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Polícia

"Vamos experimentar", diz fundador de associação sobre UPP

Gelson Machado chegou à comunidade despejado da favela do Esqueleto, no Maracanã; ele vê com reticência a chegada das forças de segurança

13 mar 2014 - 10h28
(atualizado às 17h16)
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Gelson Machado chegou em 1965 à Vila Kennedy e foi o fundador da associação de moradores local
Gelson Machado chegou em 1965 à Vila Kennedy e foi o fundador da associação de moradores local
Foto: André Naddeo / Terra

“Parece que foi ontem, meu amigo”, diz um senhor de cabelos brancos, barba feita, camisa verde e ainda tentando entender se sua vida irá, de fato, melhorar com a presença de tantos policiais. No ano de 1965, Gelson Machado chegou à Vila Kennedy e foi o fundador da associação de moradores local. Quase 50 anos depois, ele é bem sincero ao comentar a presença das forças de segurança do Estado do Rio de Janeiro para a implantação da 38ª Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) na região onde vivem 33 mil pessoas, junto com a favela do Metral. “Vamos experimentar”, diz, sucinto. 

Seu Gelson prefere mesmo é contar a sua longa trajetória. Bem em frente a sua casa, onde vive com a esposa, dois filhos, um genro e uma nora, e ao salão de festas qud comanda há duas décadas, ele assiste o Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) da PM montar sua base e hastear a bandeira do Estado, símbolo da ocupação. Foi exatamente para este ponto que ele foi trazido há quase cinco décadas despejado da antiga favela do Esqueleto, no bairro do Maracanã, na zona norte do Rio.

“Cheguei em casa e não tinha mais nada, tinham derrubado meu barraco”, relembra. “Me botaram num caminhão do antigo Departamento de Limpeza Urbana (DLU) e me desovaram aqui com a minha família. A gente não tinha outra opção”, completa. Dentro do programa Aliança Para o Progresso, com apoio dos EUA para impedir o avanço comunista na América Latina, o Estado da Guanabara da época aproveitou a verba para retirar moradores de favelas de Botafogo, na zona sul, e do Maracanã (favela do Esqueleto) para impedir a favelização cada vez mais crescente na região naquele momento.

“Não me perguntaram se eu queria mudar. Simplesmente me jogaram aqui com a minha família. Cheguei com minha falecida mãe e seis irmãos. Não tinha nada, médico, dentista, lixeiro, nada”, relembra, mostrando a carteirinha de membro número 1 da Associação de Moradores da Vila Kennedy – batizada com este nome em homenagem ao presidente norte-americano incentivador do programa, John Kennedy, assassinado com um tiro em Dallas, em 1963, pouco antes de a comunidade e seus planos serem colocados em prática.

“Como não tinha nenhum tipo de serviço, a gente foi se juntando, unindo forças e implementando melhoras aqui, porque era um campo só, não tinha nada mesmo”, explica. A história da Vila Kennedy encontra exemplo em outra comunidade da zona oeste do Rio, a Cidade de Deus, para onde foram levados moradores também de áreas da zona sul da capital fluminense, na mesma época.

<p>Quase 50 anos depois, seu Gelson é bem sincero ao comentar a presença das forças de segurança no local: "vamos experimentar"</p>
Quase 50 anos depois, seu Gelson é bem sincero ao comentar a presença das forças de segurança no local: "vamos experimentar"
Foto: André Naddeo / Terra

“Eu mesmo já levei duas mulheres que estavam para ganhar neném no meu próprio carro. É assim que a gente se virava”, relembra ainda. “Não que agora a gente tenha muita coisa, mas melhorou um pouco”, completa Machado, natural de São João da Barra, e motorista de táxi e transporte de carga naquele momento.

“Espero que com a chegada deles (policiais) dê para a gente respirar um pouco mais. Espero que agora dê para a gente pedir socorro pelo menos quando precisar. É o que eu espero, mas não sei ainda”, volta a ser receoso. “Há dois dias mesmo eu pensei em vender tudo quando deu a confusão”, diz sobre a resistência do tráfico local que invadiu a avenida Brasil, que corta a comunidade, fechou o tráfego e atirou em transformadores, deixando os moradores sem luz. “Por enquanto vou ficar, espero que eu não tenha que vender nada”, finaliza.

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Fonte: Terra
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