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Política

Amiga que emprestou cartão a Michelle Bolsonaro trabalhou em gabinete de deputado réu por rachadinha

Rosimery emprestou cartão à esposa de Bolsonaro na mesma época em que trabalhava no gabinete do deputado Pinto Itamaraty, que responde na Justiça por desvio de verba pública de seu gabinete. Investigação não cita amiga de Michelle nominalmente

23 mai 2023 - 15h44
(atualizado às 16h38)
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A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro
A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A assistente parlamentar Rosimery Cardoso Cordeiro, que emprestou por 10 anos seu cartão de crédito para a ex-primeira-dama e sua amiga pessoal Michelle Bolsonaro (PL), trabalhou no gabinete de um ex-deputado federal do Maranhão que é réu por suposta rachadinha em seu gabinete na Câmara. O esquema teria ocorrido na mesma época em que Rosi, como é conhecida, emprestou o cartão para a esposa de Jair Bolsonaro (PL).

Rosimery não é citada nominalmente no processo, mas o relatório da Polícia Federal e a denúncia do Ministério Público Federal, obtidos pelo Estadão, acusam o ex-deputado federal Pinto Itamaraty (PSDB) e seu então assessor Antônio Marcelo Rodrigues da Silva, conhecido como Marcelo Minard, de se apropriarem "de verbas públicas federais destinadas a remuneração de servidores do gabinete da Câmara dos Deputados".

A manutenção do suposto esquema criminoso coincide com o período em que a amiga de Michelle Bolsonaro esteve lotada no gabinete. Rosimery trabalhou com Pinto Itamaraty de fevereiro de 2007 a fevereiro de 2015, segundo registros da Câmara. Antes disso, atuou no gabinete do deputado Vanderlei Assis, onde conheceu e se tornou amiga da esposa de Bolsonaro.

Rosi passou a figurar no bojo de uma outra investigação da Polícia Federal que apura desvios de recursos públicos do Palácio do Planalto para bancar despesas de Michelle Bolsonaro. Os investigadores levantaram que o cartão de crédito emprestado à ex-primeira dama era pago com dinheiro vivo, o que dificulta a identificação da origem dos recursos. Transcrições de áudios mostram que o então ajudante de ordens de Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid, se preocupava que a prática fosse caracterizada como um esquema de rachadinha.

Ao Estadão, Rosi negou irregularidades. "[Emprestei o cartão] porque eu quis. Qual o problema? Normal. Não tem nada de errado. Ela [Michelle Bolsonaro] não tinha um limite suficiente na época, ganhava pouco e ela precisava ajudar a família dela. E eu ofereci", disse.

Ela tinha um salário de R$ 2.404,31 (o equivalente a R$ 4.745,43 em valores corrigidos pelo IPCA) quando emprestou o cartão à ex-primeira dama.

Rachadinha do Pinto

A investigação da rachadinha no gabinete de Pinto Itamaraty surgiu a partir de documentos apreendidos em 2017 no âmbito da Operação Turing, da Polícia Federal. Foram encontrados oito depósitos bancários, realizados entre dezembro de 2008 a fevereiro de 2009, que somam R$ 337,3 mil. Seis beneficiavam o então deputado, num total de R$ 237,3 mil. Os outros dois tinham como destinatário o assessor, no valor de R$ 100 mil.

Pinto Itamaraty e Marcelo Minard foram indiciados pelo crime de peculato pela Polícia Federal. Em fevereiro deste ano, o juiz federal substituto da 2ª Vara Criminal do Maranhão, Pedro Alves Dimas Júnior, recebeu a denúncia e tornou os dois réus.

O MPF chegou a propor um acordo de não persecução penal caso confessassem a autoria do crime. Ambos negaram.

No processo, a defesa de Pinto Itamaraty relacionou as transferências a negócios pessoais do ex-deputado. Explicou que o político é dono da radiola de reggae Itamaraty e um dos maiores produtores de shows e festivais de reggae do País. "Assim, a empresa movimenta semanalmente consideráveis quantias de dinheiro referentes a contratos, patrocínios, apuração de venda de ingressos e bebidas".

A defesa afirmou também que, quando necessário, a empresa do ex-deputado era socorrida com o "apoio de terceiros de confiança", como Marcelo Minard. O assessor trabalhou com o Pinto Itamaraty na Câmara dos Vereadores de São Luís de 2001 a 2006 e, depois, na Câmara dos Deputados de 2007 a 2011. O ex-deputado não comprovou sua alegação com documentos.

Já a defesa do assessor destacou que Minard conhece Pinto Itamaraty desde o início dos anos 1990, quando o ajudava com a parte de marketing em rádio e tv, na produção de diversos shows e eventos de reggae.

Histórico

Ao Estadão, Pinto Itamaraty disse que conheceu Rosimary quando iniciou seu mandato na Câmara e que, na época, ele não tinha nem ouvido falar em Bolsonaro.

Após o encerramento do mandato, Rosi passou a trabalhar no gabinete do ex-senador Roberto Rocha (PTB-MA), cujo suplente era justamente Pinto Itamaraty. Lotada na Câmara desde 2001, seu salário variou entre R$ 2 mil e R$ 6 mil, até que no governo Bolsonaro sua remuneração disparou e chegou a R$ 17,2 mil. Hoje ela ganha R$ 7,1 mil no gabinete da senadora Damares Alves (Republicanos-DF), ex-ministra de Bolsonaro.

Rosi trabalha no Congresso como comissionada há mais de duas décadas. Ela iniciou os trabalhos com o ex-deputado Osvaldo Reis. "Foi quem abriu as portas para mim na época", relatou a assistente ao Estadão.

Mas quem primeiro abriu as portas para Rosi na Câmara, na verdade, foi seu então companheiro. O pai de seu filho, Natanael Carneiro Filho, trabalhou com Reis por todo o mandato do parlamentar, de 1991 a 2015, segundo registros da Câmara analisados pelo Estadão.

Estadão
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