Denunciados PMs do caso Amarildo por corrupção de testemunha
O Ministério Público do Estado do Rio De Janeiro (MP-RJ) e a 2ª Promotoria de Justiça da Auditoria Militar denunciaram quatro policiais militares por crime militar no caso do desaparecimento do pedreiro Amarildo de Souza, ocorrido em 14 de julho do ano passado. Eles são acusados de corrupção ativa de testemunhas. O crime foi praticado duas vezes durante as investigações sobre o desaparecimento do pedreiro, torturado e morto por integrantes da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha.
Também foram pedidas as prisões do major Edson Raimundo dos Santos e do tenente Luiz Felipe de Medeiros, na época comandante e subcomandante da UPP, respectivamente. Além desses dois, atualmente presos cautelarmente, foram denunciados pelo mesmo crime os soldados Newland de Oliveira e Silva Júnior e Bruno Medeiros Athanasio. Os dois responderão em liberdade.
De acordo com a denúncia, os PMs pagaram R$ 850 e R$ 500 a duas testemunhas para que, em depoimento, acusassem o traficante Thiago da Silva Neris, conhecido como “Catatau”, pela morte do pedreiro. Newland e Bruno atuaram como interlocutores do major Edson, vigiavam as testemunhas e utilizaram seus carros particulares para mudá-las de residência. Uma das testemunhas chegou inclusive a receber fraldas descartáveis como propina.
Caso condenados pelo crime, os quatro poderão cumprir até 16 anos de prisão neste novo processo.
Novo laudo
Um novo laudo pericial de exame de voz, produzido pelo Centro de Criminalística (CCRIM) da Polícia Militar, concluiu que a voz que se fez passar pelo traficante “Catatau”, assumindo a autoria da morte de Amarildo, é do policial militar Marlon Campos Reis, réu no processo criminal do caso Amarildo. O novo laudo reforça as provas apresentadas até o momento pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ). O resultado coincide com o parecer técnico realizado anteriormente pela Coordenadoria de Segurança e Inteligência (CSI) do MP-RJ. Na ligação, Marlon faz supostas ameaças e diz que já “botou o Boi (apelido de Amarildo) na sua conta”.
Marlon sabia que sua ligação estava sendo monitorada, por ordem judicial, porque efetuou ligação para o celular de outro policial que sabia estar grampeado na chamada operação Paz Armada. Mas a versão inicial de que a voz seria do traficante foi logo descartada por um laudo da Polícia Civil.
Em seguida, nova análise feita pela Divisão de Evidências Digitais e Tecnologia (DEDIT) da CSI/MP-RJ, comparando a voz dos 34 PMs citados no processo, descobriu que o soldado Marlon foi o autor da ligação, acompanhado do soldado Vital. Com o telefone monitorado, eles foram a Higienópolis fazer a ligação. A interceptação dos celulares particulares dos dois também identificou que eles estavam na mesma estação de rádio base da ligação.
“O trabalho em parceria das Promotorias de Auditoria Militar e o GAECO têm produzido efeitos positivos no combate à corrupção policial e em favor da sociedade. O trabalho conjunto da PM também deve ser destacado. Os policiais erram, mas a instituição não pode ser atacada, pois tem dado uma importante contribuição em prol deste caso, como comprova esta nova perícia”, afirmou o promotor Paulo Roberto.
O processo do caso Amarildo, que tramita na 35ª Vara Criminal, irá ingressar na fase de alegações finais. Em outubro de 2013, a Justiça recebeu denúncia do MP-RJ contra 25 policiais por tortura, 17 por ocultação de cadáver, 13 por formação de quadrilha e quatro por fraude processual.