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Política

Aliados analisam: até onde Eduardo Cunha pode chegar?

Deputados aliados, coordenador de campanha e cientistas políticos, além do próprio Cunha, dimensionam onde o recém-conquistado protagonismo na política nacional pode levar o peemedebista

9 abr 2015 - 06h11
(atualizado às 08h56)
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Terceiro deputado federal mais votado no Estado do Rio de Janeiro, o carioca Eduardo Cunha tornou-se presidente da Câmara dos Deputados e vem mantendo embates com o governo federal e a presidente Dilma Rousseff.

Sob as bandeiras de maior independência do Congresso e divergência em medidas importantes, como a reforma política, ele tem garantido mais poder ao seu partido, o PMDB. Mas até onde ele pode chegar? Quais são suas ambições, e como aliados e analistas veem suas chances?

A BBC Brasil conversou com deputados estaduais com quem ele fez "dobradinhas", seu coordenador de campanha e cientistas políticos, além do próprio Cunha, para tentar dimensionar onde o recém-conquistado protagonismo na política nacional pode levar o peemedebista.

<p>Presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ)</p>
Presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ)
Foto: Paulo Whitaker / Reuters

Após eleger-se deputado estadual pelo PPB, em 2001, no Rio de Janeiro, Cunha obteve seu primeiro mandato em Brasília, na Câmara, em 2002, e agora dá início ao quarto mandato na Casa, após ter sido líder do PMDB em legislaturas anteriores.

Com a crise política, a baixa popularidade de Dilma, a operação Lava Jato, pedidos de impeachment e o agravamento das tensões entre PT e PMDB, ele vem aproveitando o cenário para conquistar maior autonomia a sua legenda, o que aumenta as especulações sobre uma candidatura própria peemedebista ao Planalto em 2018 e o possível nome de Cunha para encabeçar a chapa.

Para os analistas, é difícil prever os rumos que sua trajetória pode tomar. Há os que acreditam que ele tenha tais pretensões e chances reais de se tornar presidente da República. Mas há os que descartam essa possibilidade, citando o fato de ele nunca ter ocupado cargos de eleição majoritária (prefeito, governador) e sua propensão a ser um político de bastidores - e que talvez faria mais sentido que viesse a ocupar a presidência do PMDB, por exemplo.

Evangélico e conservador, Cunha é contra o aborto e o casamento entre pessoas do mesmo sexo, além de se opôr à adoção de crianças por casais gays e à descriminalização da maconha. A agenda tem sido crucial para suas votações no Rio de Janeiro e é parte das polêmicas que vêm tornando seu nome mais conhecido em todo o país - seja em manifestações de apoio ou em protestos de quem discorda de suas visões.

Ambições presidenciais?

O Pastor Paulo Júnior, da Assembleia de Deus de Santa Cruz, Zona Oeste do Rio, que coordenou a campanha de Cunha e trabalha em seu escritório parlamentar, acredita ser "questão de pouquíssimo tempo" até que o Brasil tenha seu primeiro presidente evangélico.

"Nesta última eleição, tivemos o candidato Pastor Everaldo, que não fez muito sucesso por conta da entrada da Marina Silva, também evangélica, o que mostra que a presença está aumentando. Os evangélicos estão mais politizados, mais influentes, e é inevitável que tenhamos um evangélico no Planalto", disse.

Questionado se este evangélico seria o deputado federal Eduardo Cunha, foi reticente. "Não é algo tão simples. Isso depende muito do partido, do perfil. Ele nunca foi prefeito, nem governador. Se eu gostaria que ele fosse presidente? Não posso afirmar isso, não cabe a mim."

<p>Imagem de arquivo de ato a favor do aborto em São Paulo. Homem caracterizado de Eduardo Cunha chutava e agredia ativista como parte do protesto</p>
Imagem de arquivo de ato a favor do aborto em São Paulo. Homem caracterizado de Eduardo Cunha chutava e agredia ativista como parte do protesto
Foto: Leonardo Benassatto / Futura Press

Para o cientista político Antonio Lavareda, especialista em pesquisas eleitorais, no entanto, pode haver chances reais de Cunha tornar-se presidente.

Ele explica que num eventual processo de impeachment de Dilma Rousseff a 24 meses e um dia do fim do mandato, se fosse provado que houve problema com as finanças da campanha presidencial, toda a chapa eleita teria que sair, incluindo o vice-presidente Michel Temer (PMDB), e o novo líder seria eleito de forma indireta, pelo Congresso. "Assim manda a Constituição, e no caso de um pleito indireto, Cunha seria imbatível", diz.

De qualquer maneira, como nome do partido em 2018, ele também teria chances, acredita Lavareda.

"Se ocupar cargos majoritários fosse pré-requisito para alguém ter chance de se eleger presidente, Dilma não estaria no Planalto, já que nunca foi prefeita ou governadora e nem mesmo passou pelo Parlamento. Como ex-presidente da Câmara e condutor desse processo de maior autonomia do PMDB, ele já ganha legitimidade natural dentro do partido", opina.

Questionado sobre a necessidade de Cunha "abrandar" seu discurso conservador e o fato de não ter eleitores em todo o país, o analista diz que os posicionamentos dele encontram ressonância em grande parte da população e, num momento em que a confiança da população nos políticos mais conhecidos anda em baixa, um nome novo pode ser bem-sucedido.

No entanto, para Ricardo Ismael, doutor em Ciências Políticas pelo Iuperj e professor da PUC-Rio, Cunha tende a solidificar seu papel de articulador político, de homem dos bastidores do poder, em vez de mirar o Planalto.

"Além dos redutos e currais eleitorais onde ele consegue seus votos, Cunha nunca teve uma votação extraordinária. Além disso, ele sempre quis ocupar postos de articulação, de acesso ao poder. Após a presidência da Câmara faria muito mais sentido que sua ambição fosse presidir o PMDB do que se candidatar ao Planalto", diz.

"E, mesmo assim, teria que conquistar o apoio de todos os (diretórios estaduais do) PMDB, teria que costurar acordos", acrescenta.

Para o deputado estadual Domingos Brasão (PMDB-RJ), com quem Cunha fez dobradinha em Rio das Pedras, Zona Oeste do Rio e local onde teve maior votação na capital, o peemedebista está em ascensão e tem características que o diferenciam de outros nomes fortes evangélicos, como Jair Bolsonaro.

"Ele vem numa crescente. Aumenta a votação a cada eleição, e é claro que há muitos votos de evangélicos, sim, mas a agenda dele inclui outros temas. Abolir a prova da OAB, reduzir ministérios, categorias que precisam ser ouvidas em Brasília, são inúmeras pautas. A agenda dele é mais ampla do que a de outros candidatos evangélicos com destaque nacional", diz.

'Só quero cumprir meu mandato'

Ainda em julho de 2013, o presidente da igreja Sara Nossa Terra, bispo Robson Rodovalho, disse à Folha de S. Paulo que era "natural" que um dia o Brasil tivesse seu primeiro presidente evangélico.

Eduardo Cunha integrou a Sara Nossa Terra por mais de dez anos, e em fevereiro deste ano tornou-se membro da Assembleia de Deus de Madureira, igreja comandanda pelo pastor Abner Ferreira, cuja sede é em Brasília mas que conta com milhares de fieis no Rio. Aliados afirmam, no entanto, que ele cultiva os laços com a Sara Nossa Terra, mantendo seu relacionamento.

<p>Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), durante eleição na Casa</p>
Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), durante eleição na Casa
Foto: Ueslei Marcelino / Reuters

Questionado pela BBC Brasil, Cunha negou tratar-se de uma retribuição pelos votos de fiéis da região de forte influência da igreja, na Zona Oeste do Rio - justamente onde obteve a maior votação.

"Partiu deles mesmo, foi um carinho. Me deram um certificado de membro, não tive como recusar. E eu tenho a minha votação muito medida. O meu eleitorado evangélico eu conquistei na primeira eleição, com cem mil votos. Depois fiz 130 mil, 150 mil, e 232 mil agora. Eu não cresci no segmento evangélico, eu mantive o que já tinha e o restante foi por ficar mais conhecido no Estado. O voto evangélico é muito importante, mas eu tenho votos de todas as matizes. Do total eu devo ter tido um terço de evangélicos, e dois terços foram de eleitores normais", disse.

Perguntado pela reportagem se pretende concorrer à presidência, Cunha rejeitou a ideia e disse que seu candidato é "outro Eduardo".

"Só quero cumprir meu mandato, só isso. Meu candidato a presidente é o (prefeito do Rio) Eduardo Paes. Eu não faço política por ambição, nunca fiz. Onde eu cheguei, cheguei por trabalho e em decorrência das circunstâncias, jamais por ambição. Eu nunca persegui nada, nem o meu primeiro mandato de deputado federal, foi absolutamente por acaso", diz.

PMDB e Lava Jato

Paulo Fassoni Arruda, professor de Ciências Políticas da PUC-SP, relembra que há outros nomes dentro do PMDB com chances maiores de serem cotados para uma potencial candidatura própria do partido daqui a quatro anos.

Entre eles estão Temer, Roberto Requião (ex-governador do Paraná e ex-prefeito de Curitiba) e Paes.

"Para uma hipotética candidatura presidencial, primeiro ele teria que conquistar o apoio dentro do próprio PMDB, algo que mesmo para alguém com um perfil de articulador pode ser um desafio, dado que partido é altamente heterogêneo", diz.

Os especialistas também lembram que Cunha está sendo investigado pela Operação Lava Jato e que ainda corre o risco de ter seu mandato cassado e direitos políticos impugnados, o que é mais um fator que poderia dificultar quaisquer ambições presidenciais caso ele seja denunciado.

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