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Polícia

Delegados: irmão de PC Farias ofereceu propina para não ser indiciado

Investigadores contrariaram Augusto Farias, que havia acusado os dois de propor que ele incriminasse os 4 PMs

8 mai 2013 - 13h28
(atualizado em 10/5/2013 às 10h11)
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<p>O delegado Antônio Carlos Lessa presta depoimento como testemunha arrolada pelo juiz, em Maceió</p>
O delegado Antônio Carlos Lessa presta depoimento como testemunha arrolada pelo juiz, em Maceió
Foto: Itawi Albuquerque / Futura Press

Os delegados Alcides Andrade e Antônio Carlos Lessa, da Polícia Civil de Alagoas, afirmaram nesta quarta-feira que o irmão do empresário Paulo César Farias, o ex-deputado federal Augusto Farias, ofereceu propina para que não fosse indiciado no inquérito sobre a morte de PC Farias e da namorada dele, Suzana Marcolino. Os dois delegados prestaram depoimento como testemunhas no julgamento de quatro policiais militares acusados de participação no assassinato do casal.

Alcides Andrade, que falou primeiro, disse que, após o crime, o colega dele, Antônio Lessa, recebeu uma oferta de dinheiro. Em troca, os delegados indiciariam apenas os quatro PMs que hoje estão no banco dos réus - Adeildo Costa dos Santos, Reinaldo Correia de Lima Filho, Josemar Faustino dos Santos e José Geraldo da Silva -, que trabalhavam como seguranças de PC Farias.

<p>O delegado Alcides Andrade depõe no julgamento dos PMs</p>
O delegado Alcides Andrade depõe no julgamento dos PMs
Foto: Itawi Albuquerque / Futura Press

"Eu tomei conhecimento, através do meu colega Antônio Carlos Lessa, que havia uma pessoa contatando ele em nome do deputado Augusto, e que essa pessoa queria conversar sobre a possibilidade do que fazer nessa ocasião", disse o delegado Andrade. "Essa conversa foi gravada, e isso tudo eu tomei conhecimento, mas quanto à minha pessoa, não houve nenhum contato", afirmou.

O delegado Antônio Lessa confirmou a versão de Andrade e afirmou que quem entrou em contato com ele para oferecer a propina foi o jornalista Roberto Baía, então diretor da sucursal da Tribuna de Alagoas em Arapiraca. Segundo o delegado, o jornalista o procurou várias vezes para oferecer dinheiro em troca da retirada do nome de Augusto Farias do inquérito.

"'Aceite R$ 100 mil'", disse Baía, conforme relatou Lessa, que afirmou ter respondido: "não se preocupe, se não tem envolvimento, que fique tranquilo". O delegado disse que usou equipamentos para gravar a conversa em um dos encontros com o jornalista, mas que o áudio ficou com má qualidade devido a ruídos do ambiente. Depois, Lessa marcou outro encontro com Baía e planejava prendê-lo em flagrante - mas, segundo o delegado, o jornalista não levou o dinheiro ao local.

A palavra dos delegados contraria a versão apresentada na terça-feira por Augusto Farias. Segundo o irmão de PC, os dois investigadores lhe fizeram uma proposta para livrá-lo do indiciamento, jogando a culpa nos quatro réus.

"Eles me falaram: 'nós temos uma forma de não pedir o seu indiciamento'. E eu disse 'que forma é essa?'. 'Você entrega os seguranças e nós não pediremos o indiciamento de vossa excelência'. (...) Eu respondi: 'E a minha consciência? Como eu vou dormir, entregando quatro inocentes?'", afirmou. Augusto chegou a ser indiciado como mandante dos crimes, mas o inquérito foi arquivado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Peritos são ouvidos

Após os depoimentos dos dois delegados, o juiz Maurício Brêda determinou um intervalo para o almoço. Em seguida, ele começou a chamar os peritos que analisaram a cena do crime. Primeiro, foi chamada a perita Anita Buarque de Gusmão, que esclareceu dúvidas sobre o laudo que ela fez sobre a cena do crime. Depois dela, o juiz chamou o perito criminal Nivaldo Gomes Cantuária, que também respondeu a perguntas sobre o laudo produzido por ele. 

Terceiro perito a falar, José Lopes da Silva Filho esclareceu detalhes técnicos do laudo da cena do crime. Segundo ele, o projétil que atingiu o corpo de PC Farias foi disparado à distância, enquanto o que matou Suzana "estaria praticamente encostado na pele". "A causa da morte dos dois (foi) devido a hemorragia aguda, provocada por esse instrumento (projétil). Não há nenhuma dúvida disso", afirmou José Lopes, que garantiu não haver "qualquer controvérsia" no laudo.

Questionado pela promotoria pelo fato de a perícia não ter detectado a presença de respingos de sangue na arma usada no crime, o perito afirmou que, mesmo que estivesse quase encostada no corpo de Suzana, a arma poderia sair "limpa" devido às particularidades da região atingida. "O tórax humano tem pressão negativa. Não sai nada do tórax antes que se iguale a pressão com o ambiente. Para que comece a sair sangue, é preciso que primeiro entre o ar para que esse sangue saia", relatou. A promotoria contra-argumentou citando um segundo laudo, que detectou a presença de sangue durante uma simulação de disparo à queima-roupa. Segundo o perito, porém, a simulação não respeitou as características do tórax humano, utilizando um alvo com pressão positiva, o que invalidaria as suas conclusões.

Em seguida, foi chamado o médico-legista Gerson Odilon Pereira, que participou da necropsia do casal. O promotor Marcos Mousinho perguntou por que a altura de Suzana não foi registrada no laudo necroscópico, estando presente apenas a altura de PC Farias. Segundo Mousinho, alguns peritos afirmam que um erro no cálculo da altura de Suzana poderia invalidar as projeções da trajetória dos disparos feitos nas vítimas, o que poderia jogar dúvidas na hipótese de que a namorada de PC Farias tenha sido a autora do crime. Mousinho, porém, minimizou a ausência da altura de Suzana, afirmando que esta informação não é tão relevante para a necropsia quanto para a perícia criminal.

Os crimes

Paulo César Farias e Suzana Marcolino foram assassinados na madrugada do dia 23 de junho de 1996, em uma casa de praia em Guaxuma. À época, o empresário respondia a vários processos e estava em liberdade condicional. Ele era acusado dos crimes de sonegação de impostos, falsidade ideológica e enriquecimento ilícito. A morte de PC Farias chegou a ser investigada como queima de arquivo, já que a polícia suspeitou que o ex-tesoureiro poderia revelar nomes de outras pessoas que teriam participação nos mesmos ilícitos.

Entretanto, a primeira versão do caso, que foi apresentada pelo delegado Cícero Torres e pelo legista Badan Palhares, apontou para crime passional. Suzana teria assassinado o namorado e, na sequência, tirado a própria vida. A versão foi contestada pelo médico George Sanguinetti, que descartou tal possibilidade e, mais tarde, novamente questionada por uma equipe de peritos convocados para atuar no caso. Os profissionais forneceram à polícia um contralaudo que comprovaria a impossibilidade, de acordo com a posição dos projéteis, da tese de homicídio seguido de suicídio.

Fonte: Terra
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