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Polícia

RJ: após ocupação, prefeitura leva serviços básicos à Maré

31 mar 2014 - 17h46
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Primeiro dia útil após a ocupação pelas forças de segurança do Estado nas favelas do Complexo da Maré
Primeiro dia útil após a ocupação pelas forças de segurança do Estado nas favelas do Complexo da Maré
Foto: Tânia Rêgo / Agência Brasil

A permanência das forças de segurança no Complexo da Maré deu início a um mutirão da prefeitura do Rio de Janeiro, que mobilizou algumas de suas secretarias para atender a demandas acumuladas nos últimos anos e, segundo os próprios secretários, não atendidas por causa da criminalidade. Nas vielas e ruas das 16 comunidades do complexo, garis da Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb), técnicos da Companhia Municipal de Energia e Iluminação (Rioluz) e agentes comunitários de saúde mapeavam nesta segunda-feira as necessidades mais prementes dos moradores, com vistas ao atendimento imediato.

Só a Comlurb retirou 140 toneladas de lixo da Maré até as 10h desta segunda-feira. A companhia é vinculada à Secretaria Municipal de Conservação, que destacou mais de 500 pessoas e 40 carros para a Maré. "Nos próximos 15 dias, vamos tirar um passivo de áreas em que antes não conseguíamos entrar, por problemas relacionados à segurança. O cidadão que mora na Maré vai ter uma nova logística a partir de agora", disse o secretário Marcus Belchior.

Além do acúmulo de lixo, a Maré sofria também com a falta de pontos de iluminação, já que traficantes haviam danificado, com tiros, parte dos postes de iluminação pública. "Estamos trabalhando na instalação de outros pontos de iluminação em áreas estratégicas, definidas pela Secretaria Estadual de Segurança Pública. Como a Maré era uma área conflituosa entre facções, os criminosos avariaram diversos desses pontos", segundo Belchior.

A secretaria também usou tratores para remover barricadas e obstáculos colocados para impedir o avanço de carros da polícia. Hoje, garis varriam e recolhiam lixo em praças e ruas da comunidade, pintando o mobiliário urbano e aparando gramados. Nos canais da comunidade, que é vizinha do Canal do Fundão, na Baía de Guanabara, o trabalho de limpeza cabe à Subsecretaria de Gestão das Bacias Hidrográficas (Rio-Águas).

O secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, também revelou que a ocupação vai permitir a execução de trabalhos que vinham sendo prejudicados pela criminalidade: "Uma série de problemas eram causados pela violência, como a lotação dos profissionais de saúde e o funcionamento das unidades no horário estendido, até às 20h. Essa mudança de perfil vai facilitar muito a vida da comunidade".

Segundo o secretário, os dois principais problemas de saúde registrados na Maré, a hipertensão e o diabetes, tinham seu tratamento prejudicado pela presença de criminosos armados. "Para esses problemas, a mudança de hábito é fundamental. Se você não tem a liberdade de sair da sua casa para fazer um exercício, por exemplo, sai prejudicado. Ter um grau de preocupação e estresse muito elevado também atrapalham o tratamento", conta Soranz.

Comércio e escolas voltam a funcionar

Um dia depois da ocupação do conjunto de favelas, os moradores do Complexo da Maré dizem estar mais seguros com o patrulhamento feito por dois batalhões da Polícia Militar (PM). O comércio e as escolas voltaram a funcionar normalmente. "Ontem, estávamos com 168 homens, e hoje estamos com uma média de 150. A diferença é só por conta da logística, para a montagem das estruturas, mas o efetivo é o mesmo, com turnos de 24 horas que se revezam. O Choque está todo aqui", disse o coronel André Vidal, comandante do Batalhão de Choque.

Para o comandante Vidal, a Maré é um caso em que o confronto entre facções rivais acaba se tornando mais intenso: "É comum locais grandes, como o São Carlos, a Maré e o Complexo do Alemão apresentarem a rivalidade entre facções. Mas, aqui na Maré, por ser uma área plana e não ter barreira geográfica, o confronto parece ser mais contundente", disse o coronel.

Ele acha a divisão do complexo entre organizações criminosas um desafio: "As quadrilhas promovem o terror social, e são arqui-inimigas. Então, o pedaço que divide a Baixa do Sapateiro com o Parque União passa a ser um local de maior tensão, porque, aproveitando a presença policial, algum elemento pode fazer um ato desatinado".

Ao menos três prisões foram feitas nas últimas horas pelos policiais militares. Duas por tráfico de drogas e uma a partir de um mandado de prisão. Os PMs apreenderam munição, drogas, radiocomunicadores e coletes balísticos. Eles circulam pelas ruas, e os moradores manifestam satisfação e preocupações com a situação nas favelas, que reúnem mais de 120 mil habitantes.

Na Vila do Pinheiro, um trabalhador do comércio, que não quis se identificar, conta que era obrigado a conviver com traficantes armados na porta da loja, mesmo no período da manhã: "Com certeza as coisas estão melhorando. Quem era da comunidade vinha aqui na loja mesmo assim, mas gente de fora não vinha de jeito nenhum. Só de termos tudo isso aí, é um avanço", disse ele, apontando para a coleta de lixo e a troca da iluminação pública que tinha sido danificada por tiros.

Outro comerciante, que tomava conta do movimento em seu restaurante, perto dos limites entre a Nova Holanda e a Baixa do Sapateiro, demonstra apreensão: "A gente fica muito preocupado, porque parece que vai ter um confronto a qualquer hora", disse. Circulando em meio ao comércio aberto em uma das ruas mais movimentadas do Complexo da Maré, uma senhora, não quis se identificar nem dar entrevista, mesmo assim, disse que o clima era de tranquilidade: "Não gosto de ficar falando, mas as coisas estão melhores. Sinto mais segurança".

Agência Brasil Agência Brasil
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