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Polícia

Testemunha confirma que suspeito de matar cinegrafista confessou o crime

13 fev 2014 - 19h15
(atualizado às 19h32)
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Uma testemunha, cujo nome não foi revelado, informou à polícia que na quinta-feira (6), dia da manifestação no centro do Rio de Janeiro, recebeu uma ligação de Caio Silva de Souza, envolvido na morte do cinegrafista da TV Bandeirantes, Santiago Andrade. O delegado Maurício Luciano, responsável pelo inquérito sobre a morte do cinegrafista, disse que no telefonema Caio confessou que havia cometido uma besteira e que tinha matado um homem.

Segundo o delegado, a declaração foi dada informalmente no hospital, quando tentava localizar o suspeito da morte do cinegrafista, após ter sido expedido o mandado de prisão contra ele. A testemunha é um colega de Caio de quando ele trabalhava como auxiliar de serviços gerais no Hospital Rocha Faria, em Campo Grande.

"Eu fui no hospital no dia do mandado de prisão para cumprir e a gente procurou ouvir as pessoas próximas ao Caio. Uma delas, com quem ele tinha contato constante, nos revelou isso. A ligação dele ofegante, por volta de 19h30, no dia do fato, afirmando ter feito uma besteira e que tinha matado um homem", revelou, acrescentando que, por isso, a testemunha foi convocada a prestar depoimento formal à polícia, quando confirmou a informação, que será incluída no inquérito que vai apontar crime de homicídio com dolo eventual.

O delegado ficou satisfeito em saber que a promotora Cláudia Condack, que pretende denunciar até o final da próxima semana os dois suspeitos de ter lançado o rojão contra o cinegrafista, concorda que seja esta a caracterização do crime, conforme ela tinha revelado ontem, em entrevista à Agência Brasil. "Fiquei muito satisfeito. É na mesma linha", disse.

Para Maurício Luciano, as investigações chegaram a provas "robustas". Na avaliação dele, o fato de Caio ter dito que foi incentivado por Fábio Raposo (o tatuador que confessou ter participado do crime) a deflagrar o rojão não muda a direção do relatório do inquérito que será entregue amanhã ao Ministério Público.

"É claro que ele vai alegar tudo para não assumir que sabia que aquilo era um rojão. Todos eles usam constantemente em manifestações o chamado rojão treme-terra ou rojão de vara. Então, ele dizer que é sinalizador, que o outro que acendeu, que não sabia do poder de destruição; com tudo isso ele está se defendendo. Ele vai exercer isso em juízo. O advogado vai orientar a ele dizer. O que temos aqui são provas robustas, com materialidade, testemunhas que indicam a intenção dele e autoria do crime. Temos a autoria e a materialidade", esclareceu.

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Maurício Luciano destacou que quem presta auxílio material é partícipe e quem deflagra é autor, mas ambos vão receber a mesma pena. "O que a gente sabe é que eles agiram em conjunto", contou.

O delegado disse que não viu nenhuma imagem em que Caio apareça segurando o rojão, mas isso pode ser uma estratégia dos manifestantes. "Quem detona não porta, quem porta não detona, para evitar que a pessoa fique incumbida de todos os atos durante uma manifestação. É uma divisão de tarefas", explicou.

Depois de chegar ontem à Cadeia Pública, no Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu, onde está preso, Caio prestou depoimento ao delegado Fábio Pacífico. "Foi tomado depoimento porque ele demonstrou interesse em ser ouvido. A gente não sabia o que ele ia falar. Ele falou tudo que quis falar de maneira tranquila. Agora tenho que extrair para o inquérito o que interessa para esta investigação", disse Maurício Luciano.

O delegado destacou alguns pontos do depoimento que têm relação com o inquérito, como o fato de Caio ter dito que quem o tinha incentivado foi Fábio, que pensou que se tratava de um sinalizador e que não tinha intenção de matar o cinegrafista. "Muito pouco do que ele disse nessas duas páginas pouco acrescentam à investigação. Para mim, a relevância do depoimento é relativa. Será importante se outras investigações tiverem como objetivo saber o suposto patrocínio de manifestantes", completou.

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Segundo o delegado, o advogado Jonas Tadeu Nunes não estava presente por causa da urgência e não havia tempo suficiente para que ele fosse chamado. "O juiz é que vai entender se tem peso ou não. Coube a gente inquiri-lo porque havia uma situação de que o Caio ia ficar recolhido e queria falar. Então, não houve tempo para chamar advogado. O peso que isso terá no inquérito será verificado em juízo", explicou.

O tatuador Fábio Raposo, que estava ao lado de Caio no momento em que o rojão foi aceso, permanece preso no mesmo complexo penitenciário, mas está em prédio diferente. Os dois têm prisão temporária que poderá ser transformada em preventiva depois que a denúncia for recebida pela Justiça e iniciado o processo. "A prisão temporária só pode viger durante a investigação. Quando o processo for iniciado, eles poderão continuar presos, mas com outro título de prisão preventiva".

Atingido em protesto, cinegrafista tem morte cerebral
O cinegrafista Santiago Andrade foi atingido na cabeça por um rojão durante a cobertura de um protesto contra o aumento das passagens de ônibus no Centro do Rio de Janeiro, no dia 6 de fevereiro. Além dele, outras seis pessoas ficaram feridas na mesma manifestação.

De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, o cinegrafista chegou em coma ao hospital municipal Souza Aguiar. Ele sofreu afundamento do crânio, perdeu parte da orelha esquerda e passou por cirurgia no setor de neurologia. A morte encefálica foi informada pela secretaria no início da tarde de 10 de fevereiro, após ser diagnosticada pela equipe de neurocirurgia do hospital onde ele estava internado no Centro de Terapia Intensiva.

O tatuador Fábio Raposo confessou à polícia ter participado da explosão do rojão que atingiu Santiago. Ele foi preso na manhã de domingo em cumprimento a um mandado de prisão temporária expedido pela Justiça. O delegado Maurício Luciano, titular da 17ª Delegacia de Polícia (São Cristóvão) e responsável pelas investigações, disse que Fábio já foi indiciado por tentativa de homicídio qualificado e crime de explosão e que a pena pode chegar a 35 anos de reclusão.

Raposo ajudou a polícia a reconhecer um segundo responsável pelo disparo do artefato que causou a morte do cinegrafista. O tatuador, preso no Complexo Penitenciário de Gericinó, na zona oeste do Rio de Janeiro, afirmou, de acordo com o relato do delegado, que “eles se encontravam em manifestações" e que "esse rapaz tem perfil violento”.

A Polícia Civil do Rio de Janeiro divulgou, na manhã do dia 11, uma foto do suspeito de ter acendido o rojão que atingiu Santiago Andrade. Caio Silva de Souza, 23 anos, tem duas passagens pela polícia e era considerado foragido desde que foi expedido um mandado de prisão temporária em seu nome. Fábio Raposo, que passou o rojão, reconheceu o autor do disparo a partir da imagem levada pelo delegado.

Procurado por homicídio doloso qualificado – quando há intenção de matar – por uso de artefato explosivo e pelo crime de explosão, o suspeito foi preso na madrugada de 12 de fevereiro em uma pousada na cidade de Feira de Santana, na Bahia. De acordo com o advogado Jonas Tadeu Nunes, que também defende Fábio Raposo, Caio Silva de Souza seguia em direção ao Ceará, para a casa de um avô, mas foi convencido a se entregar. Ele não reagiu ao ser preso.

Agência Brasil Agência Brasil
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