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Política

7 de Setembro: policiais dizem que convocações para atos pró-Bolsonaro cresceram, mas adesão pode ser menor

Expectativa de policiais da ativa e da reserva da Polícia Militar ouvidos pela BBC News Brasil é de que a adesão de agentes de segurança, especialmente cabos e soldados, deve ser baixa; no entanto, governos preparam esquema especial de segurança.

26 ago 2021 - 08h38
(atualizado às 08h50)
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policiais militares de São Paulo atrás de escudos da corporação, em protesto na capital paulista no dia 3 de julho de 2021
policiais militares de São Paulo atrás de escudos da corporação, em protesto na capital paulista no dia 3 de julho de 2021
Foto: Reuters / BBC News Brasil

Policiais de diversos Estados do Brasil anunciaram que participarão dos protestos a favor do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) marcados para 7 de Setembro, Dia da Independência.

Governos estaduais e secretarias de segurança se preparam para fazer um policiamento especial na data, mas especialistas avaliam que a adesão deve ser menor do que a esperada.

Apesar do barulho causado pela convocação para os atos, a expectativa de policiais da ativa e da reserva da Polícia Militar ouvidos pela BBC News Brasil é de que a adesão de agentes de segurança, especialmente cabos e soldados, deve ser baixa.

Eles afirmaram, sob a condição de anonimato, que há uma forte movimentação da categoria para uma convocação em massa para o protesto.

Mas avaliam que esse número de pessoas presentes nos atos não deve ser tão expressivo porque muitos policiais que se manifestam nas redes sociais não terão disposição para se expor nas ruas em defesa do presidente.

"Esses PMs que apoiam o presidente estão vendo um filão nos protestos, pois eles têm a intenção de se candidatar no ano que vem. É óbvio que dentro das instituições há uma identidade e grande apoio ao Bolsonaro. Mas ter uma manifestação massiva de apoio ao governo nas ruas, eu acho isso improvável e um exagero", afirmou um policial do alto escalão da PM, que pediu para não ser identificado.

Alguns policiais de alta patente e políticos também estão fazendo campanha para que a categoria compareça em peso, especialmente no ato que ocorrerá na avenida Paulista, no centro de São Paulo. Mas alguns deles estão sendo atacados nas redes sociais e até punidos.

Nesta semana, o governador de São Paulo, João Doria, afastou o coronel Aleksander Lacerda, por indisciplina, depois que ele convocou policiais para o protesto pró-Bolsonaro na Paulista.

Lacerda estava à frente do Comando de Policiamento do Interior 7, responsável por 78 municípios na região de Sorocaba, no Estado de São Paulo.

"Aqui em São Paulo, não teremos manifestações de policiais militares da ativa de ordem política (...) Não admitiremos nenhuma postura de indisciplina", disse o governador após a decisão.

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), afastou comandante da PM que fazia propaganda de atos pró-Bolsonaro
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), afastou comandante da PM que fazia propaganda de atos pró-Bolsonaro
Foto: Wilson Dias/Agência Brasil / BBC News Brasil

Policiais ouvidos pela reportagem disseram que a punição foi vista como exemplar para que seus colegas de farda e subordinados não tenham a mesma postura.

Porém, em entrevista ao portal UOL, o deputado federal Coronel Tadeu (PSL-SP) disse que a categoria alugou ao menos 50 ônibus em cidades do interior paulista para que policiais pudessem se deslocar para participar do ato na capital.

A reportagem procurou secretarias estaduais de Segurança Pública para saber como os governos vão se preparar para essas manifestações.

A Polícia Militar do Distrito Federal informou que "as ações da PMDF são pautadas na observância dos direitos humanos e nos princípios constitucionais" e que vai atuar "para garantir a segurança dos manifestantes e a integridade do patrimônio público ou privado''.

A Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal informou que fará um "planejamento prévio, com a participação dos envolvidos, com objetivo de garantir a segurança dos manifestantes e da população em geral".

A pasta disse ainda que "cabe destacar que o Centro Integrado de Operações de Brasília (Ciob), é responsável pelo acompanhamento de todo ato ou evento, mesmo sem comunicação prévia. Esse monitoramento é feito de maneira integrada entre as forças de segurança e outros 29 órgãos, bem como instituições e agências do governo, com suporte de câmeras de videomonitoramento."

Procurada, a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo e a Polícia Militar não responderam como será a operação durante o protesto marcado para o feriado.

O governo apenas informou que a avenida Paulista deve ser utilizada somente por quem for participar do ato pró-Bolsonaro. A intenção é evitar confrontos com possíveis manifestantes anti-governo.

Incentivo

Bolsonaro convocou manifestações de apoiadores para 7 de setembro
Bolsonaro convocou manifestações de apoiadores para 7 de setembro
Foto: Reuters / BBC News Brasil

Policiais ouvidos pela BBC News Brasil que se disseram ser contra o protesto, afirmaram que a imprensa está "apagando o fogo com gasolina" ao dar visibilidade a um ato "promovido por poucos policiais".

"A imprensa tem que lembrar que essas pessoas são militares. Se acontecer um protesto como estão prometendo, é motim. E eles terão de responder pelo crime de motim, previsto no Código Penal Militar, que prevê até 20 anos de cadeia", afirmou o policial que pediu para não ser identificado.

Para ele, os soldados gostam de expor que apoiam o presidente nas redes, mas dificilmente sairão às ruas.

"Exceto por salários, eu não consigo imaginar um bando de policiais, fardados ou não, segurando uma faixa em apoio ao Bolsonaro. O que pode acontecer é como no caso do Ceará, em 2020, quando um ato por salário virou motim. Mas da forma como estão propondo agora, acho que vai fracassar", disse o PM paulista.

O ex-policial militar e membro do Fórum de Segurança Pública, Guaracy Mingardi disse que essa movimentação de policiais não teria ocorrido se os governadores não "tivessem sido tão condescendentes com a PM nos últimos anos".

"Quando a PM foi além nos protestos e em diversas outras situações, ninguém foi punido. Os governos não souberam controlar as PMs, o que é função deles. Isso acontece em todos os países do mundo, mas aqui só punimos alguns casos individualmente e fracassamos", afirmou.

Mingardi disse ainda que não é possível mensurar a força que os protestos terão, mas ele prevê que eles sejam enfraquecidos por diversos fatores.

O primeiro é que a estrutura militar para fazer a segurança do protesto terá muita gente e isso desfalcará aqueles que pretendem participar do ato.

"Os policiais vão se manifestar fardados? Isso dá uma diferença bem grande. O segundo ponto é que uma hora vai cair a ficha desses policiais de que eles não devem nada ao Bolsonaro e que a democratização foi ótima para eles. Durante o regime militar, só os oficiais podiam votar, imagine se manifestar. Esse apoio dos policiais é mais ideológico do que prático", disse.

Policiais da ativa disseram à BBC News Brasil que apoiam Bolsonaro, mas não sabem se vão comparecer ao protesto, principalmente por conta do medo e punições e por "não valer a pena brigar" por um governo que não faz políticas para favorecer o trabalhador.

"Eu votei e concordo com o Bolsonaro na maioria das coisas que ele diz, mas não sei se vou ao protesto porque o presidente está deixando a desejar na economia. A inflação sobe sem parar, a gasolina está nas alturas e a nossa categoria está na mesma desde que ele assumiu", afirmou o PM que pediu para não ser identificado.

O membro do Fórum de Segurança Pública Guaracy Mingardi disse que o protesto está sendo convocado majoritariamente por policiais de alta patente, como coronéis. Ele explica que isso ocorre porque essas pessoas já estão em altos cargos e não têm muito o que perder.

"O coronel já está no topo da categoria e perto da aposentadoria. Já o tenente-coronel, por exemplo, dificilmente faz isso porque a promoção dele para coronel precisa ser aprovada pelo governador, enquanto as patentes abaixo são por tempo, algo automático", afirmou.

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