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Polícia

Justiceiros surgem da omissão do Estado, dizem especialistas

11 fev 2014 - 00h33
(atualizado às 00h34)
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As ações de populares contra infratores no Rio de Janeiro, que repercutiram no país na semana passada, são reflexo da ineficácia dos órgãos de segurança pública, na opinião de especialistas. “Esses movimentos de justiceiros tentam, de alguma forma, resgatar o ideal de justiça perdido. Uma vez que o Estado, que é o responsável pela manutenção da segurança pública, não está  chegando da forma adequada, surge o ideal do justiceiro”, disse à Agência Brasil o pesquisador e doutor em ciências sociais da Universidade de Brasília (UnB), Alexandre Rocha.

O sociólogo da UnB, Antônio Flávio Testa, segue o mesmo raciocínio e acredita que reações populares podem aumentar. “Nesse processo, verificamos que o Estado está muito debilitado. A tendência é esse tipo de manifestação aumentar, devido à insatisfação da sociedade, pela legislação ser muito leniente com determinados tipos de criminosos”.

Apesar de compreenderem as origens de tanta insatisfação, tanto Rocha quanto Testa condenam as ações de justiceiros. A responsabilidade de cuidar da segurança pública deve ser do Poder Público, ainda que isso não seja feito de forma eficaz. “Ao Estado compete identificar esses grupos e reprimi-los da forma adequada. Por outro lado, também compete aos órgãos de segurança pública observar as demandas da população”, analisou Rocha.

Grupos de pessoas que reagem violentamente contra bandidos motivaram uma declaração do governador do Estado, Sérgio Cabral, no último dia 6. O governador prometeu uma reação contra os justiceiros, a quem chamou de "assassinos". A postura do estado, no entanto, não resolve o problema da criminalidade, de acordo com Testa. Ele acredita que o estado procura a saída "mais fácil" para o problema, sem combater o que motivou as ações dos justiceiros.

"A estratégia do estado será sempre a de reprimir os justiceiros. É mais fácil para a polícia, porque ela identifica e pune. Só que o estado esquece de fazer investimentos estratégicos naquilo que poderia mudar o quadro da violência na sociedade", disse o sociólogo. Para ele, os governos investem em sistemas de repressão por ser mais simples do que fazer reformas estruturais em áreas como planejamento familiar, sistema prisional e discutir o problema das drogas.

"O Brasil precisa de reformas profundas em todas as áreas para diminuir a violência na sociedade. Como isso é muito difícil, veremos cada vez mais investimento na área de repressão", disse Testa. Ele explicou ainda que a segurança pública deve ser um dos pontos mais abordados nas eleições, mas não vê mudanças na prática. Para ele, a população vai ouvir promessas de reformas nas polícias, no sistema prisional mas, ao final das eleições, não devemos ver mudanças profundas nessa área.

Ambos concordam que chegou o momento de colocar a segurança pública entre as prioridades dos governos. Para Rocha, a cultura de que polícia deve reprimir com violência e que "bandido bom é bandido morto" não deu resultado e uma abordagem mais profunda se faz necessária. Para isso, segundo ele, os três poderes e o Ministério Público devem participar do debate. "Se isso não for pensado como uma questão fundamental, veremos os problemas se impondo e sem políticas para resolvê-las".

Agência Brasil Agência Brasil
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