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Polícia

Denúncias apontam grupo de extermínio em batalhão de PM morta em chacina

Comandante chegou a dizer - e depois desmentiu - que a cabo Andreia havia denunciado colegas por envolvimento em roubo a caixas eletrônicos

10 ago 2013 - 11h31
(atualizado às 11h51)
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A PM Andreia Regina Bovo Pesseghini posa para foto com o filho, Marcelo Eduardo, 13 anos
A PM Andreia Regina Bovo Pesseghini posa para foto com o filho, Marcelo Eduardo, 13 anos
Foto: Facebook / Reprodução

O 18º Batalhão da Polícia Militar, onde trabalhava a cabo Andreia Bovo Pesseghini, 35 anos, - morta ao lado do marido, o filho, a mãe e uma tia entre domingo e segunda-feira em uma chacina que mobilizou a polícia paulista - tem um histórico de suspeitas de corrupção e grupos de extermínio.

Na última quarta-feira, o comandante do batalhão, coronel Wagner Dimas, disse em entrevista à Rádio Bandeirantes que a cabo havia denunciado alguns colegas que estariam envolvidos com roubos a caixas eletrônicos, em São Paulo. Indicando que a autoria do crime poderia estar relacionada a algum tipo de vingança.

Mais tarde, porém, o oficial voltou atrás na declaração e disse não haver qualquer denúncia sobre PMs envolvidos com os crimes e que a policial não fez qualquer menção a respeito. Wagner Dimas se justificou, dizendo "ter se perdido" durante a entrevista à emissora de rádio. Porém, esses não são os únicos casos suspeitos envolvendo o 18º Batalhão.

Um relatório da Polícia Civil divulgado em março de 2011 responsabilizou dois grupos de extermínio formados por policiais militares por pelo menos 150 mortes na cidade de São Paulo entre 2006 e 2010. Entre as vítimas, 61% não tinha antecedentes criminais, sendo que 20% dos crimes teria sido motivado por vingança, 13% por abuso de autoridade, 13% pelo que o relatório chama de "limpeza" (como o assassinato de viciados em drogas), 15% por cobranças ligadas ao tráfico ou ao jogo ilegal e 39% "sem razão aparente".

A investigação do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) acusa 50 PMs de formar e unir os grupos da zona leste e da zona norte (o "Matadores do 18") para assumir o controle do tráfico de drogas e explorar jogos de azar. Os Matadores do 18 é apontado como uma milícia formada por policiais do batalhão no qual trabalhava Andreia.

Casos suspeitos

Em junho de 2011, dois PMs do batalhão foram acusados de assassinar um comerciante, em setembro de 2006, após ele se recusar a pagar propina aos policiais em São Paulo. A Polícia Civil concluiu que o soldado Pascoal dos Santos Lima e o 2º sargento Lelces André Pires de Moraes integravam o grupo Matadores do 18.

O DHPP afirma que Alexandre Pereira da Silva foi morto porque se recusou a pagar pela proteção dos PMs a suas máquinas caça-níqueis. O soldado e o 2º sargento já estavam presos na época, por suspeita de participação no assassinato do coronel da Polícia Militar Hermínio Rodrigues. Segundo a polícia, a mesma arma usada para matar o comerciante foi usada na morte do oficial.

Coronel executado

O comandante do policiamento na zona norte de São Paulo, José Hermínio Rodrigues, foi morto a tiros quando passeava de bicicleta na avenida Engenheiro Caetano Álvares, em janeiro de 2008.

Segundo as investigações, os policiais acusados da morte do oficial cometeram o crime após um dos indiciados, o soldado Pascoal dos Santos Lima, ter sido transferido do 18º batalhão para um setor administrativo após se envolver com frequências em ocorrências que terminavam em morte. No início desse ano, o Tribunal de Justiça Militar de São Paulo absolveu os acusados. Eles foram expulsos da corporação em setembro de 2012.

Um exame balístico feito pela Polícia Científica mostrou que a pistola de calibre 380 usada no assassinato do coronel também foi utilizada em uma chacina que deixou seis mortos na Água Fria, zona norte de São Paulo, em junho de 2007.

Chacina suspeita

Uma reportagem publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo em fevereiro de 2008 apontou que um exame de balística ligava a morte do coronel José Hermínio Rodrigues ao grupo de extermínio Matadores do 18. Os testes mostrara que a arma que foi usada para assassinar o coronel é a mesma usada em uma chacina que deixou seis mortos e um ferido em Água Fria, na zona norte da capital.

A ligação já havia sido apontada por testemunhas, que acusavam policiais de terem participado das mortes em Água Fria, ocorrida no dia seguinte à morte de um soldado da PM em um assalto na região. As cápsulas de uma pistola calibre 380 utilizada no crime foi comparada com a usada na morte do coronel. As marcas que a arma deixou na cápsula da bala de cada caso se mostrou compatível.

Irmãos executados

Também em fevereiro de 2008 foram presos dois soldados do 18º batalhão, acusados de aproveitar ataques de uma facção criminosa para assassinar o soldado Odair José Lorenzi e a irmã dele, Rita de Cássia. Segundo as investigações, as vítimas foram mortas em uma emboscada, na Vila Nova Cachoeirinha, na zona norte da capital, no dia 12 de junho de 2006. Para a polícia civil, a morte ocorreu por uma disputa entre policiais por um bico como segurança de um bingo.

No dia do crime, os PMs acusados disseram que haviam sido vítimas de um ataque do Primeiro Comando da Capital (PCC), pouco antes do atentado aos dois irmãos.

Amigos mortos após abordagem

Policiais do 18º batalhão disseram que o pintor Charles Wagner Felício, 32 anos, e o amigo dele, Cleiton de Souza, 25, haviam praticado uma chacina, resistiram a prisão e foram mortos em um tiroteio no dia 24 de maio de 2007. Porém, segundo matéria publicada pelo Estado de S. Paulo, em 16 de fevereiro de 2008, pouco antes de morrer, os dois amigos usaram um celular para denunciar seus algozes.

O pintor tirou duas fotos, uma dele mesmo, às 16h51, e a outra, um minuto depois, do amigo e guardou o celular na cueca. De acordo com as imagens, ambos estariam em um banco traseiro de um carro que parece ser uma Blazer, utilizada pela Força Tática da Polícia Militar. O fato que chamou a atenção da Polícia Civil, no entanto, foi o horário da chacina da qual os dois foram acusados: 20h10.

Além das fotografias, uma testemunha viu quando os policiais do 18º batalhão prenderam a dupla. Segundo ela, a prisão aconteceu por volta de 15h30.

Governador de São Paulo na época, José Serra (PSDB), chegou a admitir a existência de grupos de extermínio na polícia paulista. “ "Não admitimos esquadrões. Grupos de extermínio. Estamos combatendo. Não é uma tarefa fácil. Estamos trabalhando com muita firmeza nessa direção", disse o então governador durante um evento oficial no litoral do Estado.

Chacina em casa de PMs

Apesar de informações sobre uma possível vingança contra a policial Andrea Pesseghini, a Polícia Civil de São Paulo trabalha com apenas uma linha de investigação, que aponta o filho do casal de PMs, Marcelo Eduardo Bovo Pesseghini, 13 anos,como o autor dos disparos.

Segundo os laudos preliminares do Instituto de Criminalística, tudo leva a crer que o adolescente teria assassinado o pai, o sargento das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) Luis Marcelo Pesseghini, 40 anos, a mãe, a cabo da PM Andreia Regina Bovo Pesseghini, 35 anos, a avó Benedita de Oliveira Bovo, 65 anos, e a tia-avó Bernadete Oliveira da Silva, 55 anos.

Tudo leva a crer que garoto matou os pais, diz delegado:

O delegado Itagiba Franco, do Departamento de Homicídio e de Proteção à Pessoa (DHPP) de São Paulo, afirmou que não tem dúvidas sobre a autoria da chacina. "Eu não tenho dúvidas (sobre a autoria do crime), mas vamos prosseguir normalmente no sentido de registrar todas as informações que chegaram, fazer comparações e chegar ao denominador comum de que esta linha que estamos seguindo é mais acertada", falou o delegado, que deu detalhes da perícia complementar realizada na noite de ontem.

"No local não tinha sangue nenhum, a não ser nos locais onde estavam os corpos", disse Itagiba, atestando que não foram encontrados vestígios de um eventual sexto elemento na cena do crime.

"Quero deixar claro que ele era um menino muito bem cuidado, ele foi sozinho de carro e dormiu no veículo. Será que os pais permitiriam que ele passasse a noite inteira fora, sendo que ele tomava uma série de remédios? Com certeza ele sabia que os pais já estavam mortos", acrescentou o delegado.

Apesar da conclusão apresentada pelo delegado, as investigações continuam e o inquérito continua aberto. Para Itagiba Franco, é preciso ter calma e serenidade para que nenhum erro seja cometido.

Fonte: Terra
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