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Política

Análise: em vez de golpe, não se descarta instabilidade com bolsonaristas nas ruas

É assustador assistir a Bolsonaro e sua gente ameaçando Supremo, TSE, ministros e as próprias eleições. O Brasil está normalizando o que não tem nada de normal

10 mai 2022 - 03h10
(atualizado às 07h31)
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O presidente da República, Jair Bolsonaro, acompanhado do ministro da Defesa, Walter Braga Netto
O presidente da República, Jair Bolsonaro, acompanhado do ministro da Defesa, Walter Braga Netto
Foto: Gabriela Biló / Estadão

Que confusão a Defesa está fazendo! É uma trapalhada atrás da outra, uma ameaça atrás da outra, um recuo atrás do outro e a imagem que fica é que "os militares" fazem qualquer coisa para agradar ao capitão insubordinado que assumiu a Presidência e pinta e borda com eles. "Qualquer coisa" incluiria até golpe. Pode uma coisa dessas?

É assustador assistir ao presidente Jair Bolsonaro e sua gente ameaçando Supremo, TSE, ministros e as próprias eleições, assim como atacaram a saúde e a vida na pandemia. O Brasil está normalizando o que não tem nada de normal. Os presidentes de Supremo, TSE, Senado e até Câmara, enviesadamente, têm de defender a democracia todo santo dia e o foco nacional não é inflação e fome, é como e quando vai ser o golpe...

A pergunta deve ser outra: com quem? A escalada de Bolsonaro, filhos, séquito e robôs é clara, mas, se a gente olha os comandantes de Exército, Marinha e Aeronáutica e se fixa no Alto-Comando do Exército, é difícil encontrar ao menos um disposto a jogar seu nome na lama da história contra a democracia.

Em vez de golpe com militares, o que não se pode descartar é que Bolsonaro esteja criando um clima de tumulto e instabilidade com sua turba civil, que armou com revólveres e fuzis e pode entrar em ação em caso de derrota. Ele está em segundo lugar, com recorde de rejeição.

O que acontece nesse caso? "Cerca os caras, julga, condena e prende todo mundo. Acabou-se a história", responde um oficial, parte de um grupo grande de militares que é contra o PT e o ex-presidente Lula pelo petrolão e "otras cositas más", mas não louva Bolsonaro, muito menos golpes.

O problema é que, quando o general da ativa Eduardo Pazuello dizia que "um manda, outro obedece", os militares ficavam indignados com a sabujice e agora, quando é a democracia em jogo, a Defesa passa a ideia de que "um manda, todos obedecem".

Bolsonaro diz que o TSE tem uma "sala escura" para contar votos, quer uma justiça eleitoral paralela e um duto dos votos para um computador das Forças Armadas. O ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Oliveira, encampa, quer mandar no TSE, tira e põe de novo um general na comissão de transparência e usa slogan bolsonarista: "Brasil acima de tudo".

A Defesa reclama do sigilo de suas demandas sobre as urnas, mas o pedido foi da própria Defesa. Reclama que o ministro Edson Fachin não recebeu o general Paulo Sérgio, mas seria exatamente no último dia de prazo para o título de eleitor. Imaginem a agenda do presidente do TSE! Seria cômico, não fosse trágico.

Estadão
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