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Política

Alinhado a Bolsonaro, Marques é crítico da Lava Jato

Desembargador dá sinais de que vai se aliar à ala do Supremo que adotou posicionamento mais combativo à Operação; previsão é de que seu nome seja referendado em sabatina por ampla maioria no Senado

21 out 2020 - 13h06
(atualizado às 13h16)
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BRASÍLIA - O desembargador federal Kassio Marques chega às portas da mais alta Corte do País demonstrando alinhamento total com Jair Bolsonaro. Indicado pelo presidente para o Supremo Tribunal Federal, o magistrado tem marcado posição crítica, inclusive, sobre os rumos de um dos temas atualmente mais sensíveis ao Palácio do Planalto: o futuro da Operação Lava Jato. O desembargador será sabatinado nesta quarta-feira, 21, pelos senadores e a previsão é de que seu nome seja referendado por ampla maioria.

Foto: IstoÉ

Nas dezenas de conversas informais que manteve com parlamentares nas últimas semanas, ele deu sinais de que vai se aliar à ala do Supremo que adotou posicionamento mais combativo sobre a operação. A postura crítica em relação à Lava Jato conta a seu favor no Congresso. Não são poucos os parlamentares que têm a expectativa de que Marques tome decisões alinhadas com as de ministros como Gilmar Mendes e Dias Toffoli. Posições pró-Lava Jato têm sido defendidas principalmente por Luiz Fux.

Licenciado do Tribunal Regional Federal da 1.ª Região para se dedicar a cafés, almoços e jantares com senadores do governo e da oposição, Marques percorreu gabinetes até a véspera da sabatina na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado.

Será a primeira vez que o desembargador vai falar longamente sobre suas posições jurídicas e políticas. A pessoas próximas e a senadores, ele tem dito que, na sabatina, evitará críticas incisivas à operação, mas pautará seu discurso de contorno "garantista" - termo usado para se referir àqueles que dão importância aos direitos fundamentais de réus em decisões favoráveis aos investigados.

Nas conversas com senadores, o desembargador também tem manifestado que cabe ao Legislativo, e não ao Judiciário, atuar em temas delicados, como aborto e drogas. A separação e a não interferência entre os Poderes é outro ponto da pauta de encontros informais que ele vinha mantendo com parlamentares.

O desembargador foi orientado por senadores governistas sobre os temas que deverão pautar a sabatina e a respeito de quais parlamentares deverão buscar embates mais duros. Apesar das longas horas de duração esperadas, o clima é de "já ganhou". Marques é o nome que agrada à oposição, ao governo e ao Centrão e as controvérsias sobre sua formação acadêmica não foram suficientes para abalar a escolha.

Senadores aliados ao Planalto trabalham para agilizar o processo e aprovar a escolha no plenário do Senado na tarde do mesmo dia. "Vamos deixar o processo ir rápido", disse Jorginho Mello (PL-SC), um dos governistas que receberam nesta terça-feira, 20, o desembargador no gabinete. "Vai ser tranquila (a sabatina), ele tem feito esse trabalho de visita a senadores. A gente entende que qualquer dúvida será sanada e ele será aprovado", afirmou Eduardo Gomes (MDB-TO).

Na lista de perguntas previstas para a sabatina de Marques estão questões sobre as inconsistências em seu currículo - reveladas pelo Estadão -, sua posição com relação à execução de pena após condenação em segunda instância e sobre eventual ligação com o advogado Frederick Wassef. "Pelo que o conheço, sem dúvida nenhuma ele vai elevar o Supremo Tribunal Federal", afirmou Renan Calheiros (MDB-AL).

Os 81 senadores poderão fazer perguntas na sabatina, que ocorrerá com restrições, em razão da pandemia de covid-19. A CCJ vai permitir participações por videoconferência. A votação, porém, só será aceita presencialmente, em alguma das três urnas instaladas na sala da comissão, no corredor e na garagem. Marques precisa de maioria simples entre os 27 membros da CCJ, para que sua indicação vá ao plenário do Senado com parecer favorável. O relator do processo na CCJ, Eduardo Braga (MDB-AM), está internado, com coronavírus, e não deverá participar da sessão.

Na véspera da sabatina, Fux impede Marques em caso de interferência na PF

O presidente do STF, Luiz Fux, determinou nesta terça-feira, 20, um sorteio que definiu o ministro Alexandre de Moraes como relator do inquérito em que o presidente Jair Bolsonaro é investigado por suposta interferência na Polícia Federal. A medida, na prática, impede que o desembargador Kassio Marques - escolhido de Bolsonaro para a vaga antes ocupada pelo ministro Celso de Mello - herde a relatoria do caso. A iniciativa de Fux foi tomada um dia antes de o Senado analisar a indicação de Marques para o Supremo.

O plano inicial de Fux era deixar que o sucessor de Celso de Mello também assumisse a relatoria do inquérito, mas ele mudou de posição. Pelas regras do STF, sempre que um ministro se aposenta, o sucessor fica com os seus processos. Há uma exceção no regimento, para os casos em que o interessado no processo ou o Ministério Público solicitar redistribuição.

Fux justificou que o sorteio imediato se deu "em função da celeridade inerente a um inquérito" e disse que a medida atende à defesa do ex-ministro da Justiça Sérgio Moro, também investigado. Foi Moro que, em abril, acusou Bolsonaro de interferir politicamente na PF para proteger seus filhos.

Ministros do Supremo ouvidos reservadamente pela reportagem disseram apoiar a medida de Fux. Um dos magistrados considerou a iniciativa positiva para o próprio Marques, pois retira das costas do indicado questionamentos que ele poderia receber caso assumisse a relatoria - perguntas sobre o tema, inclusive, eram esperadas na sabatina desta quarta no Senado.

O resultado do sorteio não agradou ao Palácio do Planalto, que preferia ter o indicado pelo presidente como relator. Moraes não é um ministro alinhado ao governo e se tornou alvo de bolsonaristas por causa de sua atuação no inquérito das fake news.

Estadão
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