"Era só o nosso pai", diz filho de coronel assassinado no RJ
Corpo de Paulo Malhães, coronel reformado do Exército que admitiu ter participado de torturas e desaparecimentos durante a ditadura, é velado em Nova Iguaçu (RJ)
O corpo do coronel de reserva Paulo Malhães foi enterrado por volta das 15h deste sábado no Cemitério Municipal de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. O coronel foi enterrado em uma cerimônia rápida, sob aplausos de cerca de 30 pessoas entre amigos e familiares. A esposa, Cristina Malhães, de 36 anos, chorou durante todo o cortejo.
O corpo de Paulo Magalhães começou a ser velado por volta das 12h10. No início do velório, apenas seis pessoas o acompanham. Malhães foi assassinado nesta quinta-feira em seu sítio em Cabuçu, no município de Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro. Em depoimento à comissão há cerca de um mês, o coronel confessou ter participado de sessões de torturas durante a ditadura militar.
"A gente sabe o que era para vocês, mas para a gente ele era só o nosso pai", afirmou um dos filhos do coronel, Paulo Malhães, de 28 anos. Ele disse que não sabia de ameaças ao pai. "Ele não chegou a comentar nada, a gente não sabe de nada. Estamos tão perdidos quanto vocês."
Sobre a causa da morte, o empresário Nelson Viana, genro do coronel afirmou que a família acredita na hipótese de assalto. "Ali (onde ele morava) era uma área de risco, não temos ideia do que aconteceu. A gente tá levando pro lado do assalto”.
Questionado sobre a participação de Paulo Magalhães nas sessões de tortura durante a ditadura militar, Viana afirmou que a família desconhecia. “Ele nunca falou nada para a gente e a gente sempre respeitou. Ele era um homem reservado, falávamos com ele às vezes por telefone. Todo mundo se surpreendeu (com o depoimento)."
De acordo com o delegado Fabio Salvadoretti, nenhuma hipótese está descartada. O corpo do coronel, de 77 anos, foi encontrado no quarto do casal pela viúva, Cristina Batista, 36, por volta das 22h de quinta-feira. Segundo a polícia, Malhães aparentava ter sido asfixiado, já que estava deitado no chão, de bruços e com o rosto num travesseiro. A casa foi invadida e a esposa do coronel e o caseiro foram feitos reféns. "A investigação está muito preliminar ainda. Pode ter sido um latrocínio, uma vingança ou um crime relacionado com o depoimento prestado por ele à Comissão Nacional da Verdade", disse.
Em depoimento à Comissão Nacional da Verdade no dia 25 de março, Malhães falou sobre o desaparecimento dos restos mortais do deputado federal Rubens Paiva. Também informou que agentes do Centro de Informação do Exército (CIE) mutilavam corpos de vítimas da repressão na Casa da Morte (Petrópolis) arrancando arcadas dentárias e pontas dos dedos para impedir sua identificação.