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Política

4 em cada 10 policiais consideram 'legítima' a pauta dos extremistas do 8 de Janeiro

Pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostra que 40% dos policiais condenam o vandalismo, mas acreditam que a motivação das manifestações 'não atenta contra a democracia'

30 jan 2023 - 05h10
(atualizado às 07h34)
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Policiais militares compram água de coco enquanto manifestantes invadem Congresso, STF e Planalto.
Policiais militares compram água de coco enquanto manifestantes invadem Congresso, STF e Planalto.
Foto: Weslley Galzo/Estadão / Estadão

Quatro em cada dez agentes de segurança pública concordam total ou parcialmente que a pauta defendida pelos invasores das sedes dos três Poderes é "legítima e não atenta contra a democracia". O dado é de uma pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), que consultou servidores das polícias civil, militar, científica e federal, de guardas municipais e do corpo de bombeiros de todo o País.

No enunciado feito aos policiais, a entidade perguntou se a depredação de prédios públicos promovida por extremistas é considerada condenável, mas com motivação legítima. A afirmação teve a adesão total de 19,4% dos entrevistados, e parcial de 20,5%. A tese se assemelha à de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro que participaram dos atos de 8 de janeiro e condenaram o vandalismo, atribuindo os ataques a infiltrados.

Segundo a pesquisa do FBSP, 62,1% dos agentes concordam total ou parcialmente que os policiais que facilitaram a ação dos extremistas devem ser punidos; 17,3% discordam totalmente. Ainda de acordo com o levantamento, 55,7% consideram ter havido omissão no policiamento, e mais de 70% veem falhas de planejamento e comando.

O estudo mostra também que 58,9% disseram acreditar que a conduta dos policiais designados para as linhas de proteção dos prédios foi inadequada e sem o devido rigor para conter distúrbios; 61,7% pensam que o comando do Exército demorou para colaborar com a dissolução do acampamento montando na frente do Quartel-General de Brasília.

Amanhã, o decreto de intervenção federal assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva após os atos de vandalismo perde a validade. Ele foi adotado sob o argumento de se retomar o controle da segurança pública no Distrito Federal após a invasão do Palácio do Planalto, do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF).

O emprego da Força Nacional de Segurança para auxiliar na proteção da ordem pública e do patrimônio público e privado vai até o dia 4 de fevereiro. Após o fim da intervenção, a segurança do Distrito Federal deixa de estar sob o comando de Ricardo Cappelli, representante do governo federal escalado por Lula, e volta à alçada do governo distrital.

Politização

Segundo o presidente do FBSP, Renato Sérgio de Lima, a pesquisa indica que os policiais entendem que existe uma contaminação dos quartéis com questões políticas. Ele afirmou que essa influência é maléfica às corporações, e que a quantidade de agentes que acham a pauta golpista legítima é sintoma disso.

"Isso prova que eles entendem que atrapalha, que a questão é política, mas, quando 40% acham que o pleito é legítimo, mostra que é preciso lutar para separar a política dos quartéis", disse. A pesquisa do FBSP ouviu ao todo 624 policiais em todos os Estados do País. A maior parte dos entrevistados são homens (545) e da Polícia Militar (374).

Como mostrou o Estadão, pesquisa anterior da mesma entidade apontou aumento de 29% do apoio a teses extremistas entre policiais militares entre 2020 e 2021, com adesão maior entre oficiais do que entre os praças.

A perspectiva de que há uma "contaminação" das forças de segurança pelo discurso político e partidário é predominante no último levantamento: 62,9% disseram acreditar que a politização atrapalha as atividades das corporações.

Os atos de vandalismo de 8 de janeiro geraram um clima de desconfiança do presidente Lula em relação às forças de segurança. Em café da manhã com jornalistas no último dia 12, o petista afirmou estar "convencido" de que as portas do Planalto foram "abertas" e disse ter havido "muita gente da Polícia Militar e das Forças Armadas conivente".

Estadão
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