RS: suspeita de fazer bolo com arsênio cometeu homicídios e tentativas em série, diz polícia
Deise Moura dos Anjos é suspeita de ter comprado o veneno usado para matar as vítimas; sogro dela também morreu envenenado há alguns meses
A suspeita de envenenar o bolo com arsênio, que causou a morte de três pessoas da mesma família em Torres, no litoral do Rio Grande do Sul, cometeu outros homicídios e tentativas de homicídio, segundo a polícia. As autoridades ainda apontam que Deise Moura dos Anjos, de 39 anos, também foi responsável pela morte do sogro, em setembro.
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As informações foram divulgadas em uma entrevista coletiva na manhã desta sexta-feira, 10. “Hoje eu posso dizer com certeza que ela pesquisou, comprou, recebeu e usou o veneno para matar essas vítimas”, afirmou o chefe do Departamento de Polícia do Interior (DPI) da Polícia Civil, Cleber Lima.
Deise foi presa temporariamente no último domingo, 5, sob a acusação de triplo homicídio duplamente qualificado por motivo fútil e com emprego de veneno, além de tripla tentativa de homicídio duplamente qualificada. Ela teria comprado a substância e colocado na farinha usada pela sogra, de 60 anos, que preparou o bolo. A mulher continua internada devido à ingestão do alimento contaminado, em dezembro do ano passado.
Combinação para matar
De acordo com a delegada Sabrina Deffente, a suspeita pesquisou na internet uma receita de veneno que fosse inodora e sem gosto. Usou termos como ‘veneno’, 'veneno para matar humano’ e foi evoluindo. “Ela chega, então, numa composição química que tenta montar”, esclarece.
A pesquisa segue até ela descobrir o arsênio, fato comprovado pela polícia ao verificar as compras feitas por Deise na internet. “A partir dessa combinação de elementos, ela começa a tentar, então, envenenar familiares”, explica.
Isso ocorre, conforme as autoridades, até que ela consegue chegar à morte do sogro, em setembro do ano passado, inicialmente tratada como intoxicação alimentar. No entanto, após a morte de três familiares que consumiram o bolo, foi constatada a presença de arsênio também no corpo do pai de seu companheiro, exumado para perícia. Inclusive, Deise tentou evitar a exumação.
“Ela tenta, de todas as formas junto dos familiares, a cremação desse corpo. Não conseguindo isso, ela constrói outros relatos para tentar encobrir a verdadeira causa da morte do sogro. Ela consegue, num primeiro momento, até que ocorre esse envenenamento lá em Torres”, reforça a delegada.
Sabrina ainda explica que cada dado extraído do celular da acusada era uma surpresa para a equipe de investigação. Para a polícia, fica claro que Deise “praticava homicídios e tentativas de homicídios em série” e que, durante “muito tempo”, não foi descoberta, pois ela tentava apagar provas que pudessem levar a ela. No entanto, com as mortes ocorridas em Torres, a situação “fugiu de seu controle”.
“Na verdade, o bolo era para ter sido consumido por só três pessoas: a dona Zeli [dos Anjos, sogra dela], a irmã e o Jefferson, que estariam presentes naquela comemoração. Ocorre que outros parentes se juntaram e acabou acontecendo essa série de mortes de hospitalizações, o que levou a gente a começar essa investigação. Com a investigação, a gente descobriu não só essas mortes, mas também a morte do sogro que teria ocorrido três meses antes”, explica a delegada.
Postura fria
Durante a entrevista, o delegado de Torres, Marcos Vinicius Veloso, afirmou que, durante seus depoimentos, Deise apresentava uma “postura fria” e com respostas sempre na “ponta da língua”. A autoridade também afirma que, pelo entendimento da polícia, o principal alvo da mulher era Zeli, já que estava presente nos dois envenenamentos.
“A Zeli estava no dia 2 de setembro, quando ela fez o café com leite, óleo e tudo mais com o seu marido. Ela também foi para o hospital junto com o seu marido, e ele faleceu. A nora, investigada, se referia à Zeli como ‘Naja’. Um detalhe que me chamou a atenção: todo momento em que ela chamava a sogra de Naja, ela ria”, informou Veloso.
Amostras
Em uma coletiva de imprensa realizada na segunda-feira, 6, a diretora-geral do Instituto-Geral de Perícias (IGP), Marguet Inês Hoffmann, afirmou que o arsênio responsável pelas mortes estava presente na farinha utilizada para fazer o bolo, encontrada na residência da sogra da suspeita, em Arroio do Sal.
De acordo com Marguet, foram coletadas 89 amostras na casa da mulher que preparou o bolo, e uma delas, de farinha, apresentou níveis elevados da substância, que também foi detectada no sangue das vítimas.
"Foram identificadas concentrações altíssimas de arsênio nas três vítimas. Tão elevadas que são tóxicas e letais. Para se ter ideia, 35 microgramas já são suficientes para causar a morte de uma pessoa. Em uma das vítimas, havia concentração 350 vezes maior", explicou Marguet.
As três vítimas fatais, que consumiram o bolo, são as irmãs Neuza Denize Silva dos Anjos e Maida Berenice Flores da Silva, além da filha de Neuza, Tatiana Denize Silva dos Anjos.
Zeli dos Anjos, a mulher que preparou o bolo, permanece hospitalizada em estado estável. A criança de 10 anos que também ingeriu o bolo recebeu alta do hospital no último dia 3, conforme informações da Polícia Civil. O marido de Maida também comeu o doce, foi hospitalizado, mas já recebeu alta.
O Terra tenta localizar a defesa de Deise Moura dos Anjos. O espaço segue aberto para manifestações.