Moradores relatam clima de medo após operação da PM em Guarujá
Após a morte de um policial da Rota, operação com a participação de 600 agentes foi deflagrada em comunidades do litoral de São Paulo
Medo, ruas vazias, rastro de sangue e população apreensiva com medo de falar demais. Esse é o clima entre os moradores de Guarujá, no litoral de São Paulo. A reportagem do Terra passou a manhã desta terça-feira, 1º, visitando bairros que estão vivenciando a tensão desde o início da operação da Polícia Militar na última sexta-feira, 28. Números oficiais apontam o envolvimento de 600 agentes e a morte de pelo menos 13 pessoas.
No Sítio Conceiçãozinha, onde já ocorreram duas mortes, os moradores evitam sair de dentro casa. Com comércios e ruas vazias, uma atendente de um estabelecimento descreveu para a reportagem a sensação que a situação desperta.
"Ontem, estava cheio de polícia. O povo fica meio assustado, né. A gente tem medo de sair e ter uma troca de tiros, de ter crianças passando na hora, trabalhadores passando pela rua", disse ela, enquanto limpava a bancada do bar onde trabalha. No comércio, que normalmente costuma ter movimento, não havia nenhum cliente.
Poucos metros à frente, um jovem nascido e criado na comunidade afirmou que a violência está se estendendo a todas as comunidades. "Está terrível em todas as quebradas. Aqui, está tendo muita violência policial e todos os comércios estão fechando cedo", relatou.
"Está perigoso"
Entre os bairros Vila Zilda e Vila Edna, onde o soldado da Rota foi morto, o movimento é intenso nas ruas comerciais e menor nas proximidades dos morros. Segundo um morador da Vila Edna, a população está com medo, mas uma parte também apoia a ação da Rota, como é o caso dele.
"Está perigoso, os policiais estão atacando direto aqui, mas pelo menos estão colocando respeito. A Rota passa toda hora pela rua. Chegam de manhã e vão embora só no fim da tarde. Que eu saiba já teve três mortes por aqui", afirmou o aposentado, que nas terças-feiras trabalha vendendo verdura na Vila Zilda.
Outra moradora também defendeu a ação da polícia e afirmou que a comunidade há muito tempo está "abandonada". "A gente está meio abandonado, porque a bandidagem está tomando conta. A polícia tem que impor respeito. Tá certo que os traficantes não roubam a gente, mas a gente fica o tempo todo apreensivo de sair e ter uma troca de tiro entre eles", afirmou ela, que também preferiu não se identificar, por motivo de segurança.
Em uma rua paralela, uma moradora que estava sentada ouvindo uma oração não quis falar muito sobre a operação, pois afirmou que a comunidade tem medo de comentar o assunto: "A gente prefere não falar pra não sobrar pra gente. Os policiais na verdade apavoram mais perto dos morros, dos matos."
Na Vila Zilda moram muitas famílias e crianças, e uma das escolas da área é a Joana Mussa Gaze Núcleo de Educação Infantil. À reportagem, uma funcionária da unidade afirmou que um dia após a morte do policial muitos pais ligaram e buscaram os filhos mais cedo, por medo de troca de tiros após o início da operação policial.
"Nesse dia tinha muitas viaturas e helicópteros. Mas as aulas estão acontecendo normalmente", acrescentou.
Comerciantes relatam que o movimento da Rota é intenso na comunidade da Vila Zilda, onde o PM foi morto. Segundo eles, viaturas fazem rondas o tempo todo em todas as áreas da comunidade.
Operação Escudo
A operação, denominada "Escudo", foi desencadeada em resposta à morte do soldado Patrick Bastos Reis, de 30 anos, que atuava nas Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) na capital paulista. Ele foi atingido por um tiro no tórax durante um patrulhamento em uma comunidade do litoral, motivando a ação policial no Guarujá.
No domingo, 30, o suspeito Erickson David da Silva, apontado como o responsável pelo disparo que resultou na morte de Patrick, foi detido em São Paulo. Ele alega ser inocente.