Investigado por ligação com Hezbollah afirma à PF que foi recrutado no Brasil para "matar e sequestrar"
A PF prendeu duas pessoas em uma operação para desmembrar uma suposta célula do grupo militante que estaria planejando atentados no Brasil
Um dos investigados pela Polícia Federal por suspeita de ligação com o Hezbollah afirmou em depoimento que, em viagem que fez a Beirute em abril após ser recrutado no Brasil, encontrou-se reservadamente com o que seria um chefe da organização que lhe disse que "precisava de gente capaz de matar e sequestrar", segundo transcrição do depoimento vista pela Reuters.
A PF prendeu duas pessoas em uma operação na quarta-feira para desmembrar uma suposta célula do grupo militante libanês Hezbollah que estaria planejando ataques a alvos judaicos no Brasil. A agência de espionagem israelense Mossad disse em uma declaração que ajudou o Brasil a frustrar um ataque.
A transcrição do depoimento, que ocorreu na própria quarta-feira, aponta que o "então chefe" disse ao investigado que "não era uma atividade limpa" e que ele "precisava de gente capaz de matar e sequestrar".
O investigado disse aos policiais ter desconversado e dado a entender que não tinha capacidade de praticar aqueles atos criminosos, no que foi questionado que ele não estava sendo claro. O depoente, segundo contou à PF, então "olhou para o chefe e falou claramente: 'eu não sou a pessoa certa para realizar este serviço', e afirmou que não queria desperdiçar o tempo deles".
Segundo o depoente, o chefe "gostou da sinceridade do declarante" e disse que ele não iria sair do Líbano sem aprender algumas coisas. O investigado afirmou ter sido instruído pelo chefe por aproximadamente cinco horas por "instruções para a vida".
O investigado informou à PF que não tinha advogado e pretendia prestar declarações mesmo sem um representante. As declarações vistas pela Reuters, obtida com fonte da PF, estão tarjadas de preto em partes sensíveis que estão sob investigação. O nome do investigado também não foi divulgado.
Procurada, a assessoria da PF disse que não vai comentar o depoimento.
Durante as quatro páginas de transcrição do depoimento, o alvo da operação da PF narrou como foi recrutado no Brasil e viajou para Beirute em abril. Ele detalhou as estratagemas para pegar o voo até a capital libanesa, ficar descansando em hotel no primeiro dia, tendo sido contactado por um número de WhatsApp paraguaio, até o encontro secreto que teve com o que seria um chefe da organização.
O suspeito disse que, antes da viagem para Beirute, ele conheceu alguém em São Paulo que forneceu 400 dólares em dinheiro e 200 reais para a viagem, durante a qual foram cobertos os custos com voos e hotéis. Na viagem, o suspeito descreveu ter recebido 600 dólares adicionais e uma oferta para adquirir um táxi no Brasil "para trabalhar na coleta de informações das pessoas".
Segundo o depoente, o recrutador -- sobre quem disse não possuir nenhum dado dele -- seria um indivíduo "branco, aproximadamente 1,87m, aparentava por volta de 42 anos de idade, cabelos castanhos bem claros, nariz grande, magro, barba clara".
Para despistar eventuais vínculos com o grupo, antes de retornar ao Brasil o investigado fez turismo e tirou fotos para indicar que sua viagem ao país seria para turismo. Segundo o depoente, ele somente descobriu que a organização poderia ser o Hezbollah quando já estava no Brasil ao fazer uma pesquisa pela internet. Ele contou ter sido remunerado em vários momentos das negociações.