Ameaça radical no 7 de Setembro mudou plano de evento no Rio
Inteligência militar detectou possibilidade de movimentos radicais de apoio ao presidente Jair Bolsonaro, para provocar tumulto
A inteligência militar detectou a possibilidade de movimentos mais radicais de apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PL) tentarem se infiltrar no desfile de 7 de Setembro no Rio de Janeiro para provocar tumulto e defender a intervenção militar no País. O alerta foi decisivo para os militares declinarem de realizar um desfile de armas em Copacabana como queria o presidente. No Bicentenário da Independência, a tradicional parada no centro da cidade também foi cancelada. No lugar, o Exército vai realizar um ato sem arquibancada ou desfile de tropas.
Por várias vezes, o presidente declarou que a comemoração deveria ser transferida do centro do Rio para Copacabana, onde bolsonaristas organizam um ato. Tradicionalmente, os presidentes da República participam de evento em Brasília. A escolha de Bolsonaro pelo Rio deve-se, segundo interlocutores, ao fato de a cidade concentrar o maior número de extremistas que o apoiam. A coluna de Matheus Leitão, no site de Veja, noticiou que órgãos de inteligência suspeitam, inclusive, de ataques violentos no 7 Setembro.
O prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), entrou no circuito insistindo que não havia condições de realizar uma parada em Copacabana, como o presidente queria, por motivos de logística. Esse tipo de evento é organizado com um ano de antecedência. Não é a primeira vez que Bolsonaro tenta inovar em um 7 de Setembro. Em 2019, o presidente estava no Rolls Royce modelo 1952 e quebrou o protocolo parando no meio do trajeto para dar carona a um menino que estava no público.
Preocupação
A campanha de Bolsonaro também se preocupa com o radicalismo e viu com alívio a proposta inicial do presidente se inviabilizar. O grupo vai aproveitar para retomar um velho discurso de Bolsonaro de que ele afastou os radicais que defendem a intervenção militar, uma ação ilegal, e tentar passar uma imagem de ordem e de que ele tem o respeito das Forças Armadas. Desde a posse do ministro Alexandre de Moraes na presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na terça-feira, Bolsonaro não fez mais críticas às urnas eletrônicas, um tema que inflama seus seguidores mais fiéis.
Apresentação
Para atender minimamente o presidente, a prefeitura e militares ainda negociam a dimensão do evento em Copacabana, ainda que o ato não seja mais considerado o desfile oficial de 7 de Setembro. Já está definido que haverá apresentação da esquadrilha da fumaça, com aviões da Força Aérea Brasileira (FAB), demonstração que foi realizada em outras comemorações do Dia da Independência. Organizadores confirmam que um grupo de paraquedistas do Exército também fará uma exibição em Copacabana.
A Marinha enviará embarcações que ficarão a 1 km da praia. A participação de navios militares na celebração, no entanto, não tem relação direta com o que Bolsonaro vinha pedindo. Isso porque a Força, por causa da comemoração dos 200 anos da Independência, iniciou há três anos um planejamento especial para o dia. Além dos navios da Marinha brasileira, haverá também embarcações de outros países convidados. Entre eles estarão os Estados Unidos, que enviaram o navio anfíbio Mesa Verde. Até mesmo um navio dos Camarões, que já partiu da África, vai participar.
Os navios serão deslocados pelo litoral carioca, da Barra da Tijuca até a zona portuária, passando por Copacabana. Oficiais confirmaram que no bairro onde está prevista a manifestação pró-Bolsonaro haverá a presença de bandas militares. Mas a presença de outros efetivos ainda não está definida. O Estadão apurou que as mudanças de última hora exigidas pelo presidente desagradaram a cúpula da Marinha.
Na quarta-feira, 17, Paes escreveu em sua conta no Twitter que não haveria interrupção no tráfego em Copacabana para realização do desfile militar. "Como já havia sido veiculado por alguns órgãos de imprensa, deverão acontecer apresentações da Marinha e da Aeronáutica no mar e no espaço aéreo, sem qualquer tipo de interferência nas pistas da Avenida Atlântica", escreveu o prefeito. "Ao longo dos próximos dias teremos reuniões com as Forças Armadas para a organização de detalhes. Repito: a parada militar não será na (Avenida) Presidente Vargas nem em Copacabana. Essa é a solicitação que recebi do Exército Brasileiro", disse Paes.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.