Agência de Inteligência produziu alertas sobre risco de ataques bolsonaristas
Segundo jornal, Abin enviou vários comunicados para rede com 48 órgãos do governo
A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) produziu diversos alertas sobre riscos de um ataque de bolsonaristas radicais a prédios públicos de Brasília, inclusive na véspera das invasões e depredação de patrimônio público no domingo, 8, na capital federal.
Segundo o jornal Folha de S. Paulo, os alertas foram enviados para o Sistema Brasileiro de Inteligência, que reúne 48 órgãos do governo.
Um dos documentos, obtido pela reportagem, revela um aviso de sábado, 7, um dia antes da onda da vandalismo no Congresso Nacional, Palácio do Planalto e Supremo Tribunal Federal.
No alerta, a Abin menciona o aumento do número de fretamentos de ônibus com destino a Brasília neste último final de semana. "Há um total de 105 ônibus, com cerca de 3.900 passageiros", diz o comunicado ao qual a Folha teve acesso.
"Mantêm-se convocações para ações violentas e tentativas de ocupações de prédios públicos, principalmente na Esplanada dos Ministérios", alertou-se ainda.
A resposta foi apenas uma ordem do ministro da Justiça, Flávio Dino, para proteger a Esplanada dos Ministérios, mas que não foi devidamente coordenada. Além disso, apenas 150 homens da Força Nacional estavam mobilizados, o que se mostrou insuficiente.
Também segundo a reportagem, homens do Comando Militar do Planalto só agiram após a entrada dos terroristas nos prédios públicos.
Abin "acéfala"
De acordo com apuração do Estadão, a Abin estava acéfala na semana em que os bolsonaristas prepararam a chamada "tomada do poder", a ação para a tomada dos prédios dos três Poderes a fim de provocar um golpe de Estado para a derrubada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), conforme mostram as mensagens divulgadas pelos organizadores do movimento. A agência estava sem diretor-geral e sem os novos diretores de áreas importantes, como contrainteligência.
É que a área de inteligência no governo federal foi a última a contar com um grupo nomeado para a transição. Deles faziam parte o delegado da Polícia Federal Andrei Augusto Passos Rodrigues e o agente da corporação e pesquisador Vladimir de Paula Brito, um especialista em banco de dados e inteligência estatal. Além dele, três agentes da agência compunham o grupo: Saulo Moura da Cunha, que foi adido no Japão, além de Bruno Marques e Rinaldo Sandro Teixeira. Teixeira era coordenador da agência em Minas Gerais e seria próximo do delegado Rodrigues.
Marques foi coordenador-geral da Abin durante os governos de Michel Temer (MDB) e no de Bolsonaro, até 2020. Quando deixou o cargo para disputar uma aditância, Marques teve a indicação barrada por razões políticas. É que dentro da política de "despetização" promovida por Bolsonaro, o nome de Marques foi barrado porque encontraram uma doação dele para um candidato do PT, em 2018. Na época, outros dois agentes foram barrados porque foram filiados ao PT e ao PCO antes de entrarem na Abin. Os três disputavam os cargos de adido policial em Nova Déli, Pequim e Berlim
No fim, a agência foi mantida sob o guarda-chuva do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), para o qual foi nomeado o general de divisão da reserva Marco Edson Gonçalves Dias, o G. Dias, que coordenou a segurança do petista na campanha eleitoral. G. Dias então apontou Saulo como o futuro diretor da Abin, mas seu nome ainda não foi sabatinado - assim, ele foi nomeado como diretor administrativo. As outras diretorias permaneceram como estavam. Quase ninguém foi trocado na semana em que tudo foi planejado.
É que, segundo apurou a reportagem, o novo governo não tinha uma equipe. À exceção de Saulo, as outras diretorias não foram nomeadas e para que não ficassem vagas, os diretores que ocupavam as funções não puderam ser exonerados. Durante a semana, a situação na agência foi descrita como de caos. O novo governo teria ainda retirado 84 cargos da agência e os funcionários do órgão souberam da nomeação de Saulo pelo Diário Oficial, em vez de um anúncio ministerial. O GSI foi ampliado. No relato dos agentes, a situação na Abin só não seria pior do que a da Polícia Rodoviária Federal (PRF), onde a perda de cargos chegou a 101.