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Política

Advogadas de Flávio se encontraram com chefe da Receita um dia após reunião com Jair Bolsonaro

Advogadas do senador estiveram com José Tostes após sugestão de 'conversa' do então presidente; uma das defensoras de Flávio Bolsonaro na Justiça também esteve no Planalto

16 jul 2024 - 13h46
(atualizado em 17/7/2024 às 07h07)
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Um dia após a reunião em que presidente Jair Bolsonaro (PL) sugeriu uma "conversa" com o chefe da Receita Federal para avaliação do caso envolvendo a possível prática de "rachadinha" no gabinete de Flávio Bolsonaro (PL-RJ), enquanto era deputado estadual no Rio, as advogadas Juliana Bierrenbach e Luciana Pires, defesoras do senador, se encontraram com José Tostes Neto, então secretário especial da Receita.

A reunião com a sugestão de Bolsonaro ocorreu em 25 de agosto de 2020 e não estava na agenda oficial do presidente. A transcrição do áudio encontrado pela Polícia Federal (PF) revela que, durante o encontro, o então presidente afirmou que a situação diante do inquérito contra Flávio poderia ser "o caso de conversar com o chefe da Receita". As advogadas estavam na reunião e, no dia seguinte, participaram de agenda com José Tostes.

A informação sobre o encontro com o secretário consta em um relatório de agendas emitido pela Receita em junho de 2021, em resposta a um requerimento de informação da deputada federal Natália Bonavides (PT-RN). Segundo o registro enviado à Câmara, Juliana e Luciana estiveram com Tostes das 18h às 19h do dia 26 de agosto de 2020, para uma "visita de cortesia".

Além disso, horas antes, Luciana esteve no Palácio do Planalto. É o que aponta um registro solicitado ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI) via Lei de Acesso à Informação (LAI). De acordo com o documento, que não especifica quem Luciana encontrou no local, a advogada entrou no prédio às 11h05 e permaneceu lá até às 11h26. Apesar dos registros de entrada e de saída, o nome de Luciana não consta em nenhum compromisso da agenda pública da Presidência.

O áudio da reunião de 25 de agosto foi gravado por Alexandre Ramagem (PL-RJ), deputado federal que, na época, era o diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). A peça foi periciada pela Polícia Federal e consta nos autos da investigação que embasou a Operação Última Milha, que apura a existência de um sistema de informações "paralelo", com fins políticos, dentro da estrutura da Abin no governo Bolsonaro.

Além de Jair Bolsonaro, de Ramagem e das advogadas de Flávio, também estava presente no encontro de 25 de agosto o general Augusto Heleno, então chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). É a ele que Juliana se dirige ao expor que o GSI deveria solicitar uma "averiguação" das investigações da Receita contra Flávio Bolsonaro.

"É, general (Heleno). Especialmente pro GSI. Por quê? É um pedido de averiguação. Dos sistemas de inteligência que atendem à Receita Federal, mas o pedido precisa, a averiguação precisa, feita, feito pelo Serpro", afirmou a advogada durante a reunião. O Serpro é o serviço que realiza o processamento de dados ao governo federal.

Além do encontro das duas advogadas com Tostes em 26 de agosto, a Receita também informou que, dias depois, em 4 de setembro de 2020, houve um encontro entre Juliana e o secretário. Em 17 de setembro, foi Luciana quem esteve com Flávio e José Tostes. Esta última reunião, segundo o órgão, foi solicitada pelo próprio parlamentar.

No requerimento de informações da Câmara, a Receita foi questionada se era usual que o secretário especial recebesse cidadãos para prestar esclarecimentos sobre situações fiscais e jurídicas. Em resposta, o órgão afirmou que o procedimento "não é incomum".

"Não é incomum o Secretário Especial da Receita Federal do Brasil receber em audiência sujeitos passivos de obrigações tributárias ou seus representantes legais e entidades representativas de segmentos da sociedade não só para tratar de situação fiscal, mas de todas as matérias de competência da Receita Federal", respondeu órgão.

Especialista diz que reuniões infringem preceito de impessoalidade da gestão pública

Conseguir uma agenda com um agente público para obter informações sobre um processo específico não só é incomum como infringe o preceito de impessoalidade da gestão pública. É o que explica Marco Antônio Teixeira, cientista político e professor do Departamento de Gestão Pública da FGV/EAESP.

"Instituições de Estado são instituições de Estado, não importa quem é o contribuinte. Todos precisam ser tratados da mesma maneira", disse o professor. "É um uso claro das estruturas de governo, de pessoas com cargos de primeiro escalão, para a tentativa de construir uma defesa de seu filho", afirmou, em referência a Bolsonaro.

Para Teixeira, o trâmite alheio aos canais institucionais da Receita indica que a audiência entre Tostes, defensores e Flávio Bolsonaro só ocorreu por estar na órbita de influência do presidente da República. "Isso agrava a situação de Bolsonaro em termos de Justiça", afirmou o cientista político.

Já para Felipe de Melo Fonte, professor de Direito da FGV do Rio de Janeiro, não constitui como ilícito, por si só, o encontro que Jair Bolsonaro convocou no Planalto entre a defesa do filho e assessores. "Não há nenhum problema em receber as pessoas, ouvir e apresentar razões e pleitos", diz Fonte. "O ilícito pode estar no teor da conversa".

Quanto ao encontro entre Flávio e defensores com o chefe da Receita, pode haver sanção ao ex-secretário até no âmbito regimental. "Se ele (José Tostes) ofereceu a expertise dele para tratar de um processo penal, isso, segundo os regulamento da atividade da Receita (Federal) não é permitido", diz Fonte.

Estadão
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