Policiais civis protestam por melhores salários no Rio
Policiais civis que estão realizando paralisação de 24 horas por melhorias salariais estão concentradosna Cidade da Polícia, no Jacarezinho, zona norte do Rio de Janeiro, nesta tarde desta quarta-feira. Centenas de policiais saíram da unidade e ocuparam a rua em frente à unidade para protestar, em ato pacífico organizado por um dos sindicatos da categoria, o dos Policiais Civis do Rio (Sindpol). À noite, eles realizarão uma assembleia na Tijuca.
Os policiais permaneceram cerca de cinco minutos ocupando a via pública e gritaram "Polícia". Depois, entraram na Cidade da Polícia e, por volta das 15h10, estavam reunidos no pátio da unidade. O Chefe de Polícia Civil do Rio, Fernando Veloso, chegou ao local e se reuniu com o presidente do Sindpol, Francisco Chao.
Chao disse que espera ter novidades até o encontro da categoria. Segundo ele, Veloso apoia o movimento, principalmente pela maneira como ele está realizado, sem tumultos.
Fernando Chao lamentou os transtornos que a paralisação de 24 horas está causando à população e disse que as reivindicações não têm motivação política. "Algumas pessoas querem traçar um paralelo entre a nossa paralisação e o que aconteceu com a Polícia Militar em Pernambuco. Nós não nos esquecemos da sociedade, somos policiais civis. Não somos baderneiros", disse Chao. Segundo ele, 30% do efetivo mantém as atividades emergenciais nesta quarta-feira.
Segundo Chao, a adesão à paralisação é maciça, mas os policiais participam de dentro das delegacias, deixando de executar tarefas que não são consideradas urgentes. Ele reclama que desde o ano passado o governo promete a incorporação das gratificações aos salários dos policiais, mas até hoje não cumpriu. "Estamos protestando contra a penúria das polícias do Brasil. A situação salarial é trágica e o governo fica empurrando com a barriga", disse Chao.
Ele explicou que, sem as gratificações incorporadas aos salários, em caso de licença médica, o valor recebido pelos policiais diminui em um terço.
Chao disse não ser simpático à ideia de uma possível greve. "A categoria vai se reunir e decidir. Se houver uma decisão por greve, vou pedir que a gente não comece agora, para tentarmos negociar", afirmou Chao.
Pela manhã, outro grupo de policiais foi protestar na porta da Chefia de Polícia. Segundo o Sindicato dos Funcionários da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro (Sinpol), cerca de 60% dos policiais civis aderiram à paralisação de 24h, que começou no primeiro minuto desta quarta e vai até meia-noite. O sindicato afirma que está respeitando o mínimo de 40% do efetivo atuando, estabelecido pela lei. Os policiais só estão registrando autos de prisão em flagrante e casos que envolvam violência e grave ameaça à ordem pública. De acordo com o sindicato, em caso de furto, perda e extravio de documentos ou objetos, a população está sendo orientada a retornar à delegacia de polícia na quinta-feira.
A paralisação é promovida por agentes, inspetores, investigadores, chefes de cartório e peritos, mas não está sendo realizada por delegados.
Os policiais civis reivindicam incorporação de gratificações ao salário (como uma referente à Delegacia Legal, de R$ 850), plano de cargos e salários com valores mais próximos aos pagos a delegados, reajuste de 100% no tíquete-refeição, que hoje é de R$ 13 por dia, e do vale-transporte, que atualmente é de R$ 100.
Segundo o presidente do Sinpol, Fernando Bandeira, investigações não estão sendo feitas nesta quarta. "Anos atrás, os inspetores de polícia ganhavam o equivalente a 60% do salário de um delegado. Hoje não recebe nem 15%", disse Bandeira.
A Chefia de Polícia Civil informou que mantém diálogo aberto com os representantes da categoria e que está negociando. "Desde as primeiras horas, a cúpula da instituição está reunida monitorando o funcionamento de todas as delegacias do Estado, a fim de adotar as medidas necessárias para o bom atendimento à população", disse o órgão. A Chefia de Polícia lembrou que o cidadão pode pré-agendar o registro de ocorrência pela internet, através do site www.policiacivil.rj.gov.br, de vários crimes, com exceção dos de roubo de carro e homicídio.
O governo do Rio disse que os policiais tiveram conquistas salariais nos últimos anos. "Tenho conversado permanentemente com o sindicato da Polícia Civil. Não vejo este cenário de greve. Demos agora, em fevereiro, um aumento de mais de 11% para todos os policiais civis, policiais militares, bombeiros e agentes penitenciários. Quando assumimos o governo, o Estado investia R$ 2,2 bilhões em segurança pública. Hoje, são cerca de R$ 9 bilhões. Claro que temos que valorizar, mas fizemos um grande esforço. Foram mais de 120% de aumento real nesses últimos sete anos. Agora, para fazer mais reajustes temos que ter recursos e pé no chão. Não podemos comprometer as contas do Estado. Se eu puder, darei", afirmou o governador, Luiz Fernando Pezão.
Segundo o governo do Rio, de 2007 até 2014, o Estado concedeu 123,5% de aumento no vencimento aos policiais civis, policiais militares, bombeiros militares e inspetores da Administração Penitenciária. O governo afirma que o aumento teve repercussão em gratificações.
O Estado do Rio afirma que gratificações dos policiais aumentaram (a da Delegacia Legal foi reajustada em 70%, de R$ 500 para R$ 850 e a da Coordenadoria de Recursos Especiais da Polícia Civil passou de R$ 500 para R$ 1,5 mil) e que deu aumento escalonado em 2010 de aproximadamente 70% para delegados. A remuneração média (a soma de todas as verbas recebidas) de um inspetor de polícia teria passado, de acordo com o governo, de R$ 2.462, em 2007, para R$ 6.119 em 2014, um aumento de 148%. O governo afirma que a remuneração de um oficial de cartório passou de R$ 2.550 para R$ 6.887, crescendo 170% e que os delegados de polícia tiveram aumento médio de 91%, uma vez que a média de remuneração passou de R$ 10.818 para R$ 20.671.
No fim da tarde, centenas de policiais que trabalham na Cidade da Polícia pretendem ir juntos em um vagão de metrô especialmente disponibilizado para eles para a assembleia que a categoria realizará à noite, no Clube Municipal, na Tijuca.