Alagoas: escavadeira do governo de R$ 700 mil vira 'outdoor' com 'publi' de Arthur Lira
Máquina foi comprada com verba do espólio do orçamento secreto. Procurada, a assessoria de Lira afirma: "Qual o problema de ter um banner de agradecimento à entrega da retroescavadeira?" Codevasf diz que a responsabilidade é da prefeitura, que não responde
BRASÍLIA - O rosto do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), estampa uma escavadeira hidráulica adquirida com dinheiro público na cidade de Teotônio Vilela (AL). A máquina de R$ 739 mil deveria ser usada em obras e construções, mas foi reduzida a um aparato de propaganda de Lira na cidade que tem o primo do deputado como prefeito.
O veículo foi comprado pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), que proíbe o uso de escavadeiras para fins que não sejam de interesse social.
Procurada, a assessoria de Lira afirmou: "Qual o problema de ter um banner de agradecimento à entrega da retroescavadeira?" A Codevasf disse que a responsabilidade é da prefeitura. E a prefeitura não respondeu.
Uma imagem obtida pelo Estadão mostra a escavadeira estacionada no início da Avenida Jorge Vilela dos Santos, ao lado de um galpão recém-inaugurado com bares, restaurantes e artesanatos. Trata-se do Empório Menestrel, o mais novo ponto turístico da cidade. O banner disposto no maquinário traz a foto de campanha de Arthur Lira e um agradecimento ao parlamentar. "Gratidão por tudo que já fez e faz por Teotônio Vilela".
A reportagem procurou Arthur Lira. Em um primeiro momento, a assessoria do deputado questionou: "Qual o problema de ter um banner de agradecimento à entrega da retroescavadeira?" Em seguida, informou que Lira não vai comentar a reportagem.
A Codevasf informou que o uso e a guarda do bem doado são de responsabilidade do município e que a empresa "não realiza fixação de material gráfico como o que se vê na fotografia".
"Após a doação de um bem pela Codevasf, cabe ao donatário observar integralmente as disposições do termo de doação e dar cumprimento a sua finalidade social. A não observância do termo pode motivar revogação da doação e reversão do bem ao patrimônio da Companhia. Todas as iniciativas relacionadas ao uso do bem para os fins a que se destina são de responsabilidade da instituição beneficiada. Denúncias de eventual uso indevido de equipamentos doados, ou de desvio de finalidade, podem ser encaminhadas por qualquer cidadão à Ouvidoria da Codevasf", explicou a companhia.
Há duas semanas a reportagem tem enviado questionamentos à Prefeitura de Teotônio Vilela, mas jamais obteve retorno.