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Política

'Aliados' avaliam que ataques saíram do controle e temem prisão de Bolsonaro

'Existe esse medo da prisão desde que perdeu a eleição, então sem dúvida isso se intensificou depois de ontem'

9 jan 2023 - 18h59
(atualizado às 19h33)
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Ex-presidente Jair Bolsonaro durante cerimônia no Superior Tribunal de Justiça (STJ) em Brasília 06/12/2022
Ex-presidente Jair Bolsonaro durante cerimônia no Superior Tribunal de Justiça (STJ) em Brasília 06/12/2022
Foto: Reuters/Adriano Machado

A invasão e destruição por bolsonaristas dos edifícios-sede dos Três Poderes no domingo elevou o temor que já existia nos últimos meses nos círculos próximos do ex-presidente Jair Bolsonaro de que ele possa ser alvo de uma ordem de prisão temporária, afirmaram à Reuters fontes do entorno do ex-chefe do Executivo. 

Antes mesmo de ter sido derrotado pelo petista Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de outubro já havia o receio de uma eventual prisão de Bolsonaro, caso ele deixasse a Presidência, por uma série de crimes em que é investigado em quatro inquéritos, entre eles por ataques a urnas eletrônicas.

Agora, longe do Palácio do Planalto e sem foro privilegiado --o que garantia uma imunidade quase que completa contra a prisão--, o ex-presidente fica legalmente desprotegido para ser alvo de uma eventual medida cautelar.

Esse temor, conforme as fontes, cresceu após os atos de vandalismo de simpatizantes de Bolsonaro na véspera contra os Poderes em Brasília. O ex-presidente jamais reconheceu cabalmente a vitória de Lula nas eleições e fez gestos de estímulo ao movimento pró-golpe que surgiu desde então.

"Existe esse medo da prisão desde que perdeu a eleição, então sem dúvida isso se intensificou depois de ontem", disse uma das fontes, ao considerar que a internação do ex-presidente em um hospital de Orlando nesta segunda-feira tem mais fundo emocional do que físico.

Bolsonaro viu ações como o afastamento temporário do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), e outras determinações do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes como sinal de que medidas drásticas podem ocorrer contra ele, segundo essa fonte.

De acordo com duas fontes do STF, o envolvimento direto ou indireto de Bolsonaro na ação do domingo será investigado. As investigações devem continuar centralizadas nas mãos de Moraes, que é relator do inquérito dos atos antidemocráticos no STF e já tomou uma série de medidas após os atos de vandalismo da véspera.

O senador Renan Calheiros (MDB-AL) disse à Reuters que pedirá a Moraes para apurar a participação do ex-presidente no caso, e uma das fontes do STF não descartou a possibilidade de prisão.

Existe a preocupação no círculo próximo a Bolsonaro de que Moraes possa aproveitar o momento para "ir para cima" do ex-presidente, segundo uma segunda fonte ligada a ele. "Agora que a tempestade vem para cima", disse.

Por ora, de acordo com as duas fontes do círculo bolsonarista, há uma falta de orientação do próprio Bolsonaro para os aliados sobre como agir. Inicialmente houve uma simpatia sobre as manifestações, mas, após elas terem saído do controle, a tentativa foi buscar se desvencilhar e até usar a tática --antiga e enganosa, conforme as investigações têm apontado-- de que os atos violentos teriam sido realizados por infiltrados de esquerda.

Depois de ficar em silêncio por quase seis horas sobre o caos em Brasília no domingo, Bolsonaro recorreu ao Twitter à noite para fazer uma declaração em que disse que manifestações pacíficas fazem parte da democracia, mas invadir e danificar prédios públicos "foge à regra".

Ele também repudiou as acusações de Lula de que ele era responsável de ter estimulado os atos de vandalismo.

No partido de Bolsonaro, o PL, conforme um das fontes, há a expectativa por parte do presidente da legenda, Valdemar Costa Neto, de qual orientação seguir a partir de agora.

Não se sabe sequer quando Bolsonaro voltará dos EUA, para onde viajou em 30 de dezembro de forma a não participar da transmissão de poder para Lula.

Valdemar divulgou um vídeo no domingo condenando os atos violentos e dizendo que não representavam nem o partido nem Bolsonaro.

Em entrevista à Reuters mais cedo, o ministro Gilmar Mendes, decano do Supremo, disse que o ex-presidente tem responsabilidade política por não ter desestimulado atos de violência, que ele descreveu como tentativa de golpe, e destacou que autoridades vão investigar eventuais responsabilidades jurídicas dos envolvidos. 

"As autoridades da investigação vão se debruçar sobre isso e vão tirar as suas conclusões. Certamente haverá mensagens, certamente quebras de sigilo, tem uma série de comunicações e acho que as investigações vão prosseguir em busca de responsáveis", disse Mendes quando perguntado sobre um eventual papel de Bolsonaro nos eventos.

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