquivos catalogados. Em cada uma das dezenas de pastas, o nome de uma vítima foi identificado.
Uma das garotas tem apenas 13 anos e é de Joinville, em Santa Catarina. Em agosto de 2022, ela deixou um bilhete e fugiu de casa, atraída por um homem que conheceu no Discord.
“No início só foram conversando, falando que era amigo dela, que ela poderia ir para lá, que ia ser muito legal, que não teria nenhum adulto enchendo o saco. Ele mandou um aplicativo de carona daqui para ela ir para lá. E no primeiro dia já, ele forçou relações com ela. Depois disso, foram para outra casa. Chegando lá, eles doparam ela e a forçaram novamente a ter relações. E bateram nela, cortaram ela”, contou a irmã da vítima ao Fantástico.
A garota foi estuprada por diferentes agressores, e alguns crimes foram transmitidos pelo Discord. No entanto, isso só chegou ao conhecimento das autoridades meses depois.
A adolescente viajou mais de 500 quilômetros em um carro de aplicativo e ficou em uma casa em São Paulo com outros adolescentes que também tinham fugido de casa. Eles foram aliciados por Carlos Eduardo Custódio, de 21 anos, conhecido como DPE. Ela foi convencida a voltar para casa depois da persistência da irmã, que a acolheu após o episódio.
Vitor Hugo Souza Rocha, que mostrou o "backup das vagabundas estupráveis", foi preso. A apreensão do HD e o depoimento dele ajudaram a Polícia Civil de São Paulo a confirmar a identidade de mais dois criminosos - além dele e de Carlos Eduardo, o DPE: Gabriel Barreto Vilares, o Law, acusado de ser uma das pessoas que violentaram sexualmente a garota de Joinvillle, e William Maza dos Santos, o Joust.
Gabriel e William foram presos na última sexta-feira, 23. Carlos Eduardo está foragido. Além da responsabilização individual dos agressores, o Ministério Público de São Paulo também investiga o próprio Discord.
Em entrevista ao Fantástico, o porta-voz do Discord disse que a plataforma “não tolera comportamento odioso”.
“Nós somos um produto gratuito para mais de 150 milhões de usuários ao redor do mundo, e de tempos em tempos, conteúdo mau e comportamento mau vão acontecer. Nós trabalhamos ativamente para remover esse conteúdo”, afirmou o porta-voz.
“Gostaria de enfatizar que a vasta maioria das interações de brasileiros usando Discord são positivas e saudáveis. Nós somos proativos e investigamos grupos que podem estar envolvidos em ameaças a crianças e trabalhamos para tirar esses agentes ruins da plataforma”.