MP-PR investiga origem de gravação atribuída à ex-assessor da Casa Civil
Promotoria também investiga denúncias de intimidações de testemunhas, mesmo após a prisão de Eduardo Gaievski
O Ministério Público de Realeza, a 540 quilômetros de Curitiba, vai investigar a origem de uma gravação, postada em um site de compartilhamento de áudio e vídeo na internet, que registra uma conversa atribuída ao ex-assessor da Casa Civil do governo federal, Eduardo Gaievski, descrevendo uma relação sexual com uma menina que seria virgem.
Postado no Youtube no último dia 12, o áudio tem duração de cerca de um minuto e já foi acessado, até a tarde desta sexta-feira, quase 6 mil vezes. A publicação realizada por um usuário identificado como Fábio Alexandre foi compartilhada em redes sociais e está inserida em vários perfis de moradores da cidade, provocando comentários de revolta.
Ex-assessor da ministra Gleisi Hoffmann e ex-prefeito de Realeza, Gaievski está preso na Casa de Custódia de Curitiba, acusado de quase 40 crimes envolvendo estupro de vulnerável, estupro qualificado, assédio sexual e assédio sexual qualificado. Ele também foi denunciado pelo delito de responsabilidade de prefeito municipal, já que teria oferecido cargos na prefeitura de Realeza em troca de encontros sexuais.
O áudio postado, supostamente com a voz de Gaievski, apresenta uma gravação de baixa qualidade com o som abafado. Uma voz masculina relata que "era virgem, devia ter uns 14 (anos)", referindo-se a uma relação sexual mantida com uma menina. Com o uso de várias palavras obscenas, o homem revela que acredita que a adolescente era virgem e afirma que "não tinha jeito de quem tinha experiência...Não mexia". Em vários momentos, o relato é entrecortado por gargalhadas.
Moradores da cidade, que não quiseram se identificar, afirmam que a voz da gravação é semelhante à de Gaievski. Um radialista que já entrevistou o ex-assessor por várias vezes, disse que a voz e o sotaque "são muito parecidos" com o do acusado. Oficialmente, não há comprovação que a gravação contenha a voz de Gaievski.
Com a repercussão na cidade, o MP decidiu abrir um procedimento para investigar a origem do áudio postado. A promotoria pretende ainda que o material seja periciado para comparação do padrão vocal. De acordo com o promotor Raphael Fleury Rocha, se for comprovado que o material traz o registro de voz do acusado, fazendo referência a um dos casos investigados, e for obtido de forma legal, a gravação poderá ser anexada às denúncias contra Gaievski.
Intimidações
O MP de Realeza mantém ainda uma investigação para apurar a participação de pessoas da cidade, incluindo servidores municipais, na intimidação de testemunhas do caso, após a prisão de Gaievski. O trabalho está sendo realizado sob sigilo e o MP se recusou a fornecer informações. A revista Veja, em sua última edição, publicou reportagem afirmando que teve acesso a uma série de e-mails entre Gaievski e o advogado dele, Rafael Seben, no período em que o ex-assessor já estava preso em Curitiba.
Segundo a revista, o conteúdo das mensagens aponta que Gaievski indicava para seu advogado quais vítimas poderiam ser abordadas para retirar as acusações de crime sexual.
O aposentado João Pontes, que seria avô de uma das vítimas de acordo com a revista, afirma que foi ameaçado para desocupar um terreno pertencente à prefeitura caso as declarações da neta não fossem retiradas do processo.
O advogado Natalício Farias, que defende as vítimas, solicitou a prisão, por coação de testemunhas, do atual secretário de Administração de Realeza, Fernando Borges, do advogado Rafael Seben, de Maria Seloí Becker (funcionária pública, apontada como aliciadora a mando do acusado) e de Edmundo Gaievski, irmão do ex-assessor da Casa Civil.
O advogado Rafael Seben não foi encontrado pelo Terra em seu escritório e não atendeu as ligações em seu celular. Maria Seloi Becker e Edmundo Gaievski não foram localizados.