Escorada junto ao portão de casa, a técnica de enfermagem Rosa*, 58 anos, olhava receosa a movimentação de policiais pela favela Cachoeirinha, uma das 12 comunidades que compõem o Complexo do Lins, na zona norte do Rio de Janeiro. "Quando vem a polícia, vem tumulto", definiu.
A madrugada de domingo foi longa. Rosa diz que só sossegou no meio da manhã, quando o som dos helicópteros repletos de policiais que davam apoio à operação de ocupação da comunidade e teimavam em passar rente ao morro onde vivem cerca de 15 mil pessoas cessou.
"Nascida e criada" no complexo, ela teme ver na sua favela o mesmo que lê acontecer em outros locais ocupados pela polícia - com a operação neste domingo, o Lins deve receber em breve duas Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), entrando para o rol de comunidades consideradas "pacificadas" pelo governo do Estado.
"A gente fica com os dois pés atrás e muito atrás. É só ler no jornal o que acontece nas outras comunidades pacificadas, a quantidade de estupros, de roubo. Eu tenho medo", afirma.
Ela conta que a semana que antecedeu a ocupação, realizada em 50 minutos e sem nenhum tiro disparado, foi bem diferente da calma e aparente tranquilidade alardeada pela Secretaria Estadual de Segurança. Na terça-feira, quando dois suspeitos foram mortos durante uma operação policial de preparação para a ocupação, Rosa, que trabalha na zona sul da cidade, preferiu dormir na casa de uma prima por medo de entrar na favela à noite.
"Eu queria estar em casa para abrir a porta, cuidar da casa, mas meu telefone não parava de tocar mandando eu não voltar que estava muito perigoso. A polícia quando entra, entra atirando", conta.
Mãe de dois filhos, Rosa tão pouco defende a presença dos criminosos e questiona até que ponto a ocupação tem como objetivo melhorar a vida da comunidade. "Não estou dizendo que o outro lado é uma beleza. Estamos sempre desamparados. Eles não se preocupam com a gente, se preocupam com a imagem deles. Querem tudo livre para quem vem de fora", afirma, citando às Olimpíadas que serão realizadas no Rio em 2016.
Vizinha de Rosa, a pensionista Maria*, 48 anos, prefere, assim como muitos moradores, não comentar a situação na comunidade. "A gente escuta tiro, tranca o portão, manda as crianças ficarem em casa e não tem nada com isso", diz.
"Gatonet"
Enquanto Rosa se inteirava dos acontecimentos da noite, a sua maior preocupação era encontrar um vendedor de televisão a cabo para negociar um novo pacote.
Como em outras comunidades que receberam UPPs, a chegada da polícia representa também o fim do chamado "gatonet". Um vendedor da Sky consultado pela reportagem diz que sua equipe vendeu 27 assinaturas no local apenas neste fim de semana - o plano é chegar a 100 até o fim do dia. "Antes a gente pagava R$ 35 no gato (dinheiro pago ao tráfico pelo direito do uso do sinal), agora vai ter que pagar R$ 49.90 ou R$ 79,90. Vai ficar mais apertado", reclama.
João, 67 anos, por sua vez, não vê problemas na chegada da polícia. Varredor, ele arrumava com calma a frente de seu barraco, localizado em uma das vielas que sobem o morro. "Antigamente tinha muito tiroteio, ficava ruim até para sair de casa. Agora diminuiu. Espero que agora apareça mais trabalho", afirma.
Com a ocupação do Complexo do Lins e a futura instalação de duas UPPs na comunidade, que deve acontecer em breve, o Rio passa a ter 36 Unidades de Polícia Pacificadora. A expectativa é que o Complexo da Maré seja o próximo a ser ocupado.
*Os nomes foram modificados a pedido dos moradores.
A Polícia Militar ocupou, na manhã deste domingo, comunidades do Complexo de favelas do Lins
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Mais de mil policiais participaram da ação
Foto: Mauro Pimentel / Terra
A operação foi pacífica e não houve resistência por parte dos traficantes
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Criança brinca com os cavalos da Polícia Militar
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Moradores acompanham a movimentação das forças de segurança
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Moradores registra o momento com fotografias
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Policiais e fuzileiros navais ocupam o Complexo do Lins, na zona norte do Rio
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Policiais e fuzileiros navais ocupam o Complexo do Lins, na zona norte do Rio
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Policiais hastearam a bandeira do Brasil após o processo de ocupação no complexo do Lins e Camarista Méier
Foto: Polícia Militar/RJ / Divulgação
Policiais e fuzileiros navais ocupam o Complexo do Lins, na zona norte do Rio
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Policiais e fuzileiros navais ocupam o Complexo do Lins, na zona norte do Rio
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Fuzileiros e PMS ocupam, desde a manhã deste domingo, as favelas do complexo
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Homens da Marinha ingressaram nas comunidades com carros blindados
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Nas primeiras horas de operação, nenhum disparo foi ouvido na região
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Pelo menos 270 homens do Bope participavam da ocupação
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Policiais e fuzileiros navais ocupam o Complexo do Lins, na zona norte do Rio
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Policiais e fuzileiros navais ocupam o Complexo do Lins, na zona norte do Rio
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Policiais e fuzileiros navais ocupam o Complexo do Lins, na zona norte do Rio
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Policiais e fuzileiros navais ocupam o Complexo do Lins, na zona norte do Rio
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Policiais e fuzileiros navais ocupam o Complexo do Lins, na zona norte do Rio
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Policiais e fuzileiros navais ocupam o Complexo do Lins, na zona norte do Rio
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Reunião de policiais momentos antes do início da operação
Foto: Polícia Militar/RJ / Divulgação
Policiais e fuzileiros navais ocupam o Complexo do Lins, na zona norte do Rio
Foto: André Gomes Melo/Governo do Rio de Janeiro/ / Divulgação
Policiais e fuzileiros navais ocupam o Complexo do Lins, na zona norte do Rio
Foto: André Gomes Melo/Governo do Rio de Janeiro/ / Divulgação
Policiais e fuzileiros navais ocupam o Complexo do Lins, na zona norte do Rio
Foto: André Gomes Melo/Governo do Rio de Janeiro/ / Divulgação
Foram apreendidas drogas por policiais durante a operação
Foto: Polícia Militar/RJ / Divulgação
Foram apreendidas drogas por policiais durante a operação
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Funcionários do Comlurb limparam as ruas das comunidades
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Grupo da cavalaria também atuou na ação militar
Foto: Polícia Militar/RJ / Divulgação
A bandeira simboliza a retomada de território
Foto: Polícia Militar/RJ / Divulgação
Policiais e fuzileiros navais ocupam o Complexo do Lins, na zona norte do Rio
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Policiais e fuzileiros navais ocupam o Complexo do Lins, na zona norte do Rio
Foto: André Gomes Melo/Governo do Rio de Janeiro/ / Divulgação
Policiais e fuzileiros navais ocupam o Complexo do Lins, na zona norte do Rio
Foto: André Gomes Melo/Governo do Rio de Janeiro/ / Divulgação
Policiais e fuzileiros navais ocupam o Complexo do Lins, na zona norte do Rio
Foto: André Gomes Melo/Governo do Rio de Janeiro/ / Divulgação
Policiais e fuzileiros navais ocupam o Complexo do Lins, na zona norte do Rio
Foto: André Gomes Melo/Governo do Rio de Janeiro/ / Divulgação
Policiais e fuzileiros navais ocupam o Complexo do Lins, na zona norte do Rio
Foto: André Gomes Melo/Governo do Rio de Janeiro/ / Divulgação
Policiais e fuzileiros navais ocupam o Complexo do Lins, na zona norte do Rio
Foto: André Gomes Melo/Governo do Rio de Janeiro/ / Divulgação
Policiais e fuzileiros navais ocupam o Complexo do Lins, na zona norte do Rio
Foto: André Gomes Melo/Governo do Rio de Janeiro/ / Divulgação
Policiais e fuzileiros navais ocupam o Complexo do Lins, na zona norte do Rio
Foto: André Gomes Melo/Governo do Rio de Janeiro/ / Divulgação
Policiais e fuzileiros navais ocupam o Complexo do Lins, na zona norte do Rio
Foto: André Gomes Melo/Governo do Rio de Janeiro/ / Divulgação
Policiais e fuzileiros navais ocupam o Complexo do Lins, na zona norte do Rio
Foto: André Gomes Melo/Governo do Rio de Janeiro/ / Divulgação
Policiais e fuzileiros navais ocupam o Complexo do Lins, na zona norte do Rio
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Policiais e fuzileiros navais ocupam o Complexo do Lins, na zona norte do Rio
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Policiais e fuzileiros navais ocupam o Complexo do Lins, na zona norte do Rio
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Policiais e fuzileiros navais ocupam o Complexo do Lins, na zona norte do Rio
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Policiais e fuzileiros navais ocupam o Complexo do Lins, na zona norte do Rio
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Policiais e fuzileiros navais ocupam o Complexo do Lins, na zona norte do Rio
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Policiais e fuzileiros navais ocupam o Complexo do Lins, na zona norte do Rio
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Policiais e fuzileiros navais ocupam o Complexo do Lins, na zona norte do Rio
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Alguns moradores estão receosos com a presença da polícia na favela e reclamavam até do fim do 'gatonet' da TV
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Policiais fortemente armados entraram na comunidade, composta por 12 favelas
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Junto à arma, uma câmera fotográfica registrava toda a operação
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Operação de ocupação da favela contou com grande contingente de policiais
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Sem disparar tiros, policiais ocuparam o complexo de favelas do Lins no último domingo
Foto: José Carlos Pereira de Carvalho / vc repórter