A ideia propagada por manifestantes e ativistas de que o movimento de protestos radicais conhecido como Black Bloc é uma tática de ação adotada de forma espontânea por segmentos da população - ao invés de um grupo organizado - não convenceu a polícia brasileira. Tanto em São Paulo como no Rio de Janeiro, policiais se esforçam para identificar e prender as lideranças dos mascarados envolvidos na violência da recente onda de protestos.
Para a Polícia Civil dos dois Estados, os black blocs têm grande capacidade de organização e já enviam seus integrantes para outros Estados do País - com o possível objetivo de divulgar sua ideologia e promover protestos violentos. As suspeitas das duas polícias diferem, porém, em relação à quantidade de lideranças e sua forma de organização.
Um policial civil paulista envolvido com operações relacionadas ao black blocs disse à BBC Brasil que uma das principais linhas de investigação no Estado é a de que haveria um grupo relativamente pequeno de mentores dos black blocs. Eles organizariam os protestos violentos e mobilizariam centenas de simpatizantes usando meios como a internet. Sua principal estratégia seria difundir a ideia de que o Black Bloc é um movimento espontâneo, sem líderes.
Entre os perfis de suspeitos investigados como prováveis integrantes desse grupo central, estão estudantes universitários de classe média, adeptos dos movimentos punk e anarquista e partidários da extrema-esquerda. Eles exerceriam funções como estudar os procedimentos da polícia para criar táticas que dificultem sua identificação ou facilitem o ataque aos policiais.
A investigação do Black Bloc está sendo realizada em São Paulo por uma força-tarefa criada recentemente e integrada por policiais civis e militares de unidades especiais, delegados, coronéis e promotores.
O comandante da PM, coronel Benedito Roberto Meira, disse à BBC Brasil que uma das atribuições do grupo é identificar líderes do movimento. "Quando há grupos de 100 pessoas, 150 pessoas, se organizando com o mesmo propósito, acreditamos que há lideranças, elas só não foram identificadas ainda", disse.
Guru
A polícia do Rio prendeu suspeitos de manter sites usados pelo Black Bloc e hackers ligados ao movimento que foram responsáveis por ataques cibernéticos à Polícia Militar. A linha de investigação no Estado difere parcialmente do entendimento da polícia de São Paulo ao acreditar que o movimento seja composto por diversas lideranças independentes e fragmentadas. "Não achamos que haja um gerente, um guru, um sacerdote", disse à BBC Brasil o delegado Fernando Reis, o diretor-geral do Departamento de Polícia Especializada do Rio de Janeiro.
Segundo ele, porém, a falta de uma liderança única não descarta a existência de "grupos com um certo grau de refinamento" que possuiriam lideranças. Ele disse que integrantes de alguns desses grupos ao serem presos afirmaram que o movimento "fugiu do controle".
Reis afirmou que há black blocs que atuam seguindo ideologias e movimentos políticos, como o anarquismo. Outros seriam influenciados por colegas de estudo ou trabalho e participariam das ações mesmo sem ter grande conhecimento sobre as ideologias.
Porém, uma grande parte dos black blocs seria formada, segundo ele, por "grupos marginais", que participariam dos protestos com os objetivos primários de cometer crimes, tais como roubos, furtos e depredações. "Precisamos deixar claro que a polícia não é contra as manifestações. Mas o que não podemos admitir são grupos que quebram bens públicos e privados, como pontos de ônibus e lixeiras", disse ele.
O delegado disse ainda que a polícia carioca também se preocupa com o fato de que mais pessoas podem ser atraídas para ações violentas devido a manifestações de apoio por parte de figuras públicas e formadores de opinião.
Partidos
Até agora, um ponto em comum nas investigações nos dois Estados é a possível atuação de black blocs ligados a partidos políticos profissionais de esquerda. Entre os detidos em manifestações violentas nos dois Estados, figuram ex-candidatos a vereador de um partido de esquerda que não faz parte da base de apoio do governo federal. A BBC Brasil não conseguiu entrar em contato com representantes da legenda até o fechamento desta reportagem.
Porém, a visão da polícia em relação aos jovens vestidos de preto e mascarados que participam de protestos violentos é bem diferente do perfil traçado por pesquisadores.
Um dos trabalhos mais recentes e abrangentes sobre o fortalecimento desse movimento no Brasil está sendo realizado pelo pesquisador Rafael Alcadipani, especialista em estudos organizacionais da Fundação Getúlio Vargas. Ele entrevistou quase uma centena de black blocs durante as manifestações, além de dezenas de policiais encarregados da segurança durante os protestos, e traçou um perfil dos integrantes do movimento.
Alcadipani afirmou que os brasileiros se inspiraram no movimento Black Bloc dos Estados Unidos, que tem um caráter antiglobalização e ataca com violência o que considera símbolos do capitalismo. O movimento está presente não só nos Estados Unidos, mas em diversos países como Egito, Turquia, Grécia, entre outros. Sua principal característica é não ter líderes definidos ou interlocutores para falar com o governo.
O pesquisador afirmou que, no Brasil, esse modelo foi adaptado e a agenda crítica da globalização deu lugar à reivindicação de melhorias para o Brasil. Segundo ele, o nível de organização que a polícia quer atribuir aos black blocs - supostamente capazes de criar até táticas de enfrentamento com a PM - não ocorreria. O pesquisador disse acreditar que o Black Bloc é uma tática, e não um grupo organizado.
A maioria de seus integrantes seria de jovens de classe média baixa que estudam em universidades privadas ou mesmo alunos de universidades públicas, que desejam que seus pontos de vista sejam ouvidos.
Alcadipani disse que não é correto classificá-los como organizações criminosas. Especialmente porque a maioria dos integrantes trabalha, não tem as manifestações como atividade principal e não obtém benefícios financeiros dos protestos. Para o professor, a melhor forma de lidar com eles é o diálogo político.
11 de outubro - Manifestantes vestidos de preto e mascarados protestaram no centro de São Paulo nesta sexta-feira
Foto: Vagner Magalhães / Terra
11 de outubro - Em alguns momentos do protesto o número de policiais era maior do que o de manifestantes
Foto: Vagner Magalhães / Terra
11 de outubro - Na página do movimento Black Bloc, o ato é descrito como de repúdio ao governo do chefe do Executivo estadual, Geraldo Alckmin (PSDB), e em apoio aos protestos no Rio de Janeiro
Foto: Vagner Magalhães / Terra
11 de outubro - Manifestantes foram acompanhados por policiais pelas ruas do centro de São Paulo
Foto: Vagner Magalhães / Terra
11 de outubro - Manifestantes protestaram no centro de São Paulo na noite desta sexta-feira
Foto: Tiago Mazza / Futura Press
11 de outubro - Policiais fazem cordão e seguem manifestação pela região central de São Paulo
Foto: Vagner Magalhães / Terra
15 de outubro - Trânsito ficou interrompido no viaduto do Chá por conta do protesto em frente à prefeitura nesta tarde
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra
15 de outubro - Grupo saiu em passeata pelas ruas da região central de São Paulo nesta tarde
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra
15 de outubro - Grupo protestou em frente à prefeitura de São Paulo nesta tarde
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra
15 de outubro - Manifestante carrega bandeira do Movimento dos Trabalhadores sem Teto em protesto na região central de São Paulo
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra
15 de outubro - Manifestantes tentaram invadir a Câmara de São Paulo durante protesto nesta terça-feira
Foto: Gutemberg Gonçalves / Futura Press
15 de outubro - Grupo chutou proteção colocada na Câmara de São Paulo em protesto nesta terça-feira
Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil
15 de outubro - Trabalhadores sem-teto entraram em confronto com policiais militares e guardas municipais, no começo da tarde de hoje, em frente da Câmara Municipal
Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil
15 de outubro - Manifestantes tentararam forçar entrada na Câmara de São Paulo na tarde desta terça-feira
Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil
21 de outubro - Protesto na avenida paulista tinha a descriminalização dos movimentos sociais na pauta, e a participação de Black Blocs
Foto: Gabriela Biló / Futura Press
21 de outubro - Amplamente policiado, o protesto, que também pedia mais investimentos em educação, começou pacífico
Foto: Gabriela Biló / Futura Press
21 de outubro - Manifestantes se concentraram no vão do Museu de Arte de São Paulo (Masp) e ocuparam a avenida Paulista, em protesto contra o leilão do pré-sal e a corrupção
Foto: Gabriela Biló / Futura Press
21 de outubro - Marcha seguiu até a Secretaria de Educação de São Paulo
Foto: Gabriela Biló / Futura Press
21 de outubro - Ao se aproximarem de prédios do governo, os manifestantes entraram em confronto com a polícia e fizeram barricadas
Foto: Gabriela Biló / Futura Press
21 de outubro - Manifestante é abordado por policiais militares
Foto: Taba Benedicto / Futura Press
21 de outubro - Mesmo identificado como da imprensa, o fotógrafo Adriano Lima foi atingido por um cacetete
Foto: Taba Benedicto / Futura Press
21 de outubro - Manifestantes também ficaram feridos no confronto com a Tropa de Choque
Foto: Vinícius Gonçalves / Futura Press
24 de outubro - Manifestantes ateam fogo em catraca durante protesto contra o terminal Campo Limpo
Foto: Dario Oliveira / Futura Press
25 de outubro - O Movimento Passe Livre (MPL), o Black Bloc e integrantes de movimentos sociais fazem protesto no centro de São Paulo por melhorias no transporte público
Foto: Bruno Santos / Terra
25 de outubro - A manifestação, que se concentra em frente ao Teatro Municipal, é acompanhada de perto por um contingente de cerca de 800 policiais
Foto: Bruno Santos / Terra
25 de outubro - Por volta das 17h20, havia cerca de 200 pessoas no local. Elas pedem o retorno de linhas de ônibus que ligavam diretamente bairros ao centro da cidade e que foram retiradas pela prefeitura do itinerário
Foto: Bruno Santos / Terra
25 de outubro - De acordo com o MPL, as linhas não eram lucrativas para as empresas e, por isso, não circulam mais. A SPTrans diz que esse é uma ideia "conservadora", e que o sistema precisava de renovação
Foto: Bruno Santos / Terra
25 de outubro - Manifestantes protestam em frente ao Theatro Municipal de São Paulo
Foto: Bruno Santos / Terra
25 de outubro - O protesto reúne integrantes dos grupos MPL e Black Bloc e movimentos sociais e políticos
Foto: Bruno Santos / Terra
25 de outubro - Protesto contou com a presença de manifestantes mascarados em São Paulo
Foto: Bruno Santos / Terra
25 de outubro - Cerca de 2 mil pessoas iniciaram caminhada pelas vias centrais de São Paulo por volta das 18h20
Foto: Bruno Santos / Terra
25 de outubro - Passeata provocou interdição do Túnel Anhangabaú
Foto: Bruno Santos / Terra
25 de outubro - Manifestantes atearam fogo em uma catraca gigante feita com papelão
Foto: Bruno Santos / Terra
25 de outubro - Protesto pacífico terminou em quebra-quabra após marcha pelo centro, quando mascarados atacaram bancos e comércio
Foto: Bruno Santos / Terra
25 de outubro - Ônibus e caçambas também foram incendiados nas proximidades do Parque Dom Pedro II
Foto: Bruno Santos / Terra
25 de outubro - Pedras e coquetéis molotov foram lançados contra a polícia, que reagia com bombas de efeito moral
Foto: Bruno Santos / Terra
25 de outubro - Um coronel foi atingido por uma pedra na cabeça e precisou de atendimento médico
Foto: Bruno Santos / Terra
25 de outubro - De acordo com a PM, 78 manifestantes foram detidos
Foto: Thiago Tufano / Terra
25 de outubro - Não há um balanço de ônibus danificados, mas a SPtrans informou que o terminal Parque Dom Pedro II estava funcionando normalmente às 21h40
Foto: Bruno Santos / Terra
25 de outubro - Os novos itinerários das linhas de São Paulo eram o principal alvo do protesto
Foto: Bruno Santos / Terra
25 de outubro - Atos de vandalismo deram início ao confronto, que se agravou durante tentativa da igreja da Praça da Sé
Foto: Bruno Santos / Terra
25 de outubro - Muitos caixas eletrônicos foram vandalizados por black blocs
Foto: Bruno Santos / Terra
25 de outubro - A depredação teve início após a marcha, pacífica, terminar
Foto: Bruno Santos / Terra
25 de outubro - O coronel Reynaldo Simões Rossi foi atingido por uma pedra jogada pelos manifestantes
Foto: Bruno Santos / Terra
25 de outubro - O policial fraturou a clavícula e há suspeita de traumatismo craniano
Foto: Bruno Santos / Terra
25 de outubro - Soldado à paisana tenta proteger coronel de agressões; oficial teve a arma roubada, mas esta foi recuperada pelo seu motorista, segundo a PM
Foto: Reuters
25 de outubro - Vândalos depredaram o termina Parque Dom Pedro II, no centro da capital
Foto: Lucas de Arruda Cardoso / vc repórter
25 de outubro - Nem guichês escaparam da fúria dos manifestantes no terminal Parque Dom Pedro II
Foto: Lucas de Arruda Cardoso / vc repórter
28 de outubro - Jornalistas protestam contra agressões sofridas durante as manifestações. O fotógrafo Sérgio Silva (na frente, ao centro), que foi atingido por uma bala de borracha e perdeu a visão do olho esquerdo, participa do ato
Foto: Peter Leone / Futura Press
31 de outubro - Protesto contra aumento do IPTU teve caminhada até a residência do prefeito Fernando Haddad
Foto: Dario Oliveira / Futura Press
31 de outubro - Por volta das 21h40, os manifestantes caminhavam de volta à avenida Paulista, mas boa parte já havia se dispersado
Foto: Vagner Magalhães / Terra
31 de outubro - Mais de 100 metros adiante, o grupo se deu conta de que havia se enganado e deu meia volta, gritando palavras de ordem contra a prefeitura e o aumento nos tributos
Foto: Vagner Magalhães / Terra
31 de outubro - Sem saber ao certo onde ficava a residência de Haddad, os manifestantes chegaram a passar em frente ao prédio
Foto: Vagner Magalhães / Terra
31 de outubro - Diante do grande reforço policial na região, com viaturas dispostas a até quatro quarteirões do prédio onde mora o prefeito, a manifestação foi pacífica
Foto: Vagner Magalhães / Terra
31 de outubro - Por volta das 21h, o grupo se aproximava da residência de Haddad, na rua Afonso de Freitas, no Paraíso
Foto: Vagner Magalhães / Terra
31 de outubro - Os manifestantes - muitos deles cobrindo os rostos com máscaras - seriam ligados ao movimento Black Bloc
Foto: Vagner Magalhães / Terra
31 de outubro - Os manifestantes se concentraram no vão livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp), de onde partiram por volta das 20h
Foto: Vagner Magalhães / Terra
31 de outubro - O grupo protestava contra o aumento do Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU) na cidade
Foto: Vagner Magalhães / Terra
31 de outubro - Cerca de 300 pessoas fizeram uma caminhada em direção à residência do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad
Foto: Vagner Magalhães / Terra
2 de novembro - Segundo a Polícia Militar, Douglas foi baleado acidentalmente durante uma abordagem
Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil
2 de novembro - Neste ano, as centenas de manifestantes que saíram da Paróquia Santos Mártires e foram até o Cemitério Jardim São Luís prestaram solidariedade à comunidade da Vila Medeiros, zona norte, onde o estudante Douglas Rodrigues foi morto por um policial no último dia 27
Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil
2 de novembro - O ato, que ocorre todos os anos no Dia de Finados, começou como uma reação à violência que afligia o bairro na década de 90
Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil
2 de novembro - "Por que atirou em mim?" era a pergunta que os moradores da região do Jardim Ângela, zona sul paulistana, levavam escritas em camisetas brancas e repetiram em refrão ao saírem em passeata
Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil
5 de novembro - Marcha dos Mascarados, em São Paulo, foi acompanhada por policiais e permanecia pacífica até o início da noite, apesar de ter fechado a avenida Paulista
Foto: Dario Oliveira / Futura Press
5 de novembro - Pelo menos um manifestante foi preso, ao soltar rojão na avenida Paulista
Foto: Thais Sabino / Terra
7 de novembro - Integrantes de movimentos sociais fazem passeata por moradia em São Paulo
Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil
7 de novembro - Cerca de 100 manifestantes se reuniram em frente ao prédio da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo para pedir a desmilitarização da polícia, na capital paulista
Foto: Marcos Bizzotto / Futura Press
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