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Polícia

Morte de Marielle Franco completa um mês sem respostas

14 abr 2018 - 07h38
(atualizado às 10h49)
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Assassinato de Marielle provocou indignação e levou multidões às ruas
Assassinato de Marielle provocou indignação e levou multidões às ruas
Foto: DW / Deutsche Welle

O assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes completa, neste sábado (14), um mês sem respostas. O caso, que levou multidões às ruas no mundo todo para manifestar solidariedade e cobrar explicações, é tratado com absoluto sigilo pelos investigadores.

Nos últimos dias, uma nova execução e evidências encontradas pela equipe da Divisão de Homicídios (DH) da Polícia Civil do Rio e do Ministério Público (MP) estadual reforçaram as suspeitas sobre duas linhas de investigação, ligadas ao envolvimento de milicianos e colegas de Marielle na Câmara do Rio.

Policiais civis e federais que investigam o caso colheram digitais parciais em nove cápsulas encontradas por peritos no local do crime. As marcas podem ter sido deixadas pelo autor dos disparos ou o responsável por inserir os projéteis na pistola 9mm utilizada para executar Marielle e Anderson.

Entre o material analisado, havia um único projétil que não integrava o lote de munições UZZ 18, desviado da Polícia Federal. De acordo com investigadores ouvidos pelo jornal O Globo, trata-se de uma munição que integra um carregamento importado, com características especiais, semelhantes à de uma outra cápsula encontrada no caso de um homicídio que aconteceu no município de São Gonçalo, Região Metropolitana do Rio.

Um dos agentes ouvidos pelo jornal afirmou que "há DNA de um grupo paramilitar no crime". Por estarem fragmentadas, as digitais não podem ser comparadas com a base de dados das polícias Civil e Federal. Entretanto, seria possível confrontá-las com as de um eventual suspeito.

A análise das cápsulas remonta a outros crimes praticados na região metropolitana. O uso de munição do lote UZZ 18 foi detectado em três dos 14.574 homicídios dolosos registrados no estado entre 2014 e 2017. As ações, que resultaram em cinco mortes, ocorreram em São Gonçalo, Niterói e na divisa entre os dois municípios.

Após a repercussão da notícia, o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, afirmou ter observado avanços nas investigações sobre os assassinatos de Marielle e Anderson. De acordo com o ministro, as equipes que trabalham no caso estão confiantes em identificar os responsáveis por ordenar a execução da vereadora.

"Houve um afunilamento das hipóteses. Quando converso com os investigadores, sinto que estão animados, confiantes em conseguir colocar na cadeia não só os que executaram, mas também chegar aos mandantes desse crime que chocou a todos nós", comentou.

Em 6 de abril, o comandante da intervenção federal no Rio de Janeiro, general Braga Netto, revelou avanços na investigação após reunião com o presidente Michel Temer. Na ocasião, demonstrou otimismo com o desfecho do caso nos próximos dias. Segundo o general, após ouvir o relato, Temer afirmou que a prisão dos assassinos da vereadora é considerada de extrema importância para o governo.

Nova execução

Com o objetivo de investigar a rotina de Marielle na Câmara Municipal do Rio, a DH da Polícia Civil tem intimado vereadores a depor sobre o caso. Até agora, oito já foram ouvidos, de um total de 14 chamados.

No domingo passado, dois dias após Marcello Siciliano (PHS) prestar depoimento por três horas aos agentes da DH, um líder comunitário que prestava serviços para seu mandato foi assassinado. Carlos Alexandre Pereira Maria, de 37 anos, era suspeito de ligação com uma milícia da Zona Oeste da cidade. Em seu perfil no Facebook, ele se identificava como "assessor parlamentar" de Siciliano. À imprensa, o vereador lamentou sua morte e frisou que se tratava apenas de um colaborador.

Entre os vereadores intimados pela DH, havia correligionários de Marielle, como Tarcísio Motta, candidato do Psol a governador no último pleito estadual, e adversários políticos. Siciliano se incluía no segundo grupo. Ele foi citado em um relatório da Secretaria de Segurança sobre a influência de milicianos nas eleições de 2014, quando se candidatou a deputado estadual, sem sucesso.

Amigo pessoal da vereadora, Tarcísio manifestou confiança nas investigações ao prestar depoimento na última quinta-feira. "Não temos nenhum elemento até o momento que desabone a atuação do chefe de polícia ou da DH. Não há nada que aponte para negligências ou morosidade proposital na apuração. Como éramos do mesmo partido e tínhamos intimidade, me fizeram perguntas sobre a atuação parlamentar da Marielle, a rotina dela e as atividades políticas", explicou.

Caso complexo

Ouvido pela DW Brasil, o deputado estadual Marcelo Freixo (Psol), com quem Marielle trabalhou por onze anos antes de se candidatar à Câmara Municipal do Rio, disse que o partido tem feito o possível para colaborar com as investigações.

"Qualquer documento que eles precisem, qualquer pessoa que eles queiram ouvir, a gente acelera. Estamos sempre esclarecendo qualquer dúvida sobre os últimos passos da Marielle, documentos que ela tenha produzido, discursos", contou.

Freixo manifestou compreensão com a falta de soluções para o caso um mês após as execuções. "Um trabalho que estamos fazendo é o de segurar a nossa angústia, pois queremos que se resolva rápido, mas as investigações têm outro ritmo. O caso da Patricia Accioly, bem menos complexo, levou dois meses. O do Elias Maluco, seis. Estamos falando do caso mais complexo da história da DH", lembrou.

Por fim, o deputado manifestou confiança na equipe à frente da investigação. "Não temos a menor dúvida de que eles vão descobrir. A gente acompanha de perto e eu, particularmente, converso com os delegados. Não sei se eles estão perto de uma conclusão, mas estou vendo uma equipe trabalhando bastante, muito empenhada", disse.

Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes foram assassinados em 14 de março após a vereadora ter participado de um debate com mulheres negras no bairro da Lapa, região central do Rio. O crime aconteceu no Estácio, a poucos quilômetros dali, onde o carro foi alvejado por nove disparos, dos quais quatro atingiram a vereadora.

De acordo com correligionários e familiares, ela não vinha sofrendo perseguição no período que antecedeu o crime. Alguns dias antes, ela havia denunciado a violência do 41º Batalhão de Polícia Militar na favela de Acari, Zona Norte da cidade.

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