Aeroporto expõe tensão de Bolsonaro com governadores do NE
Governador da Bahia, Rui Costa (PT), não vai à inauguração em seu Estado; porta-voz do Planalto sugere que presidente será ovacionado
BRASÍLIA - A inauguração do Aeroporto Glauber Rocha, em Vitória da Conquista (BA), evidenciou o clima tenso entre políticos do Nordeste e Jair Bolsonaro após comentários do presidente sobre governadores da região. O terminal, localizado a 518 quilômetros da capital baiana, será inaugurado nesta terça-feira, 23, pelo presidente sem a presença do governador do Estado, o petista Rui Costa.
Na sexta-feira passada, em áudio captado pela TV Brasil, Bolsonaro faz referência à região e diz que o governo federal não devia dar "nada" para o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB). Há trechos inaudíveis da conversa em que não é possível entender o contexto. O presidente negou que no rápido diálogo com o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, tenha classificado os governadores do Nordeste pelo termo "paraíba" - forma pejorativa usada principalmente no Rio para se referir aos imigrantes da região.
O clima com os políticos locais, porém, ficou estremecido. Bolsonaro acusou os governadores de "manipular" eleitores nordestinos. Costa afirmou que não vai participar da cerimônia de inauguração do aeroporto. Em um vídeo nas redes sociais, ele alegou que o evento se transformou em uma "convenção político-partidária".
O governador do PT afirmou que durante a organização da cerimônia, na semana passada, convidou o presidente e sua comitiva como um "aceno de boas maneiras". Na versão de Costa, o governo federal estabeleceu que, de 300 pessoas convidadas para o evento, o Estado teria direito a indicar 70. Depois, decidiu que seriam 600 convidados - e que o petista teria direito de chamar 100.
O Estado tentou contato com a assessoria da Presidência, mas não obteve resposta até a conclusão desta edição.
O porta-voz da Presidência, Otávio do Rêgo Barros, afirmou que Bolsonaro destacou ser importante inaugurar o aeroporto pelo estímulo ao turismo e à economia local. Segundo ele, o Planalto não se preocupa com eventuais críticas ao presidente ou protestos no evento. "Em qual cidade nosso presidente chega e não é ovacionado? Em todas (é ovacioado). E não seria diferente na cidade onde temos apreço pelo prefeito e pelo povo", disse o porta-voz.
Ao Estado, Costa disse que desistiu de ir à cerimônia para não "ficar fazendo trampolim para debate político, debate ideológico". "Eu que convidei o governo federal e tenho 100 credenciais? O sentimento é de perplexidade: você pega um governador, em tese de um partido de oposição a ele (Bolsonaro), que faz um aceno de generosidade, de boas maneiras, e em vez de o presidente vir de forma generosa, de negociar com o Estado as condições, de compartilhar conosco a organização, chega impondo condições inaceitáveis?", questionou.
Na eleição do ano passado, o candidato do PT ao Planalto, Fernando Hadad, teve uma votação expressiva na Bahia: cerca de 5,5 milhões de votos (72,6%) no segundo turno, ante 2,06 milhões (27,3%) obtido por Bolsonaro. O então candidato do PSL só venceu em quatro municípios baianos.
Ao todo, o aeroporto de Vitória da Conquista recebeu investimento de R$ 106 milhões, dos quais R$ 75 milhões oriundos do governo federal e R$ 31 milhões da administração estadual. O novo terminal, com pista de pouso e decolagem de 2.100 metros com 45 metros de largura, terá o dobro de capacidade do antigo, podendo ampliar para sua movimentação para 500 mil passageiros até 2020.
Políticos locais disputaram a paternidade da obra.