Júri do Carandiru recomeça com depoimento das testemunhas de defesa
Recomeçou às 10h30 desta terça-feira o julgamento da segunda etapa do Massacre do Carandiru, no Fórum Criminal da Barra Funda. Neste segundo dia, serão colhidos os depoimentos das testemunhas de defesa. A oitiva começou com uma testemunha protegida, que será mantida em sigilo. Enquanto a testemunha falava no plenário, a imprensa não teve acesso ao conteúdo do seu depoimento.
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Logo depois, será ouvido o ex-governador Luiz Antônio Fleury e, em seguida, o ex-secretário de segurança pública Pedro Franco de Campos. Pelo cronograma divulgado pelo Tribunal de Justiça, outra testemunha protegida será ouvida posteriormente. Serão exibidos também os vídeos com o depoimento de Ivo de Almeida, que na época era juiz corregedor, e o de Luís Augusto San Juan França.
Na segunda, os trabalhos do júri duraram cerca de 13 horas. Foram ouvidas as testemunhas de acusação, como o perito criminal Osvaldo Negrini Neto. Ele descartou a hipótese de que tenha ocorrido confronto entre policiais e detentos no massacre.
Negrini Neto já foi ouvido em abril, na primeira parte do julgamento, quando 23 policiais militares foram condenados pela morte de 13 detentos, ocorrida no segundo pavimento (ou o primeiro andar do pavilhão). Nesta segunda etapa do julgamento do massacre, 26 policiais militares são acusados pela morte de 73 detentos no terceiro pavimento (que corresponde ao segundo andar) do Pavilhão 9 do antigo presídio.
O processo foi separado em quatro julgamentos, divididos pelas ações policiais referentes a cada um dos quatro andares do Pavilhão 9. O Massacre do Carandiru ficou conhecido como o maior massacre do sistema penitenciário brasileiro. No dia 2 de outubro de 1992, os policiais acusados entraram no Pavilhão 9 da Casa de Detenção para reprimir uma rebelião. A ação resultou em 111 detentos mortos e 87 feridos.
Relembre o caso
Em 2 de outubro de 1992, uma briga entre presos da Casa de Detenção de São Paulo - o Carandiru - deu início a um tumulto no Pavilhão 9, que culminou com a invasão da Polícia Militar e a morte de 111 detentos. Os policiais são acusados de disparar contra presos que estariam desarmados. A perícia constatou que vários deles receberam tiros pelas costas e na cabeça.
Entre as versões para o início da briga está a disputa por um varal ou pelo controle de drogas no presídio por dois grupos rivais. Ex-funcionários da Casa de Detenção afirmam que a situação ficou incontrolável e por isso a presença da PM se tornou imprescindível.
A defesa afirma que os policiais militares foram hostilizados e que os presos estavam armados. Já os detentos garantem que atiraram todas as armas brancas pela janela das celas assim que perceberam a invasão. Do total de mortos, 102 presos foram baleados e outros nove morreram em decorrência de ferimentos provocados por armas brancas. De acordo com o relatório da Polícia Militar, 22 policiais ficaram feridos.