Denarc nega uso de bala de borracha e diz que ação foi 'certíssima'
Para ela, a ação foi dentro da legalidade e o trabalho do Denarc vai continuar onde houver tráfico
A diretora do Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico (Denarc), Elaine Biasoli, classificou como "certíssima" a ação de policiais no combate ao tráfico de drogas na tarde desta quinta-feira na Cracolândia, região central de São Paulo. De acordo com a delegada, quatro suspeitos de tráfico foram presos em flagrante, em um grupo de pelo menos 30 detidos.
A policial negou que o efetivo do Denarc tenha utilizado balas de borracha durante a ação, ao contrário do afirmado no local por moradores e usuários de crack. Ela também rechaçou a hipótese de que a Prefeitura de São Paulo deveria ter sido avisada das abordagens - desde a semana passada, está em andamento na Cracolândia o programa municipal Braços Abertos, que prevê o convencimento dos usuários de drogas a integrarem programas da prefeitura na tentativa de que elas abandonem o vício e se reintegrem, mediante trabalho e remuneração, à sociedade.
"O trabalho do Denarc vai continuar onde houver tráfico. E não só na Cracolândia, mas em todas as regiões. A ação foi dentro da legalidade", disse a delegada. Indagada sobre suposta desproporcionalidade na ação repressiva da polícia, conforme alegado pela prefeitura, a policial definiu: "A ação foi certíssima. Queremos acabar com o tráfico na Cracolândia até para preservar a família dos dependentes. Porque quem alimenta essa pessoa? O traficante", declarou.
A delegada afirmou que durante a ação foram utilizadas apenas armas contra motins, sem munição. O uso, segundo ela, foi necessário porque policiais teriam sido ferido a pauladas e pontapés, além de três viaturas que ficaram danificadas.
Pelos números do Denarc, entre 1º de dezembro do ano passado e o dia 20 deste mês, 65 suspeitos de tráfico foram presos na Cracolândia.
"Não conheço a fundo o programa (Braços Abertos) da Prefeitura, deve ser social. O meu trabalho é policial", definiu a chefe do Denarc. "E nosso trabalho vai continuar onde houver tráfico --essa é a parte social da polícia, porque a gente tem dó do dependente", defendeu. "Não é fácil para o cidadão ter um dependente químico na família", concluiu.
"Acham que é tudo coitadinho?", ironiza funcionária do Denarc
Durante a entrevista coletiva concedida pela delegada na sede do Denarc, no Bom Retiro (centro de SP), a reportagem do Terra ouviu quando duas funcionárias do órgão hostilizavam, a distância segura da chefe, jornalistas que perguntavam sobre a ação da polícia na Cracolândia. Uma delas chegou a sugerir: "Eles (jornalistas) acham que usuário e traficante são todos coitadinhos. Tinham que levar um tiro de um desses para ver".
Questionada sobre o teor das declarações, a delegada --que é mãe de um jornalista, enfatizou -- as repudiou: "Vou tomar providências. Isso não se diz sobre ninguém."
Prefeitura repudia ação
Por meio de nota, a Prefeitura de São Paulo se disse surpreendida com a ação e repudiou a ação da polícia. De acordo com, a nota, esse tipo de postura pode comprometer a continuidade do programa Braços Abertos.
Em um trecho do documento, a administração municipal disse que a prisão de traficantes deve ser feita sem o uso desproporcional da força. "A prefeitura repudia esse tipo de intervenção, que fez uso de balas de borracha e bombas de efeito moral contra uma multidão formada por trabalhadores, agentes públicos de saúde e assistência e pessoas em situação de rua, miséria, exclusão social e grave dependência química. A Operação de Braços Abertos é uma política pública municipal pactuada com o governo estadual, que preconiza a não-violência e na qual a prisão de traficantes deve ser feita sem uso desproporcional de força."
A nota informa que agentes da prefeitura trabalham há seis meses para conquistar a confiança e obter a colaboração das pessoas atendidas. "A administração reafirma seu empenho na solução deste problema da cidade e manifesta sua preocupação com este tipo de incidente, que pode comprometer a continuidade do programa. E expressou essa posição diretamente ao Governo do Estado."