Moacir dos Santos era diretor da divisão de disciplina do Carandiru no dia 2 de outubro de 1992, quando 111 presos foram mortos na Casa de Detenção de São Paulo após uma briga entre detentos e a invasão da Polícia Militar para conter a desordem. Em seu depoimento à Justiça - durante o julgamento de 26 dos 79 policiais militares acusados pelas mortes - ele afirma que a tropa não cumpriu o que havia sido combinado com os funcionários e autoridades e que ela não respeitou nem mesmo o coronel Ubiratan Guimarães, comandante da operação.
"O Choque trouxe a Rota e colocou para dentro, junto com o Gate, os Bombeiros. Avisamos que quem estava no pátio não estava na briga. Quando abriu o portão, o que foi combinado foi por terra. Entraram e metralharam. Não deixaram nem a gente socorrer (as vítimas). Não respeitaram nem o Ubiratan. Puxei o (Ismael) Pedrosa - diretor da Detenção - para ele não ir para dentro junto", disse ele. "Quando viu que não tinha jeito, ele entrou também", afirmou o diretor sobre a postura de Ubiratan na ação. Santos era considerado o número 2 na hierarquia do presídio, apenas abaixo de Pedrosa, que foi assassinado a tiros em 2005, em Taubaté, no interior de São Paulo.
Santos lembrou que no momento da briga que resultou em uma agitação entre os presos estava almoçando. Foi chamado até o local para fazer o encaminhamento dos feridos. "Eles (os presos) nos avisaram que era uma briga entre eles e que não queriam funcionários lá. Disseram que acertariam entre eles. Estávamos em uns 10 funcionários dialogando com os presos para acalmar a situação e não havia reféns. Conosco não fizeram nenhuma maldade", lembrou.
Alunos colocam cruzes em frente à Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), no Largo São Francisco, em protesto contra as 111 mortes no Massacre do Carandiru, ocorrido em 1992
Foto: Fernando Borges / Terra
Alunos colocam cruzes em frente à Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), no Largo São Francisco, em protesto contra as 111 mortes no Massacre do Carandiru, ocorrido em 1992
Foto: Fernando Borges / Terra
Alunos colocam cruzes em frente à Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), no Largo São Francisco, em protesto contra as 111 mortes no Massacre do Carandiru, ocorrido em 1992
Foto: Fernando Borges / Terra
Alunos colocam cruzes em frente à Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), no Largo São Francisco, em protesto contra as 111 mortes no Massacre do Carandiru, ocorrido em 1992
Foto: Fernando Borges / Terra
Alunos colocam cruzes em frente à Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), no Largo São Francisco, em protesto contra as 111 mortes no Massacre do Carandiru, ocorrido em 1992
Foto: Fernando Borges / Terra
Alunos colocam cruzes em frente à Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), no Largo São Francisco, em protesto contra as 111 mortes no Massacre do Carandiru, ocorrido em 1992
Foto: Fernando Borges / Terra
Alunos colocam cruzes em frente à Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), no Largo São Francisco, em protesto contra as 111 mortes no Massacre do Carandiru, ocorrido em 1992
Foto: Fernando Borges / Terra
Alunos colocam cruzes em frente à Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), no Largo São Francisco, em protesto contra as 111 mortes no Massacre do Carandiru, ocorrido em 1992
Foto: Fernando Borges / Terra
Alunos colocam cruzes em frente à Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), no Largo São Francisco, em protesto contra as 111 mortes no Massacre do Carandiru, ocorrido em 1992
Foto: Fernando Borges / Terra
Alunos colocam cruzes em frente à Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), no Largo São Francisco, em protesto contra as 111 mortes no Massacre do Carandiru, ocorrido em 1992
Foto: Fernando Borges / Terra
Alunos colocam cruzes em frente à Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), no Largo São Francisco, em protesto contra as 111 mortes no Massacre do Carandiru, ocorrido em 1992
Foto: Renato S. Cerqueira / Futura Press
Começa o julgamento dos 26 policiais militares acusados de participação no chamado "Massacre do Carandiru", no Fórum Criminal da Barra Funda, zona oeste de São Paulo. Os PMs são réus no processo por assassinatos de presidiários da Casa de Detenção de São Paulo, em 2 de outubro de 1992. Nesta primeira etapa, serão julgados os policiais que atuaram no primeiro pavimento do pavilhão 9 - palco da tragédia -, onde ocorreram 15 das 111 mortes registradas naquele dia
Foto: Fernando Borges / Terra
Começa o julgamento dos 26 policiais militares acusados de participação no chamado "Massacre do Carandiru", no Fórum Criminal da Barra Funda, zona oeste de São Paulo. Os PMs são réus no processo por assassinatos de presidiários da Casa de Detenção de São Paulo, em 2 de outubro de 1992. Nesta primeira etapa, serão julgados os policiais que atuaram no primeiro pavimento do pavilhão 9 - palco da tragédia -, onde ocorreram 15 das 111 mortes registradas naquele dia. Na foto, o juiz José Augusto Nardy Marzagão (dir.)
Foto: Fernando Borges / Terra
Começa o julgamento dos 26 policiais militares acusados de participação no chamado "Massacre do Carandiru", no Fórum Criminal da Barra Funda, zona oeste de São Paulo. Os PMs são réus no processo por assassinatos de presidiários da Casa de Detenção de São Paulo, em 2 de outubro de 1992. Nesta primeira etapa, serão julgados os policiais que atuaram no primeiro pavimento do pavilhão 9 - palco da tragédia -, onde ocorreram 15 das 111 mortes registradas naquele dia
Foto: Fernando Borges / Terra
Começa o julgamento dos 26 policiais militares acusados de participação no chamado "Massacre do Carandiru", no Fórum Criminal da Barra Funda, zona oeste de São Paulo. Os PMs são réus no processo por assassinatos de presidiários da Casa de Detenção de São Paulo, em 2 de outubro de 1992. Nesta primeira etapa, serão julgados os policiais que atuaram no primeiro pavimento do pavilhão 9 - palco da tragédia -, onde ocorreram 15 das 111 mortes registradas naquele dia
Foto: Fernando Borges / Terra
Começa o julgamento dos 26 policiais militares acusados de participação no chamado "Massacre do Carandiru", no Fórum Criminal da Barra Funda, zona oeste de São Paulo. Os PMs são réus no processo por assassinatos de presidiários da Casa de Detenção de São Paulo, em 2 de outubro de 1992. Nesta primeira etapa, serão julgados os policiais que atuaram no primeiro pavimento do pavilhão 9 - palco da tragédia -, onde ocorreram 15 das 111 mortes registradas naquele dia
Foto: Fernando Borges / Terra
Começa o julgamento dos 26 policiais militares acusados de participação no chamado "Massacre do Carandiru", no Fórum Criminal da Barra Funda, zona oeste de São Paulo. Os PMs são réus no processo por assassinatos de presidiários da Casa de Detenção de São Paulo, em 2 de outubro de 1992. Nesta primeira etapa, serão julgados os policiais que atuaram no primeiro pavimento do pavilhão 9 - palco da tragédia -, onde ocorreram 15 das 111 mortes registradas naquele dia
Foto: Fernando Borges / Terra
Começa o julgamento dos 26 policiais militares acusados de participação no chamado "Massacre do Carandiru", no Fórum Criminal da Barra Funda, zona oeste de São Paulo. Os PMs são réus no processo por assassinatos de presidiários da Casa de Detenção de São Paulo, em 2 de outubro de 1992. Nesta primeira etapa, serão julgados os policiais que atuaram no primeiro pavimento do pavilhão 9 - palco da tragédia -, onde ocorreram 15 das 111 mortes registradas naquele dia
Foto: Fernando Borges / Terra
Começa o julgamento dos 26 policiais militares acusados de participação no chamado "Massacre do Carandiru", no Fórum Criminal da Barra Funda, zona oeste de São Paulo. Os PMs são réus no processo por assassinatos de presidiários da Casa de Detenção de São Paulo, em 2 de outubro de 1992. Nesta primeira etapa, serão julgados os policiais que atuaram no primeiro pavimento do pavilhão 9 - palco da tragédia -, onde ocorreram 15 das 111 mortes registradas naquele dia
Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil
Começa o julgamento dos 26 policiais militares acusados de participação no chamado "Massacre do Carandiru", no Fórum Criminal da Barra Funda, zona oeste de São Paulo. Os PMs são réus no processo por assassinatos de presidiários da Casa de Detenção de São Paulo, em 2 de outubro de 1992. Nesta primeira etapa, serão julgados os policiais que atuaram no primeiro pavimento do pavilhão 9 - palco da tragédia -, onde ocorreram 15 das 111 mortes registradas naquele dia
Foto: Fernando Borges / Terra
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Santos conta que os presos montaram barricadas no térreo, para impedir a invasão da polícia. Foi colocado fogo na entrada da galeria. "Logo na entrada, um tubo de TV acertou o Ubiratan. Ele não ficou lá nem dois minutos. Um preso foi queimado, ficou sem pele, próximo a ele. Só foi retirado às 11h da noite. O Ubiratan foi retirado prontamente".
O diretor de segurança do Carandiru disse ainda que era favorável à invasão da PM, e que os policiais da tropa de Choque estavam habituados a entrar no Carandiru quando ocorriam tumultos sem reféns, mas atribui ao acionamento da Rota (Rondas Ostentivas Tobias Aguiar, que pertence ao Choque) a atitude de iniciar o massacre - termo que ele considera adequado para descrever o episódio.
"A invasão era inevitável. Todo mundo (autoridades e diretores) entendia que era preciso invadir. (...) Mas qualquer um sabia que se colocasse a Rota lá não daria certo", afirmou. Segundo Santos, os policiais que ficaram do lado de fora do pavilhão 9 impediram a entrada de civis para tentar amenizar a situação e "comemoravam como se fosse um gol" os disparos ouvidos.
Ao juiz José Augusto Nardy Marzagão, Santos diz que todas as autoridades presenciaram a invasão e o fuzilamento. De acordo com ele, pelo menos oito presos foram mortos já na entrada. O diretor conta que, após as mortes, os PMs estavam preocupados em armar a cena do crime.
"Eles não queriam civis lá. Chegaram a apontar armas pra gente", disse, ao lembrar os pedidos que fez para a PM para socorrer os feridos. "A tropa de Choque foi traída (pela operação)", completou. "Para mim, foi uma execução", enfatizou.
Ainda de acordo com o diretor, durante os cinco anos em que trabalhou lá antes do ocorrido, foi aprendida apenas uma arma de fogo no local. "É improvável que aquilo (armas apresentadas pela polícia como sendo dos detentos) fosse dos presos. Se tivessem, teriam usado".
Para ele, entre os mortos não havia só bandidos, já que o Carandiru recebia alguns presos provisórios de crimes considerados "leves", como falta de pagamento de pensão alimentícia, por exemplo.
O diretor lembra ainda que a possibilidade de mais de 111 presos terem morrido é praticamente impossível. "Não tem como esconder presos. Foi feito um trabalho minucioso. Os presos têm pelo menos quatro prontuários guardados em locais diferentes", disse.
Ao todo, 111 detentos morreram após a polícia invadir o pavilhão 9 do presídio, depois de uma briga entre dois presos dar início a uma rebelião. Devido ao número de réus, o júri foi desmembrado de acordo com o número de mortes ocorridas em cada pavimento e, neste primeiro julgamento, 26 dos 84 policiais militares denunciados por homicídio serão julgados por 15 mortes registradas no segundo andar. O júri é formado por seis homens e uma mulher e acontece no Fórum Criminal da Barra Funda, em São Paulo. Vinte e três testemunhas foram convocadas pela defesa e pelo Ministério Público.
Julgamento
Passados 20 anos do episódio que terminou com 111 presos mortos no Pavilhão 9 da Casa de Detenção de São Paulo, em outubro de 1992, 26 policiais militares serão julgados pelo caso que ficou conhecido como Massacre do Carandiru.
Pelo menos 79 PMs acusados de envolvimento nas mortes aguardam julgamento. O único que recebeu a sentença foi o coronel da Polícia Militar Ubiratan Guimarães, que coordenava a operação no dia do massacre, mas teve sua pena de 632 anos de prisão anulada em 2006, sete meses antes de ser assassinado.
Em 2 de outubro de 1992, uma briga entre presos da Casa de Detenção de São Paulo - o Carandiru - deu início a um tumulto no Pavilhão 9, que culminou com a invasão da Polícia Militar e a morte de 111 detentos. Entre as versões para o início da briga está a disputa por um varal ou pelo controle de drogas no presídio por dois grupos rivais. Ex-funcionários da Casa de Detenção afirmam que a situação ficou incontrolável e por isso a presença da PM se tornou imprescindível.
A defesa afirma que os policiais militares foram hostilizados e que os presos estavam armados. Já os detentos garantem que atiraram todas as armas brancas pela janela das celas assim que perceberam a invasão. Do total de mortos, 102 presos foram baleados e outros nove morreram em decorrência de ferimentos provocados por armas brancas. De acordo com o relatório da Polícia Militar, 22 policiais ficaram feridos. Nenhum deles a bala.