UFMG sobre PM: "despreparada para lidar com manifestações"
"É inaceitável que a polícia entre no campus da UFMG, dispare e agrida estudantes, professores e servidores técnico-administrativos". É assim que a reitoria da Universidade Federal de Minas Gerais finaliza uma nota se posicionando sobre duas ações da polícia dentro da instituição.
O reitor, professor Jaime Ramírez, criticou severamente os dois episódios nos quais estudantes secundaristas e universitários protestavam contra a PEC do teto. No mais recente episódio, ocorrido no dia 7, os manifestantes queimaram objetos numa avenida na região da Pampulha, em Belo Horizonte. Na nota divulgada no site da universidade, Ramírez repudiou, a ação da polícia que "mais uma vez se revelou despreparada para lidar com manifestações da sociedade".
A saída dos policiais de dentro da UFMG só aconteceu, segundo afirma a nota, após o contato entre o reitor e o gabinete do governador Fernando Pimentel (PT), por volta de 21h40. Pimentel chegou a lamentar o fato ocorrido no dia 18 em seu perfil numa rede social: "Quero aqui ratificar o mais profundo respeito à liberdade de manifestação dentro do princípio democrático e dos ordenamentos legais, orientação que sempre pautou este governo. Os excessos de procedimento que porventura possam ter ocorrido nesse episódio serão devidamente apurados, com divulgação à sociedade".
Vídeos e fotos publicadas por associações ligadas a movimentos estudantis mostram artefatos militares deixados na invasão. Bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha foram disparados e alguns ficaram feridos. Quase um mês depois, nenhuma informação sobre o caso foi divulgada. A reportagem solicitou esclarecimentos à Secretaria de Comunicação de Minas Gerais sobre como está a apuração na esfera administrativa, mas até o fechamento desta matéria não recebeu nenhuma resposta.
Depredação
No entanto, a ação da PM não foi a única crítica da universidade acerca dos protestos e a aglomeração de manifestantes dentro da UFMG. Paredes do prédio onde funciona a Faculdade de Letras foram pichadas e o depósito de materiais e arquivos e um dos restaurantes do campus suspendeu o atendimento.
"A Universidade não pode admitir atos de violência contra membros de sua comunidade ou contra o patrimônio público, em particular da própria UFMG. Vamos apurar os fatos e encontrar os responsáveis, tomando em seguida medidas cabíveis", afirmou Jaime Ramírez. "Um dos postes do estacionamento foi derrubado e usado para demolir a parede", disse.
Quase 300 quilos de comida teve de ser destruída por risco de contaminação. No total 150 quilos de arroz branco, 82,5 quilos de feijão, 65 quilos de frango, 60 quilos de carne assada e cinco quilos de arroz integral foram para o lixo. De acordo com a direção da Faculdade de Letras, documentos históricos da unidade não foram destruídos.
Protestos em Minas Gerais
Movimentos sociais ligados à educação estão entre as principais categorias que tem protestados contra a PEC do teto.
O movimento de ocupação de escolas estaduais e federais em todo o estado ultrapassa a centena. Estudantes e professores dos centros federais de educação tecnológica e dos campi de Juiz de Fora, Montes Claros, Ouro Branco, PUC-Minas, Ouro Preto além de Belo Horizonte.
O setor será um dos mais atingidos, caso a proposta seja aprovada, como afirmou o relator especial da ONU sobre a extrema pobreza e os direitos humanos, Philip Alston. As Nações Unidas consideram que "se adotada, essa emenda bloqueará gastos em níveis inadequados e rapidamente decrescentes na saúde, educação e segurança social, portanto, colocando toda uma geração futura em risco de receber uma proteção social muito abaixo dos níveis atuais".
Veja a íntegra do comunicado da UFMG sobre a ação da PM:
Menos de 20 dias depois de ter sido alvo de ação truculenta da Polícia Militar, na repressão a movimentos contrários à tramitação da PEC 55 no Senado Federal, a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) voltou a sofrer ação de força extremada. Ao reprimir, na noite desta quarta-feira, dia 7, protesto de estudantes secundaristas que interromperam o trânsito na avenida Antônio Carlos, militares do Batalhão de Choque lançaram bombas de gás lacrimogêneo e sinalizadores contra o campus, para onde correram os manifestantes, avançando sobre as dependências da UFMG.
"Foi uma ação ainda mais violenta do que aquela que a PM perpetrou no dia 18 de novembro passado. Repudiamos a ação da polícia, que, mais uma vez, se revelou despreparada para lidar com manifestações da sociedade”, criticou o reitor Jaime Ramírez.
O protesto de estudantes secundaristas começou por volta das 19h, quando grupos queimaram objetos na avenida Antônio Carlos para impedir o trânsito. A PM ordenou a saída dos estudantes e, diante da recusa, usou a força para dispersar os manifestantes, que se refugiaram no campus. Os militares então lançaram bombas em direção aos estudantes. Integrantes da Administração Central da UFMG, professores, servidores técnico-administrativos e um representante da Secretaria de Estado de Direitos Humanos, Participação Social e Cidadania (Sedpac) se dispuseram a mediar a situação, até que se iniciou novo avanço da PM em direção ao campus, particularmente ao prédio da Escola de Belas-Artes, onde a maior parte dos manifestantes buscou abrigo.
Após contato do reitor Jaime Ramírez com o gabinete do governador, a PM se retirou do campus por volta das 21h40. O reitor voltou a cobrar um posicionamento do governo do Estado sobre a ação da polícia. No dia 18 passado, após ação de força desmedida e desproporcional reconhecida pelo próprio governador Fernando Pimentel, o reitor havia se reunido com o governador demandando rigorosa apuração dos fatos. “É inaceitável que a polícia entre no campus da UFMG, dispare e agrida estudantes, professores e servidores técnico-administrativos", protestou Jaime Ramírez.