“Parece que foi ontem, meu amigo”, diz um senhor de cabelos brancos, barba feita, camisa verde e ainda tentando entender se sua vida irá, de fato, melhorar com a presença de tantos policiais. No ano de 1965, Gelson Machado chegou à Vila Kennedy e foi o fundador da associação de moradores local. Quase 50 anos depois, ele é bem sincero ao comentar a presença das forças de segurança do Estado do Rio de Janeiro para a implantação da 38ª Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) na região onde vivem 33 mil pessoas, junto com a favela do Metral. “Vamos experimentar”, diz, sucinto.
Seu Gelson prefere mesmo é contar a sua longa trajetória. Bem em frente a sua casa, onde vive com a esposa, dois filhos, um genro e uma nora, e ao salão de festas qud comanda há duas décadas, ele assiste o Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) da PM montar sua base e hastear a bandeira do Estado, símbolo da ocupação. Foi exatamente para este ponto que ele foi trazido há quase cinco décadas despejado da antiga favela do Esqueleto, no bairro do Maracanã, na zona norte do Rio.
“Cheguei em casa e não tinha mais nada, tinham derrubado meu barraco”, relembra. “Me botaram num caminhão do antigo Departamento de Limpeza Urbana (DLU) e me desovaram aqui com a minha família. A gente não tinha outra opção”, completa. Dentro do programa Aliança Para o Progresso, com apoio dos EUA para impedir o avanço comunista na América Latina, o Estado da Guanabara da época aproveitou a verba para retirar moradores de favelas de Botafogo, na zona sul, e do Maracanã (favela do Esqueleto) para impedir a favelização cada vez mais crescente na região naquele momento.
“Não me perguntaram se eu queria mudar. Simplesmente me jogaram aqui com a minha família. Cheguei com minha falecida mãe e seis irmãos. Não tinha nada, médico, dentista, lixeiro, nada”, relembra, mostrando a carteirinha de membro número 1 da Associação de Moradores da Vila Kennedy – batizada com este nome em homenagem ao presidente norte-americano incentivador do programa, John Kennedy, assassinado com um tiro em Dallas, em 1963, pouco antes de a comunidade e seus planos serem colocados em prática.
“Como não tinha nenhum tipo de serviço, a gente foi se juntando, unindo forças e implementando melhoras aqui, porque era um campo só, não tinha nada mesmo”, explica. A história da Vila Kennedy encontra exemplo em outra comunidade da zona oeste do Rio, a Cidade de Deus, para onde foram levados moradores também de áreas da zona sul da capital fluminense, na mesma época.
“Eu mesmo já levei duas mulheres que estavam para ganhar neném no meu próprio carro. É assim que a gente se virava”, relembra ainda. “Não que agora a gente tenha muita coisa, mas melhorou um pouco”, completa Machado, natural de São João da Barra, e motorista de táxi e transporte de carga naquele momento.
“Espero que com a chegada deles (policiais) dê para a gente respirar um pouco mais. Espero que agora dê para a gente pedir socorro pelo menos quando precisar. É o que eu espero, mas não sei ainda”, volta a ser receoso. “Há dois dias mesmo eu pensei em vender tudo quando deu a confusão”, diz sobre a resistência do tráfico local que invadiu a avenida Brasil, que corta a comunidade, fechou o tráfego e atirou em transformadores, deixando os moradores sem luz. “Por enquanto vou ficar, espero que eu não tenha que vender nada”, finaliza.
Rio: polícia ocupa Vila Kennedy para instalação de nova UPP
Comunidade com cerca de 33 mil moradores, a Vila Kennedy foi o local escolhido para a instalação da 38ª Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Rio de Janeiro. Junto do Bope, forças de segurança atuam no processo de varredura de toda a comunidade atrás de possíveis criminosos, armas e drogas
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Moradores da Vila Kennedy mantiveram seus hábitos durante a instalação de nova UPP: uma feira, inclusive, continuou funcionando
Foto: Mauro Pimentel / Terra
A Secretaria de Segurança Pública do Estado pediu para que os moradores colaborem com os policiais com informações que podem ser passadas via Disque Denúncia
Foto: Mauro Pimentel / Terra
As autoridades pediram que a população siga com sua rotina normalmente durante a operação
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Junto do Bope, as forças de segurança atuam no processo de varredura de toda a comunidade atrás de possíveis criminosos, armas e drogas
Foto: Mauro Pimentel / Terra
A Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) da Polícia Civil também atua na operação na tentativa de cumprir mandados de prisão, e busca e apreensão
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Como forma de segurança, 12 escolas, três creches e dois espaços de desenvolvimento amanheceram seu aulas para um estimado de 9 mil alunos da rede municipal e estadual de ensino
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Cãs farejadores atuam na mata em busca de armas e drogas
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Conforme a polícia, não houve resistência e nenhum tiro foi disparado. A Secretaria de Segurança diz que a comunidade foi ocupada em 20 minutos
Foto: Edson Taciano / Futura Press
Cerca de 33 mil moradores vivem na região que é tida como mais rural do Rio, entre Bangu e Campo Grande
Foto: Mauro Pimentel / Terra
A Vila Kennedy é um conjunto habitacional inaugurado há cerca de 50 anos, local para onde foram deslocados moradores de favelas em Botafogo, na zona sul, e Maracanã, na zona norte
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Toda a extensão do conjunto de favelas é cortada pela avenida Brasil numa área do Rio de Janeiro tida como rural
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Forças de segurança do Estado no Rio de Janeiro iniciaram na manhã desta quinta-feira a ocupação da Vila Kennedy, comunidade da zona oeste da capital fluminense, para a instalação da 38ª Unidade de Polícia Pacificadora (UPP)
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Policiais realizaram uma operação de ocupação da favela Vila Kennedy, na zona oeste do Rio de Janeiro, para a instalação da 38ª Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Estado
Foto: Paulo Campos / Futura Press
Participam do efetivo de ocupação homens do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), Batalhão de Choque, Batalhão de Ação com Cães, além de apoio do Grupamento Aéreo Marítimo e Batalhão de Policiamento em Vias Especiais (BPVE)
Foto: Reynaldo Vasconcelos / Futura Press
A região é conhecida por ser polo de disputa entre quadrilhas de traficantes rivais que vem aterrorizando os moradores com frequentes tiroteios
Foto: Mauro Pimentel / Terra
A VK é fruto de uma investida do governo dos EUA, nos anos 1960, na tentativa de conter o avanço comunista na América do Sul
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Os policiais que atuam na região revistaram carros e motos. Durante a ocupação, o clima era tranquilidade na região
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Bandeiras do Brasil e do Estado do Rio de Janeiro foram hasteadas durante ocupação da Vila Kennedy na manhã desta quinta-feira no Rio de Janeiro
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Hasteamento das bandeiras do Brasil e do Estado do Rio de Janeiro faz parte de uma cerimônia simbólica que sempre marca a ocupação das forças de segurança
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Gelson Machado chegou em 1965 à Vila Kennedy e foi o fundador da associação de moradores local
Foto: André Naddeo / Terra
Durante a ocupação, os agentes fizeram varredura e efetuaram uma série de prisões
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Algemados e presos em flagrante, criminosos foram levados para a delegacia
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Criança chora assustada com os rasantes dos helicópteros e tumulto nas ruelas da vila
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Veículos também foram vistoriados, incluindo táxis