Acervo da presidência incluiu presentes sauditas no dia da apreensão de joias, diz jornal
Em 26 de outubro de 2021, o acervo recebeu quatro novos itens registrados como presentes do Reino da Arábia Saudita
No dia em que uma comitiva do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) retornou de uma viagem da Arábia Saudita, o acervo que reúne presentes recebidos por chefes da Presidente da República ganhou quatro novos itens: um manto, um lenço, um broche e uma escultura. Todos foram registrados como presentes do Reino da Arábia Saudita.
Naquela mesma data, 26 de outubro de 2021, a Receita Federal apreendeu um estojo com joias de diamantes, avaliadas em R$ 16,5 milhões, que seria um presente dos sauditas para a então primeira-dama Michelle Bolsonaro. O caso foi revelado pelo jornal O Estado de S. Paulo. Já a lista dos itens registrados no acervo foi divulgada pelo jornal O Globo nesta quarta-feira, 8.
Segundo apuração do Estadão, as joias não foram devidamente declaradas ao Fisco e, por essa razão, a Receita Federal apreendeu os itens que estavam na mochila de um assessor do então ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque, que desembarcou no Aeroporto Internacional de Guarulhos (SP). O governo Bolsonaro, então, fez oito tentativas para tentar liberar as peças.
Na mochila do assessor também foi encontrada a escultura de um cavalo que estava com as patas quebradas. Uma foto da viagem da comitiva brasileira até a Arábia Saudita mostra Bento Albuquerque recebendo o presente das mãos do príncipe Abudulaziz bin Salman Al Saud. Não é possível afirmar, porém, se a escultura é a mesma que consta no registro do acervo da Presidência.
Segundo estojo de joias
Segundo reportagem do jornal Folha de S. Paulo, um segundo estojo com joias da marca Chopard - a mesma das joias que seriam presente para Michelle Bolsonaro -, chegou até a Presidência da República. O conjunto com relógio, caneta, abotoaduras, anel e rosário ficou armazenada em um cofre do Ministério de Minas e Energia até ser transferido para o acervo da Presidência.
A lista obtida pelo O Globo traz esses mesmos itens registrados no dia 11 de novembro de 2019 - antes da viagem da comitiva para a Arábia Saudita - e no dia 29 de novembro de 2022, cerca de um ano após a visita.
No registro de 2019, os itens aparecem com o campo "instituição" preenchido como "Reino da Arábia Saudita". Naquele ano, Bolsonaro realizou sua primeira viagem a Arábia Saudita, onde foi recepcionado por autoridades locais e membros da família real saudita.
Já o registro de 2022 foi preenchido como "ministro de Energia". Não é possível precisar, no entanto, se Bolsonaro recebeu o mesmo presente - ou algo parecido - em duas ocasiões diferentes.
Defesa
O ex-presidente Bolsonaro se defendeu do caso, revelado pelo Estadão, afirmando que não pediu, nem recebeu o presente. Já a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, a quem o item mais valioso do presente seria endereçado, também negou ter conhecimento das joias e ironizou o ocorrido. "Quer dizer que, 'eu tenho tudo isso' e não estava sabendo? Meu Deus! Vocês vão longe mesmo hein?! Estou rindo da falta de cabimento dessa impressa (sic) vexatória", escreveu.