Em ligações, fugitivos de Mossoró revelam detalhes dos 50 dias de esconderijo e plano de ir para Bolívia
Com autorização judicial, a PF estava monitorando os celulares dos foragidos; eles foram recapturados antes de tentar deixar o País
Únicos fugitivos na história dos presídios de segurança máxima do Brasil, Rogério da Silva Mendonça, de 35 anos, e Deibson Cabral Nascimento, de 33, foram recapturados na quinta-feira, 4, após 50 dias de fuga. Áudios da dupla interceptados pela Polícia Federal e divulgados pelo Fantástico, da TV Globo, revelam detalhes do esconderijo dos criminosos.
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Vídeos registrados pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) e divulgados com exclusividade pelo programa da TV Globo mostram quando, na tarde da última quinta-feira, os agentes realizaram uma abordagem a um veículo de cor preta. O condutor, imediatamente, coloca suas mãos na cabeça ao sair do carro, seguido por Deibson, conhecido como Tatu, o passageiro.
Sob a ordem das autoridades, ambos foram instruídos a deitar no chão, enquanto as câmeras registravam o momento da captura dos fugitivos do Presídio de Segurança Máxima de Mossoró.
Outras imagens mostram agentes da Polícia Federal em perseguição a um veículo branco. A bordo deste automóvel está Rogério, apelidado de Martelo, acompanhado por outro indivíduo. Ambos são posteriormente detidos pelas autoridades.
Em outra operação próxima dali, uma equipe da PRF aborda um terceiro veículo, transportando mais dois cúmplices que prestavam apoio à tentativa de fuga. Entretanto, o que os criminosos não tinham conhecimento é que estavam sob constante monitoramento por parte da Polícia Federal.
“Nós jamais abandonamos as buscas, jamais. A Polícia Federal de Mossoró manteve o seu trabalho com toda intensidade, jamais desmobilizou os agentes que trabalhavam na inteligência , inclusive a colaboração da superintendência do Pará foi fundamental para encontrar os fugitivos no local onde finalmente foram capturados”, explicou o Ministro da Justiça Ricardo Lewandowski ao Fantástico.
Movimentação no dia da prisão
No dia da recaptura dos fugitivos, policiais federais identificaram que a movimentação deles teve início nas primeiras horas da manhã.
Por volta das 6h40, os foragidos atravessaram Marituba, situada a 11 quilômetros de Belém. Às 9h40, registros indicam que estavam localizados no município de Tailândia. Mais tarde, às 11h15, passaram por Goianésia, seguido por Jacundá às 12h05 e Nova Ipixuna às 12h45.
Às 13h03, enquanto se encontravam em Morada Nova, agentes da Polícia Federal, em veículos sem identificação oficial, observaram quando os automóveis dos criminosos romperam um bloqueio montado pela Polícia Militar do Pará. A partir desse momento, iniciou-se o acompanhamento dos criminosos.
Aproximadamente 20 minutos depois, ocorreu a abordagem que permitiu a recaptura da dupla, em Marabá (PA).
Com autorização judicial, a Polícia Federal estava monitorando os celulares dos foragidos. O programa dominical da Globo obteve acesso exclusivo às conversas entre o criminoso Rogério da Silva e uma mulher.
“Tu fica tranquila que tem uma pessoa ali que vê se tá rastreado ou não tá sendo rastreado. Entendeu, tu? O bagulho foi cerradinho, se tu ver, eu passei por um imprensado grande, grande, grande, mesmo assim, se tu ver, um bagulho de filme mesmo. Um monte de helicóptero, um monte de drone. Foi Deus que me salvou. Os caras perseguindo nós, passando assim e nós sentindo os "chulé" da bota dos caras”, detalhou ele sobre a fuga.
Depois, o fugitivo acrescentou: “Eu tô livre e curtindo a vida. Eu tô bem, graças a Deus. Cheio de saúde, força, liberdade, pegando um ventozão aqui. Tá ótimo demais, eu pensava que nunca mais ia viver isso. Vamos se casar hein, quero te ver pessoalmente, te abraçar. Pra confortar um pouco a saudade que tenho de ti", declarou ele à mulher com quem conversava.
Ainda durante a conversa, Rogério deu detalhes dos próximos passos da fuga: "Eu acho que não vai mais um mês, porque agora nós atravessamos uma parte por água. Estamos aqui nesse lugar tipo uma ilha esperando alguém buscar nós. Eu acho que hoje ou amanhã chega um carro aqui pra pegar nós. Vai tirar nós de dentro do País.”
Na ligação, Rogério faz menção à Ilha de Mosqueiro, localizada no Pará, a cerca de 70 quilômetros do centro de Belém. Segundo informações obtidas nas investigações, os fugitivos partiram de Icapuí, no Ceará, navegando por seis dias pela costa até alcançar essa ilha. Antes disso, no início da fuga, passaram aproximadamente um mês na região de Baraúna, no Rio Grande do Norte.
De acordo com os dados levantados, o objetivo do grupo era chegar até a Bolívia. Os seis detidos foram encaminhados para a delegacia da Polícia Federal em Marabá, onde permaneceram em silêncio durante os interrogatórios.
Tanto Deibson quanto Rogério foram transferidos de volta para a mesma unidade da qual haviam fugido em 14 de fevereiro, ou seja, o presídio de segurança máxima de Mossoró, no Rio Grande do Norte. Eles ficarão sob constante monitoramento em celas separadas, segundo o Ministério da Justiça.
Os outros quatro criminosos permanecem sob custódia em Marabá. Segundo as autoridades policiais, eles são associados ao Comando Vermelho e receberam instruções para auxiliar e facilitar a fuga de Rogério e Deibson.
As investigações continuam e a Polícia Federal busca identificar os “padrinhos” de fuga da dupla, ou seja, quem foram os membros do crime organizado que financiaram e operacionalizaram os esconderijos e o plano de levá-los de forma clandestina para o exterior. Os investigadores buscam mapear os integrantes do crime organizado que teriam sido os principais responsáveis por ajudar os criminosos. As informações são do blog Bela Megale, do jornal O Globo.